A decisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de determinar o afastamento do prefeito do município de Tapurah, Carlos Capeletti (PSD), consolida o Mato Grosso, como um dos principais redutos de sobrevivência do bolsonarismo na Amazônia Legal.
O estado tem se tornado um dos principais centros para o planejamento e o financiamento de atos golpistas que contestam o resultado da eleição presidencial de 2022. Foi em Mato Grosso onde o candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL) obteve uma das maiores votações proporcionais do país: 65%.
A ordem de afastamento do prefeito suspeito de incentivar os atos antidemocráticos pós-eleições é uma das respostas dadas pelo TSE, em especial pelo ministro Moraes, aos levantes golpistas liderados por bolsonaristas inconformados com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre estes atos foram realizados o bloqueio de rodovias e acampamentos em frente aos quartéis das Forças Armadas pedindo intervenção militar.
Um dos objetivos das investigações é identificar os financiadores destes movimentos. Entre os investigados, conforme o Ministério Público de Mato Grosso, está o prefeito de Tapurah – uma das cidades com maior concentração de apoiadores de Bolsonaro. No município, o presidente obteve 77,12% dos votos válidos.
Conforme as investigações, Carlos Capeletti teria gravado vídeos convocando empresários de Tapurah para irem até Brasília para se juntarem a manifestações golpistas em frente ao Quartel-General do Exército. O prefeito afastado também é suspeito de ter gravado vídeos nos quais prometia sortear um veículo entre os pouco mais de 15 mil moradores de Tapurah, caso Bolsonaro registrasse, no município, a maior votação proporcional em Mato Grosso.
A partir das denúncias apresentadas pelo MP mato-grossense, o presidente do TSE entendeu que Carlos Capeletti pode ter praticado crimes contra a ordem democrática, determinando seu afastamento do cargo por 60 dias. O ministro também determinou o imediato aprofundamento das investigações.
A sentença de Alexandre de Moraes também alcança veículos de comunicação de Mato Grosso, suspeitos de fomentarem as manifestações golpistas. Os proprietários foram multados em R$ 100 mil.
Ameaças contra Lula
Ainda em Mato Grosso, a Polícia Federal colheu o depoimento de empresário da cidade de Sinop suspeito de fazer ameaças contra a pessoa do presidente eleito Lula. O bolsonarista Milton Baldin foi preso na terça-feira, 6, por ter feito mobilização de atiradores com registro CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) para ato contra Lula.
A manifestação seria uma resposta ao anúncio do governo de transição de revisar as medidas adotadas por Bolsonaro que facilitam o acesso de armas pela população civil, incluindo as de grosso calibre.
À PF, o empresário afirmou não ter tido intenções de fazer ameaças à integridade física de Lula. A segurança do presidente eleito é a principal preocupação para o dia da posse do petista, em primeiro de janeiro. A PF tem atuado para identificar as ameaças e prender os autores das mesmas, intimidando, assim, a atuação de outras pessoas.
Até semanas atrás, Mato Grosso continuava a registrar bloqueios de caminhoneiros bolsonaristas em rodovias federais e estaduais. O mesmo acontecia na vizinha Rondônia, outro forte reduto do bolsonarismo na Amazônia Legal.
Apesar de ter sido eleito a partir da força de Bolsonaro no estado, o governador Mauro Mendes (União Brasil) foi um dos primeiros líderes da região a reconhecer a vitória de Lula, sinalizando estar disposto ao diálogo com o petista.
O bolsonarista também se mostrou disposto a respeitar a nova política ambiental do país, a ser adotada pelo governo Lula, após quatro anos de desestruturação por Bolsonaro. Mato Grosso foi um dos estados mais impactados pela agenda anti ambiental do bolsonarismo, com aumento da devastação na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal desde 2019.
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