O segundo turno das eleições para governador de Rondônia será marcado pela curiosidade de os dois candidatos ao cargo disputarem a posição de representantes do bolsonarismo. No estado, onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresenta elevada força eleitoral, a identificação com a sua imagem é essencial para se obter sucesso nas urnas. E, é justamente este o desafio do governador e candidato à reeleição, Marcos Rocha (União Brasil), e de seu adversário direto, o senador Marcos Rogério (PL).
Este duelo nada antagonista aparenta ser nada salutar para um dos estados da Amazônia Legal mais impactados pelo aumento das taxas de desmatamento e queimadas ao longo dos últimos três anos.
A elevação dos impactos se deu justamente por conta do desmonte da política ambiental promovida no plano federal por Jair Bolsonaro, como também pelos planos do governo local de fomento ao agronegócio, que passa pelo enfraquecimento da agenda estadual de meio ambiente.
Tudo isso ocorre num estado já com histórico de pouca ou nenhuma valorização da política ambiental, em que a proteção da floresta é vista como um entrave para o desenvolvimento econômico, cuja base principal é a produção agropecuária.
Incluído no chamado “arco do desmatamento”, Rondônia é um dos estados mais impactados pela política da ditadura militar (1964-1985) de ocupação da região amazônica.
A disponibilização de vastas áreas de terra para quem estivesse disposto a “colonizar” a Amazônia, teve consequências não apenas ambientais, como também sociais. A chegada dos “colonizadores” do Sul e Sudeste do país provocou a expulsão das populações tradicionais e povos indígenas, muitas vezes de forma violenta.
Dos 237 mil km2 de seu território, quase 40% já foram afetados pelo desmatamento. Conforme os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia é o terceiro estado com a maior taxa de incremento do desmatamento dentro da Amazônia Legal, atrás do Mato Grosso e Pará.
Desde 2008 já foram mais de 14,1 mil km2 de floresta derrubada. Entre 2019 e 2021 o estado apresentou aumento da área destruída: 4,5 mil km2 no período. O ano passado foi o pior desde 2008.
Mesmo diante de todo esse passivo ambiental, a adoção de políticas para a proteção da floresta não está entre as grandes preocupações na sociedade local, o que se reflete no resultado das urnas ao longo das últimas décadas.
Tanto Rogério quanto Rocha apresentam em seus discursos de campanha o fortalecimento do agronegócio e investimentos em infraestrutura para assegurar a expansão da produção agropecuária do estado.
Independente de quem saia vencedor na votação do próximo dia 30, o certo é que a política ambiental de Rondônia não passará por alterações, com vistas a não travar o “progresso do agronegócio”. O plano de governo de Marcos Rocha e Marcos Rogério são vagos nas propostas para as políticas estaduais de meio ambiente.
Duelo Bolsonarista
A política de gestão ambiental do governo Marcos Rocha está alinhada com a de Jair Bolsonaro. Desde a campanha eleitoral no primeiro turno, o discurso era de não atrapalhar a vida de quem é do campo e quer produzir.
Este é um discurso recorrente da classe política rondoniense, que sempre faz acenos ao agronegócio para não perder votos. Neste aspecto, as propostas dos candidatos não apresentam diferença. As maiores críticas se dão em políticas para segurança pública, educação e saúde.
Diferentes propostas para a regularização fundiária de invasões das unidades de conservação do estado foram apresentadas pelos candidatos. Por toda Rondônia, as áreas protegidas são vistas como um ‘atrapalho’ para o desenvolvimento econômico. A invasão de UCs conta, inclusive, com o apoio da classe política local, que promete aos invasores a apresentação de medidas na Assembleia Legislativa para legitimar a posse.
Ao todo, as áreas protegidas (o que inclui as UCs federais e estaduais, além das terras indígenas) representam 42,41% do território rondoniense. Toda essa área, lógico, é cobiçada para a expansão do agronegócio. É comum no estado a apresentação de propostas, em período eleitoral, para revogar os decretos de criação das unidades de conservação do estado.
Era o que defendia, por exemplo, o ex-governador e candidato Ivo Cassol (PP), visto como o “Bolsonaro antes do Bolsonaro” para a questão ambiental de Rondônia. Ao ser condenado por corrupção quando de sua passagem pela Prefeitura de Rolim de Moura, ele teve os direitos políticos cassados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), vendo-se obrigado a sair da disputa de 2022.
Já o atual governador colocou em prática a proposta de acabar com as unidades de conservação. O governo enviou para a Assembleia Legislativa o projeto de lei que desafeta áreas dentro da Reserva Extrativista Jaci-Paraná e do Parque Estadual do Guajará-Mirim.
O PL 80/2020 foi aprovado, em abril de 2021, sem a mínima dificuldade por um Parlamento de maioria ligada ao agronegócio. A lei foi sancionada pelo governador, porém anulada pelo Tribunal de Justiça, após recurso movido pelo Ministério Público. Ainda assim, as duas unidades ainda sofrem com as constantes invasões de suas áreas.
Mesmo detendo o controle da máquina estadual e se apresentando como o coronel que colocou “ordem na casa”, o governador Marcos Rocha não conseguiu a votação suficiente para se eleger no primeiro turno. O duelo bolsonarista em Rondônia está acirrado. Apenas 15.621 votos separam os adversários. O candidato à reeleição ficou com 38,88% dos votos válidos, enquanto Marcos Rogério obteve 37,05%.
O apelo à imagem de Bolsonaro feita pelo candidato do PL pode ser a explicação para seu crescimento. De acordo com a pesquisa Ipec/Rede Amazônica, de 30 de setembro, Rogério aparecia com 27% das intenções de voto, ante 43% de Marcos Rocha. Os números já são referentes aos votos válidos. A margem de erro é de dois pontos. A pesquisa está registrada no TRE-RO sob o número 05340/2022.
A votação de cada um deles ficou abaixo da do atual presidente em Rondônia, que recebeu 64,36% dos votos. Para se agarrar a essa força bolsonarista, os adversários trabalham à exaustão para colar suas imagens à de Bolsonaro agora no segundo turno. Nessa corrida, os dois viajaram às pressas para Brasília para garantir apoio ao presidente em seu embate com Lula, esperando, em troca, o apoio presidencial.
No entanto, para não desagradar aos dois aliados, Bolsonaro não gravou nenhuma mensagem de apoio a qualquer um dos candidatos. A estratégia de Rocha e Rogério é expor fotografias ao lado do presidente, numa tentativa de reforçar a imagem de aproximação com o bolsonarismo, o que pode assegurar mais votos entre os rondonienses.
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