A chamada ceva de onças voltou com força em regiões do Pantanal. Pescadores distribuem comida ao felino e compartilham fotos e vídeos em redes sociais, comemorando encontros e estimulando o crime. Especialistas alertam que a prática ameaça animais selvagens, pescadores e turistas. Mais fiscalização e informação podem reduzir o problema.
O Pantanal é uma imensa região alagável no centro-oeste brasileiro e um dos melhores locais do planeta para se ver animais selvagens livres na natureza. É quase impossível não cruzar com jacarés, capivaras, macacos, aves e cobras desde as estradas e rios regionais. Ambientes preservados e esforços de conservação também aumentaram o número de onças-pintadas.
Enquanto isso, atrair o maior felino das Américas com carne de peixes e jacarés e até de animais domésticos virou prática comum em locais como Touro Morto, Passo do Lontra, Corumbá, Serra do Amolar e Porto Jofre, no Mato Grosso do Sul. A prática é menos frequente no vizinho Mato Grosso e também pode ocorrer em pontos da Amazônia procurados por turistas nacionais e estrangeiros.
“Não temos registros formais na Amazônia, mas não acredito que a região esteja livre da prática. Em todo lugar em que você tem pescadores, turistas e onças você pode ter a ceva. Pior mesmo é a situação no Mato Grosso do Sul”, alertou Rogério Cunha, do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Mas onças com presas, machos com parceiras de acasalamento e fêmeas com filhotes são especialmente agressivas e devem ser avistadas sempre à distância. Especialistas reunidos na publicação Conflitos entre Felinos e Humanos na América Latina também contam que a “prática não só acostuma onças a comer carne de animais domésticos, mas também as faz perder o respeito por humanos”.
“A onça não costuma atacar pessoas como leões e leopardos africanos. O normal é ela se afastar. Mas a ceva faz as onças associarem as pessoas à comida e aumenta o risco de ataques. Além disso, uma onça habituada à presença humana é mais vulnerável a caçadores do que um animal de hábitos selvagens”, completou Fernando Tortato, pesquisador da Panthera, ONG internacional dedicada à conservação de grandes felinos.
Mesmo que não sejam frequentes, ataques de onças vêm ocupando manchetes. Em 2008, um pescador de 22 anos foi alvo do felino na localidade do Pacu Gordo, em Cáceres (MT). Dois anos depois, um adolescente de 16 anos foi ferido por uma onça enquanto pescava no Rio Paraguai, na mesma cidade. Ainda em 2010, um servidor do ICMBio também foi ferido enquanto trabalhava numa área protegida no Pantanal.
Mudança de rota
Diego Viana é veterinário no Instituto do Homem Pantaneiro (IHP), entidade conservacionista que acompanha o problema da ceva de onças há mais de uma década no Pantanal. Segundo ele, o problema foi agravado pela pandemia de COVID-19, que reduziu o turismo de observação de animais e deixou rios praticamente livres para pescadores.
“O turismo de pesca ainda não tem muito noção de que a ceva é um crime federal e também nos estados pantaneiros. Também faltam mais fiscalização e mais informação para esse público sobre os impactos e perigos da ceva para os animais, empresas e pescadores”, ressaltou o especialista.
Porto Jofre é um polo turístico pantaneiro na divisa entre os estados mato grossenses. Na década passada, pilotos de lanchas foram demitidos e pousadas fechadas por usarem a ceva para atrair turistas nacionais e estrangeiros ávidos por encontros com a “pintada”. Mas episódios como esses e denúncias de cevas mudaram a cara do turismo regional.
“Operadoras e guias não sabiam que a ceva era um problema, mas com fiscalização e informação entenderam os perigos e impactos da prática e hoje até se ‘autofiscalizam’ para manter o padrão do turismo e boas práticas para observação de onças. O foco da atividade melhorou muito nos últimos 10 anos”, avaliou Fernando Tortato, da Panthera.
Sinalização e informações pela redução da ceva são compartilhadas no Pantanal por ONGs como Panthera e IHP. Ações como essas devem ser disseminadas no país a partir do ano que vem, conta Rogério Cunha, do Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio. Conforme ele, a ideia é reduzir conflitos entre pessoas e onças e reforçar o turismo como ferramenta de conservação do grande felino.
“Regular o turismo, melhorar a imagem que as pessoas têm da onça e valorizar animais e ambientes conservados é fundamental para reduzir eventuais conflitos. O problema da ceva não será eliminado só com fiscalização, mas também a partir da conscientização de turistas, pescadores e agências”, destacou o pesquisador.
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Oi alden.
Boa matéria.
Por coincidência estou em Porto jofre vendo onças.
Mas se truques de ceva.
Levantado cedo e saindo a campo com bons guias.
10 animais diferentes em 2 dias.
Muito legal.
Arno kayser
Esses sem noção estão acabando com o nosso ecossistema, nosso pantanal,nossa Amazônia ,daqui uns tempos não terá essa beleza natural, estão acabando com nossa natureza
Genial. Ensinar uma onça grande a subir em voadeiras procurando comida. Depois quando pega algum desavisado que encostou no barranco, a onça é "feroz".
A culpa é dos donos de pousadas que ficam incentivando esta prática de tratar as onças e mais IDIOTAS são os turistas que estão se acostumando com essa prática e depois vão reclamar de perderem um parente um amigo um filho um pai para as onças. ….
DEIXEM DE SEREM IDIOTAS DEIXA AS ONÇAS NO MEIO DO MATO E TOMARA QUE SEJA PROIBIDO ESSA PRÁTICA DE OBSERVAR ELAS
Much ado about nothing. Enquanto onças seguirem sendo mortas a rodo Brasil afora, ficar fazendo mimimi contra quem ganha um troquinho observando elas me parece mais uma ecochatice. Será a mesma turma que se cala estrondosamente sobre o massacre de fauna da “caça de subsistência” pelas tais “comunidades tradicionais”? Ora, que surpresa…