Reestruturação governamental com sustentabilidade. Isto é o que pede “Carta Manifesto pela Emergência Climática” com mais de 500 assinaturas de pesquisadores e entidades científicas da Botânica. O documento ressalta a indignação com a “baixa relevância” dada pelo governo Bolsonaro à temática ambiental e pede uma reestruturação do novo governo que possa colocar o país rumo à sustentabilidade, conforme definido em acordos internacionais, como o Acordo de Paris.
Motivado a partir dos resultados de pesquisas apresentadas no 72º Congresso Nacional de Botânica – evento que aconteceu entre 24 e 28 de outubro, promovido pela Sociedade Brasileira de Botânica (SBB) – , o documento tem como estopim a declaração do secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima, Simon Stiell, que disse, em outubro, que o mundo não está nem perto do prometido para conter a crise climática.
Como mostrou ((o))eco, o relatório da ONU sentenciou que as metas estabelecidas pelos 193 países signatários do Acordo de Paris são insuficientes e permitirão que muitos gases de efeito estufa ainda sejam lançados na atmosfera, podendo levar a um aquecimento de 2,5ºC até o final do século – quando 1,5°C é a meta de limitação do aquecimento do planeta. Por isso, a carta ressalta a preocupação com o investimento em políticas públicas voltadas tanto à pesquisa como à implantação de medidas de conservação ambiental e desenvolvimento científico e tecnológico do país. Isto porque, segundo a carta, estes são alvo da falta de atenção do “Poder Público atual”.
“Como signatário do Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 em relação a 2005, e com uma indicativa de que poderia reduzi-las em 43% até 2030. Parte significativa da redução de emissões do Brasil viria, na verdade, da remoção de CO2 da atmosfera através de restauração florestal. Neste sentido, o país assumiu o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de sua vegetação nativa”, diz trecho da carta manifesto.
De acordo com o documento, porém, o Brasil sequer montou um sistema de monitoramento da restauração da vegetação nativa. Esta realidade, segundo a carta, impede a avaliação de quanto falta para atingir a meta proposta. A manifestação também cita pesquisas do MapBiomas, que “sugerem que o governo brasileiro restaurou menos de 5% dos 12 milhões de hectares previstos”. “Por outro lado, o setor privado tem investido na restauração, de forma que o Brasil como um todo restaurou cerca de 12% da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC da sigla em inglês)”, diz a carta.
Para a comunidade científica que assina a carta, não é possível uma mudança real para o alcance de metas climáticas sem a participação ativa das sociedades científica e civil, mediante políticas públicas claras, objetivas e coletivas. “Portanto, para que possamos sonhar e conquistar futuros possíveis, tornamos pública nossa indignação e clamamos por uma reestruturação governamental que coloque o país no rumo da sustentabilidade definida no Acordo de Paris (2015), no Pós-2020 Marco Global da Biodiversidade (2022) e nos Cenários para o futuro da biodiversidade (Nature’s Future Scenarios).”, conclui o documento.
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