A polícia brasileira tem dado demonstrações de que pretende avançar na defesa do meio ambiente. No dia 16 de novembro a Polícia Federal inaugurou, na floresta amazônica, o Centro de Integração e Aperfeiçoamento em Polícia Ambiental para treinar policiais federais e agentes do Ibama e do Incra no combate a crimes contra os recursos naturais do país. Na sexta-feira, dia 26, cerca de 400 policiais civis e militares se reuniram em São Paulo para participar do primeiro simpósio sobre a atuação da Polícia na repressão aos crimes contra a fauna.
O encontro foi fruto de uma parceria entre a Secretaria de Segurança Pública do estado e o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, para aumentar o conhecimento dos policiais sobre crimes ambientais e discutir estratégias de ação. Segundo o tenente Marcelo Robis, policial ambiental e um dos organizadores do encontro, a idéia é sensibilizar os policiais de outras áreas para que atuem na repressão aos crimes contra os animais. “Qualquer policial civil ou militar, e não apenas a Polícia Ambiental, tem o dever de agir quando se depara com este tipo de violência”, explicou.
O simpósio, que contou com a presença do Secretário Estadual de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu, foi o que se pode chamar de evento multidisciplinar. Para comprovar que bicho maltratado é caso de polícia, os convidados abordaram desde aspectos éticos, psicológicos e culturais até questões técnicas, como a perícia veterinária, e legais, como o papel do Ministério Público e os entraves na aplicação da lei de proteção à fauna. Mas o ponto alto foi a palestra do norte-americano Phil Arkow, estudioso da ligação entre a violência contra animais e a violência entre pessoas. Suas pesquisas comprovam que crianças que maltratam excessivamente os animais são serial killers em potencial.
As relações entre violência doméstica, abusos contra crianças e crueldade contra animais são objeto de vários estudos nos Estados Unidos. Membro do Projeto de Prevenção ao Abuso de Crianças e Animais daquele país, Phil Arkow entrevistou mais de cem assassinos em série e ouviu da maioria deles relatos de maus-tratos a animais na infância. Ele reconhece que crianças têm uma curiosidade natural que as leva a realizar algumas maldades com animais, por experiência. O preocupante é quando elas passam a desenvolver uma obsessão em torturar bichos ou uma fascinação pela morte. Estes são sinais de alerta para os pais procurarem a ajuda de psicólogos.
À frente da Fundação Latham, especializada em maus-tratos contra animais e acompanhamento familiar, Arkow aconselha as pessoas que desejam ter animais domésticos a refletir bastante antes de adquiri-los. Ele lembra que os animais se tornam um membro da família e vivem com ela por muitos anos. Não podem ser abandonados na hora em que as crianças enjoarem deles. O especialista também alerta aos filhos do casal que a vida de um bicho de estimação pode ser mais longa do que o casamento dos pais e, portanto, alvo de discussões.
A violência contra animais pode revelar um clima familiar hostil. Muitos casos de violência doméstica envolvem os animais de estimação. Por ocuparem um lugar afetivo na família, eles podem se tornar objeto de chantagem entre marido e mulher. Por exemplo: o homem ameaça machucar o cachorro ou gato caso a mulher ou a criança não faça o que ele quer. Os animais também são espancados em momentos de raiva. Crianças que vivem em ambientes familiares violentos podem descontar nos bichos sua insegurança e medo. Podem até responsabilizar o cachorro pela briga dos pais.
Mesmo conhecendo as dificuldades e a violência que às vezes surge na relação entre gente e animais, Arkow garante que em geral ter bicho em casa é ótimo. Na maioria das vezes as crianças e os donos dos animais têm uma relação afetiva com o bicho de estimação.
O assunto atraiu a atenção da platéia do simpósio e rendeu um debate sobre a influência da violência nas crianças e suas conseqüências na adolescência e na idade adulta. O pesquisador lembrou que no Canadá é proibido exibir cenas de animais sendo maltratados na televisão e que nos últimos anos vários estados americanos aumentaram a pena para casos de tortura de animais. Também foram criados grupos para acompanhar de perto casos de violência doméstica envolvendo animais e crianças.
O simpósio cobriu ainda temas como o tráfico de animais e as condições cruéis em que são transportados pelos caçadores. Anualmente 20 milhões de animais morrem ao serem enfiados em tubos ou outros recipientes inusitados para escaparem dos fiscais ambientais. Depois de armas e drogas, o tráfico de animais silvestres é a atividade ilegal que mais movimenta dinheiro no mundo.
O interesse demonstrado pelos policiais civis e militares ao combate de crimes contra animais deu uma sensação de missão cumprida ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, que tinha como objetivo aproximar as ONGs que atuam na área dos agentes responsáveis pela proteção legal das espécies. “Esse entrosamento com a polícia é extremamente necessário”, disse Sônia Perale Fonseca, presidente do Fórum.
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