Em um estudo que durou cinco anos, pesquisadores do Centro Ecologia e Conservação (Cornwall) da Universidade de Exeter, Inglaterra, identificaram o caminho seguido pelas tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) através do Atlântico Sul. Eles monitoraram via satélite as viagens de 25 fêmeas e puderam obter detalhes de três rotas de migração, a maior delas com 7.563 quilômetros, entre a costa da África Central e a América do Sul. A pesquisa foi publicada na edição desta quarta-feira do periódico científico Proceedings of the Royal Society B.
Os resultados vieram também com um alerta: as rotas estão ameaçadas pela atividade pesqueira. Estudos anteriores já haviam demonstrado que para cada mil anzóis colocados na água pelo menos uma tartaruga é capturada acidentalmente. “Conhecer as rotas do Atlântico também nos ajudou a identificar pelo menos 11 nações que deveriam estar envolvidas nos esforços de conservação, bem como aquelas nações com frotas de pesca de longa distância”, afirmou o Brendan Godley, da Universidade de Exeter.
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As tartarugas estudadas iniciam a migração no Gabão, África Central, onde está o maior colônia de reprodução destes animais do mundo. Um grupo segue até a área central do Atlântico Sul, outro chega ao Uruguai e o terceiro segue para o sul do continente africano. Elas permanecem nestas regiões entre 2 e 5 anos, enquanto criam reservar de energia para voltar ao Gabão e se reproduzir mais uma vez.
De acordo com Matthew Witt, também da Universidade de Exeter, o número de tartarugas que optam por cada uma destas estratégias varia de um ano para outro. “Nós não sabemos o que influencia essa escolha ainda, mas sabemos que são viagens verdadeiramente notáveis – com uma fêmea se guiando por milhares de quilômetros em linha reta através do Atlântico”, destaca.
As informações podem a ajudar a definir áreas prioritárias para a preservação das tartarugas-de-couro, como praias de desova, áreas de alimentação e no alto mar. Os cientistas esperam evitar que no Atlântico, estes bichos sofram o mesmo declínio que ocorre no Oceano Pacífico, onde a população sofreu foi reduzida vertiginosamente nas últimas três décadas. Em uma colônia de nidificação do México, por exemplo, o número de tartarugas caiu de 70.000 em 1982 para apenas 250 em 1998 e 1989. As razões deste declínio ainda não estão claras, mas os cientistas acreditam que ele possa estar relacionado à coleta de ovos e a pesca costeira com redes e espinhéis.
Cada uma ilustra um dos três estratégias identificadas pelos estudos.
A pesquisa contou com a ajuda dos Parques Nacionais do Gabão, da Sociedade para Conservação da Vida Selvagem, da Parceria de Tartaruga Marinha para o Gabão e da Iniciativa para Conservação das Tartarugas-de-couro. Os estudos contaram também com ajuda financeira de diversos doadores, como o Conselho de Pesquisa do Ambiente Natural da Inglaterra, a Iniciativa Darwin, o Centro de Investigação do Grande Pelágico (LPRC, EUA), Programa de Bolsas Competitivas e da Associação Europeia de Jardins Zoológicos.(Vandré Fonseca)
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