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Metade da meta nacional para corte de emissões está em jogo com obra do PAC. Nacionalismo é defender o meio ambiente.

Salada Verde ·
24 de março de 2010 · 15 anos atrás
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Efeito espinha de peixe marca o avanço do desmate da Amazônia a partir das estradas. imagem: GoogleEarth
Efeito espinha de peixe marca o avanço do desmate da Amazônia a partir das estradas. imagem: GoogleEarth
Apresentado às Nações Unidas no início deste ano, o plano brasileiro para corte de emissões de gases estufa pode ser comprometido por planos do próprio governo. As projeções oficiais mostram que a contenção do desmatamento na Amazônia, base do plano, reduzirá as emissões nacionais de Dióxido de Carbono (CO2) em 4,8 bilhões de toneladas até o fim da próxima década. No entanto, apenas a perda de florestas projetada frente ao asfaltamento da BR319 emitirá quantidade semelhante de poluentes até 2040. Ou seja, metade da meta nacional está comprometida com apenas uma das dezenas de obras do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento previstas para a Amazônia.

O cálculo inédito foi feito pelo Ipam – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, baseado em estudos que apontam a abertura e o asfaltamento de estradas como grandes causas da perda de matas tropicais no Brasil. Análises de entidades como Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia mostram que oito em cada dez áreas de floresta devastadas estão a menos de cinco quilômetros de estradas, e que vias ilegais somam 170 mil quilômetros. Ou seja, de cada dez quilômetros de estradas na Amazônia, sete foram abertos ilegalmente. Já o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia estima que a abertura de uma estrada alastra o desmatamento, em média, de 50 a 200 quilômetros mata adentro, em ambos os lados da via. O motivo é a facilidade do escoamento de madeira e outros itens extraídos da floresta. Exemplos claros podem ser conferidos no entorno das rodovias Transamazônica e Belém-Brasília.

A BR-319 corta uma das áreas mais ricas em diversidade biológica na Amazônia. Com quase 900 quilômetros entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM), foi aberta e asfaltada em 1973. Por falta de manutenção, hoje só é trafegável em suas extremidades. Um trecho com quatrocentos quilômetros está abandonado desde 1988, sem traços do pavimento original e com menos de 150 famílias vivendo em seu entorno. “O plano nacional para cortes de emissões é positivo, bem como o controle do desmatamento da Amazônia que se tem verificado, mas algumas políticas macroeconômicas brasileiras podem afetar negativamente essas iniciativas”, avaliou Paulo Moutinho, coordenador de pesquisas do Ipam.

Nesta quarta (24), a ministra-candidata Dilma Roussef inaugurou trecho da BR-319, ladeada pelo ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, pré-candidato do PR ao governo do Amazonas.

Questionado sobre o recrudescimento dos ataques de ruralistas contra a legislação ambiental brasileira, consolidados agora na chamada Frente Parlamentar Nacionalista, Mountinho lembrou que “nacionalismo de verdade” desempenham os grupos que prezam pela manutenção das florestas em pé, em todas as regiões do país. “Movimento nacionalista de verdade é o ambiental, que defende um bem difuso de todos os brasileiros e não os interesses de uma minoria”, disse.

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