A expansão imobiliária no litoral, o turismo predatório e a indústria se tornaram grandes inimigos dos recifes de corais costeiros do Brasil. Os efeitos da presença humana se somam às anomalias térmicas, causa clássica do fenômeno do branqueamento dos corais.
Os recifes de corais são ecossistemas mais repletos de vida marinha. Sua formação oferece alimento, abrigo e cria grandes estruturas de trocas biológicas. O rompimento desse equilíbrio normalmente representa o início de uma sequência de danos ao meio ambiente, com reflexos também para a pesca artesanal e para o turismo, que utiliza o mergulho em recifes como opção nas viagens ao litoral.
O branqueamento dos recifes de corais no Brasil começou a ser verificado desde os anos 80 e ganhou acompanhamento sistemático a partir de 1993. Como em outros estudos, os registros periódicos associam o branqueamento à ocorrência de El Niño, em particular quando a temperatura da superfície do mar sobe e seus efeitos são notados com mais intensidade, a depender do período em que a temperatura se mantém além do normal e de quantos décimos de grau centígrados for essa elevação.
A doutora Zelinda Leão, uma das líderes do laboratório de Estudos Costeiros do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apontou que algumas espécies de corais são mais afetadas que outras. “Tanto no percentual de colônias branqueadas como no grau de branqueamento. Estes percentuais variaram dentro de um mesmo recife, em recifes localizados na mesma região ou em áreas recifais diferentes”, conta Zelinda. Como exemplo, seu trabalho cita a espécie Mussismilia braziliensis, que apresentou baixa frequência de colônias branqueadas nos recifes no Parque Nacional Marinho de Abrolhos (inferior a 3%), enquanto que nos recifes da Ilhas de Tinharé e Boipeba (no litoral Sul baiano) o percentual de colônias branqueadas desta espécie alcançou 24%. Vale dizer que Tinharé e Boipeba estão na zona costeira. Os recifes costeiros de Abrolhos estão cerca de 15km afastados da costa.
Em Pernambuco, pesquisas da professora Fernanda Duarte Amaral, coordenadora do Laboratório de Ambientes Recifais (LAR) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), apontam para o mesmo sentido, ao se comparar o branqueamento dos corais das ilhas de São Pedro e São Paulo (ao Leste de Fernando de Noronha) com o que ocorre em Porto de Galinhas, Enseada dos Corais e Tamandaré, na região costeira ao Sul do Recife. “Em São Pedro e São Paulo, os corais se recuperam logo e o branqueamento é considerado um processo cíclico natural, não chega a matá-los”, afirma.
A professora Fernanda Amaral considera que a atividade humana nas praias onde trabalhou contribuiu com o branqueamento e à morte de diferentes espécies de corais, tais como Siderastrea stellata, Favia gravida, Mussismilia spp. e Montastraea cavernosa.
Porto de Galinhas, a praia que serviu de base para a pesquisa liderada por Fernanda Amaral, é conhecida como um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil e seus recifes são destaque em qualquer folheto ou fotografia. Uma das principais programações oferecidas aos turistas em Porto é um passeio sobre os arrecifes (como os recifes são chamados, em Pernambuco) ou nas jangadas, paradas nas “pedras”.
A praia de Porto de Galinhas fica no município de Ipojuca, que integra a Região Metropolitana da capital pernambucana. Ipojuca também empresta parte do seu território para o Complexo Industrial e Portuário de Suape, onde está sendo construído o segundo estaleiro de grande porte, uma refinaria e uma petroquímica da Petrobras, além de uma nova unidade da Fiat, para citarmos apenas os maiores empreendimentos.
Outros estudos no litoral de Pernambuco, da Paraíba e do Rio Grande do Norte seguem o mesmo princípio. “O fenômeno do branqueamento é recorrente na Paraíba, principalmente com o coral Siderastrea stellata, porém potencializado pela poluição, pelo assoreamento, pelas ações humanas”, resume a professora Cristiane Costa, do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba.
O trabalho de Cristiane Costa registra casos de branqueamento todos os meses do ano, com números mais elevados durante a estação seca, quando a temperatura da água da superfície do mar é mais elevada. Agora ela estuda a causa de algumas doenças verificadas em cnidários na zona costeira dos três estados.
Características
O Brasil tem cerca de vinte espécies de corais. Destas, 17 são encontrados na região de Abrolhos – a mais rica área de recifes de coral do Atlântico Sul Ocidental. O branqueamento afeta mais as espécies comuns nos recifes costeiros, conforme estudo da professora Zelinda Leão. Destacam-se particularmente as espécies Mussimilia hispida, Siderastrea stellata, Mostastraea cavernosa e Agaricia agaricites.
Há tempos, a professora Zelinda Leão alerta: “Os ambientes recifais costeiros estão entre os ecossistemas mais ameaçados de sofrerem interferências decorrentes das pressões humanas”. Tratam-se de formações únicas no Atlântico Sul que se distribuem por uma extensão da ordem de 2 mil quilômetros. E se nada for feito e forem confirmadas as previsões de especialistas, essa exuberância tem poucas décadas de vida.
A busca pelo conhecimento e a necessidade de se proteger nosso ambiente tem gerado novo estímulo aos pesquisadores. Mais de 150 trabalhos, arquivados em formato PDF, por exemplo, estão disponíveis, no grupo Laristas (o nome é uma corruptela criada a partir do Laboratório de Ambientes Recifais, LAR, e seus freqüentadores, os laristas). Basta se associar ao Yahoo Group.
Outro trabalho didático, de fácil compreensão, é o “Gestão de corais branqueados ou severamente danificados”, de Susie Westmacott, Kristian Teleki, Sue Wells e Jordan West, traduzido por Maria João Rodrigues.
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Grupo Laritas possui mais de 150 trabalhos em formato PDF sobre recifes de corais. É necessário se associar ao Yahoo Groups e ser aceito no grupo.
http://br.dir.groups.yahoo.com/group/laristas/
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