Reportagens

Candidato à reeleição no Acre se reúne com madeireiros e promete ‘desburocratizar’ setor 

O encontro foi intermediado pelo ex-diretor-presidente do instituto ambiental. O setor saiu de três madeireiras em 2019 para 22 ativas

Fabio Pontes ·
6 de setembro de 2022 · 2 anos atrás

Enquanto o Acre registra, desde 2019, elevado crescimento em suas taxas de desmatamento da Floresta Amazônica, o governador do estado e candidato a reeleição, Gladson Cameli (PP), realiza agenda de campanha com os madeireiros para afirmar que, caso reeleito, trabalhará para desburocratizar as normas estaduais que regulamentam a atividade. 

O encontro foi intermediado pelo ex-diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente e Análises Climáticas do Acre (Imac), André Hassen, cuja atribuição é conceder licenças e fiscalizar as madeireiras em operação. 

Não é a primeira vez que Cameli se aproxima do setor. Em outubro de 2020, o governador Gladson Cameli nomeou a ex-presidente do sindicato dos madeireiros, Adelaide de Fátima Oliveira, para ocupar a diretoria-executiva do Imac, que é o segundo cargo mais importante dentro da autarquia. 

Adelaide de Fátima responde a processo na Justiça Federal por falsidade ideológica, aquisição de madeira sem a devida licença de autorização e por criar empecilhos em ações de fiscalizações ambientais. 

As denúncias foram feitas pelo Ministério Público Federal (MPF), que também expediu recomendação para o governo exonerar a ex-representante do setor madeireiro do cargo de chefia do instituto de meio ambiente por considerar que a sua nomeação representava conflitos de interesse.   

Mesmo com a recomendação do MPF, Gladson Cameli decidiu mantê-la no cargo. O afastamento só aconteceu em fevereiro de 2021, após sentença do juiz Raimundo Nonata da Costa Maia, 3o Vara Criminal de Rio Branco, determinar a exoneração justamente pelo critério de conflito de interesse. 

Em pleno período eleitoral, o próprio ex-diretor-presidente do Imac, que em tese deveria manter a isonomia de função por assinar licenças, determinar fiscalizações e eventuais punições a atividades de elevados impactos ambientais, organiza encontro político do governador candidato à reeleição com representantes do setor madeireiro. 

Conforme noticiado pelo site ac24horas, o encontro do governador intermediado por Hassen reuniu 20 madeireiros. O ex-diretor do Imac enalteceu o boom da atividade madeireira no Acre neste primeiro mandato de Cameli. 

Segundo ele, o setor saiu de três madeireiras em 2019 para 22 ativas no momento. Ainda de acordo com ele, o setor responde por uma participação de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) acreano. 

Paralelo a isso, é também desde 2019, quando Gladson Cameli assumiu a cadeira de governador, que o Acre apresenta crescimento recorde em suas taxas de desmatamento da Floresta Amazônica. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos últimos três anos o Acre tem uma área de floresta desmatada de 2.259 km2.   No triênio anterior, o desmatamento foi de 1.038 km2. Os dados do Inpe indicam que 2021 foi o pior em registro de desmatamento dos últimos 18 anos. 

Durante a reunião do dia 29 de agosto, o governador Gladson Cameli fez novas sinalizações para o setor madeireiro. O candidato à reeleição falou que não vai atrapalhar a vida dos empresários e vai reduzir a burocracia. 

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

Leia também

Notícias
15 de agosto de 2022

Bolsonarismo resiste na Amazônia, mas eleitores se dividem no voto a voto

É apenas na região Norte que Jair Bolsonaro lidera na pesquisa espontânea. Na estimulada, quando os eleitores são apresentados aos nomes dos concorrentes, Lula aparece em primeiro lugar, porém ambos empatam tecnicamente

Reportagens
8 de março de 2020

Amazonas, Acre e Rondônia querem o seu próprio Matopiba

Combinação de áreas pode dar origem a Amacro, uma região de desenvolvimento agropecuário onde ocorreu metade do desmatamento nos 3 estados em 2018

Análises
27 de setembro de 2021

A Amazônia no Acre pede socorro

A contribuição do governo do Estado do Acre para a boiada do desmatamento e das queimadas avançar no território acreano. Estado é o terceiro que mais desmatou em agosto

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.