Reportagens

Manaus: horizonte perfeito para a observação de aves

Município concentra mais da metade de espécies de aves encontradas na Amazônia brasileira, mas números de observadores ainda é pequeno.

Daniele Bragança ·
26 de março de 2014 · 11 anos atrás

Robson Czaban em ação. Foto: Divulgação/Ibama
Robson Czaban em ação. Foto: Divulgação/Ibama

Existem 504 espécies de aves catalogadas dentro do município de Manaus, mais da metade do total de 980 espécies encontradas na Amazônia brasileira. Embora o turismo local ainda não tenha percebido o potencial desta riqueza, os observadores de aves (birdwatchers, em inglês) já colocaram a capital do Amazonas nos mapas de cidade a se visitar.

Um deles é o ornitólogo Robson Czaban, analista ambiental do Ibama de Manaus, que há 34 anos observa aves. Quando ainda morava em Brasília, em 1980, ele comprou o primeiro equipamento fotográfico com condições de fazer fotos de aves. Estava equipado com uma lente 200 mm. “Em 1988 comprei meus primeiros livros, quando então passei a estudar as aves, além de simplesmente fotografá-las”, diz.

A formação de ornitólogo veio depois: “Todo ornitólogo é um observador. Uma das coisas que se estuda na ornitologia é o comportamento das aves em vida livre, o que implica em observá-las por muito tempo. Mas nem todo observador é um ornitólogo. A maioria não é. Apenas gosta de ver, ouvir e fotografar.”

Assim como aconteceu com Czaban, a maioria dos observadores de aves começa apenas fotografando, ou observando com binóculos. O segundo impulso é conseguir identificar os animais, e daí o pessoal começa a estudar, comprar livros especializados e entrar em grupos de observadores. É um hobby aparentemente simples: basta um binóculo ou câmera fotográfica equipado com uma teleobjetiva, roupas confortáveis e pronto. Mas que exige estudo e em alguns casos, investimento, para viajar a locais atrás de uma ave rara.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

Potencial turístico

O movimento dos avistadores fez com que os empresários de hotéis e comércio também começassem a prestar atenção no potencial turístico desse mercado. Só nos Estados Unidos, os observadores de aves gastaram cerca de US$ 32 bilhões de dólares em 2012, segundo informações da United States Fish & Wildlife Service (http://www.unep.org/Documents.Multilingual/Default.asp?DocumentID=2683&ArticleID=9130&l=en).

No Brasil, cerca de 200 hotéis e pousadas oferecem serviços especializados para esse público, com horários alternativos para café da manhã, almoço e jantar, já que os praticantes do hobby costumam pular da cama cedo para aproveitar o melhor horário para a exercer a atividade, que é de manhã. Além disso, guias locais treinados podem acompanhar equipes nas trilhas e embrenhar pelo mato atrás de aves mais raras.

“Se um dono de hotel ganha dinheiro com isso, ele não vai querer saber de gente detonando o meio ambiente perto dele, porque quanto mais natureza, mais pássaros, quanto mais pássaros mais fregueses. Uma forma você movimentar a economia e consequentemente preservar o meio ambiente é você descobrir que pode ganhar dinheiro com esse mercado”, afirma Czaban.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

Esse movimento ainda não se iniciou em Manaus, onde não há serviço especializado no setor turístico para atrair fregueses dispostos a pagar bem para avistar uma ave.
 
Manaus, a capital das aves

Morador de Manaus há 9 anos, Robson Czaban listou os melhores locais para se observar aves na cidade. Segundo ele, os chamados birdwatchers costumam ocupar locais como a mata do campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o Bosque da Ciência, ou os parques do Mindu e Sumaúma. Há também atividades em bairros arborizados como os arredores do Hotel Tropical, o Conjunto Acariquara, o Horto Florestal e em áreas verdes ao longo da estrada do Tarumã. Lá podem ser avistados tucanos, pica-paus, gaviões, araras, periquitos, várias espécies de pássaros, maracanãs cruzando diariamente o céu da cidade.

Um local que merece destaque é o Jardim Botânico Adolpho Ducke. Localizado no limite norte da área urbana, entre o bairro Cidade de Deus e a Reserva Ducke (http://www.oeco.org.br/reportagens/27833-um-grande-laboratorio-sob-ameaca-do-crescimento-urbano). Trata-se de uma grande área de floresta primária de terra firme, com árvores imensas e uma avifauna diversificada, que passa das 300 espécies. O local possui guias que levam o turista com segurança por suas trilhas. Uma novidade é que está em processo de construção uma torre de observação, que permitirá ao visitante o acompanhamento e registro das aves que vivem nas copas das árvores.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

O município de Manaus é uma ilha urbana cercada por áreas verdes. “Se os parques, florestas, áreas verdes e até mesmo os quintais das residências não forem pensados e preservados durante o processo de crescimento da cidade, as aves e outros animais se vão, e os habitantes e turistas não terão mais o privilégio de estar numa capital onde se pode sentir a natureza tão próxima das pessoas”, diz.

Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas

 

*Com informações da assessoria de imprensa do Ibama/AM.

 

 

Leia Também
Olhar que conserva
Um dia de ‘birdwatcher’
Olhos bem atentos na conservação
Em Bonito, projeto ensina crianças a arte de observar pássaros

 

 

 

  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

Leia também

Reportagens
7 de dezembro de 2013

Reserva Adolpho Ducke sob ameaça do crescimento urbano

Pesquisadores alertam para o risco de reserva usada para pesquisas sobre Amazônia ser isolada pelo crescimento da cidade de Manaus.

Reportagens
11 de dezembro de 2024

Garimpos ilegais de ouro podem emitir 3,5 toneladas de carbono por hectare e concentrar mercúrio no solo

Pesquisadores da USP e colaboradores analisaram amostras de áreas de mineração em quatro biomas, incluindo Amazônia

Colunas
11 de dezembro de 2024

Esperançar com Arte e Cultura: Um chamado à ação climática

Uma fotografia de uma floresta em chamas, um documentário sobre povos indígenas ou uma música que fala de destruição ambiental são mais que expressões artísticas; são convites à ação

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 3

  1. Marina diz:

    Também comecei a observar. agora que tenho uma câmera boa
    Pra tirar fotos tem várias espécies espalhadas aqui tem umas árvores aqui ao redor de casa de manhã escuro eles cantando
    Lindamente corro pra tirar fotos deles.


  2. Ramo Pacheco diz:

    A maioria destes pássaros já fotografei em Goiás e São Paulo, fiquei surpreso com a ocorrência destas aves também em Manaus.


  3. Virgínia diz:

    Tenho passarinhado no meu quintal. E recebo a visita diária de, pelos menos, seis tipos de pássaros.