Terça-feira, em Florianópolis, dezenas de pessoas se reuniram em um hotel da cidade para debater sobre a prática do surf em Unidades de Conservação. O assunto é levado muito a sério, tanto por ambientalistas quanto pelos surfistas. Para a sorte da costa catarinense, lá as duas tribos se misturam. A idéia foi de uma organização fundada por um grupo desses anfíbios, a APRENDER – uma Ong criada em 2000 por advogados que surfam e defendem a preservação dos recursos naturais e do “ desenvolvimento econômico racional”, como eles mesmos classificam. A sede fica na praia do Santinho, mas o seu campo de ação não tem limites. Este ano eles fecharam uma parceria com a Associação Catarinense de Surf Universitário e já visitaram 4 universidades. O objetivo é conscientizar os amantes do esporte que quem gosta de surfar tem que se preocupar em preservar. Afinal, boa parte dos melhores picos de onda de Santa Catarina está em áreas de proteção ambiental. Melhor ainda seria se esses surfistas universitários dedicassem um pouco do conhecimento deles à causa.
Como foi o caso dos profissionais que participaram da mesa do II Fórum de debates sobre Surf em Unidades de Conservação. Estavam lá: Rafael Costa, advogado ambientalista e presidente da APRENDER; Bira Schauffert, coordenador de marketing e instrutor do Projeto Salva-Surf Brasil; Xandi Fontes, presidente da Federação Catarinense de Surf (FECASURF) e da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de Florianópolis; Mário Pereira, geógrafo analista ambiental do Ibama e Chefe da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo; e Azor El Achkar, advogado ambientalista e presidente da Associação Catarinense de Surf Universitário. Todos surfistas.
Um dos objetivos desse encontro foi discutir a necessidade do fortalecimento das associações de surf e um maior envolvimento delas nos processos de gestão e implementação de Unidades de Conservação. O Parque Municipal da Prainha, criado no Rio de Janeiro por pressão de um grupo de surfistas, é um exemplo de que isso não é bobagem e dá certo. No evento de terça-feira, os participantes assinaram um documento que será entregue ao governo de Santa Catarina exigindo o embargo do corte de árvores exóticas no parque Florestal do Rio Vermelho, que ainda não tem plano de manejo.
Uma outra questão debatida foi como melhorar os canais de comunicação com os órgãos públicos para evitar casos como o do ano passado, quando foi realizado um campeonato mundial de Surf dentro da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca sem o consentimento do Ibama. O debate foi programado para coincidir com campeonato Onbongo Pro Surfing e atrair o maior número de esportistas possível. Acabaram aparecendo surfistas, empresários, o pessoal do Ibama, professores universitários e cidadãos interessados no assunto. Todo mundo afim de freqüentar a mesma praia.
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