A Acadêmicos da Grande Rio, do Rio de Janeiro, trará à avenida o enredo “Nosso destino é ser onça”, inspirado no livro do escritor Alberto Mussa, que leva o mesmo nome. A escola do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, busca trazer uma reflexão sobre o que a onça representa para o cenário artístico e cultural do Brasil.
Tocando em temas como antropofagia e encantaria, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora utilizam a onça como símbolo para retratar a criação do mundo, a partir da cosmovisão dos povos Tupinambá. Como traz a sinopse do enredo, a proposta é provocar reflexões sobre o passado, o presente e o futuro do território brasileiro, a partir da figura da onça.
“Metáfora viva dos rituais antropofágicos, é a onça uma chave para que sejam pensadas as disputas identitárias brasileiras e a nossa eterna capacidade de devorar para recriar – e renascer, rebrotar, revidar, deglutir. Insurgência e potência! Mais do que o animal em si, o bicho, a ideia de “devoração”, jaguara. O ser divino, sagrado, que ergueu reinos, em nosso imaginário. Bordou de força e bravura as narrativas de matriz oral dos povos originários, as lendas costuradas em folguedos e canções, os cordéis do motor Armorial, o próprio carnaval do Rio de Janeiro, em algumas de suas melhores apresentações”, traz a sinopse do enredo, que foi composto por Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietnã e Eduardo Queiroz..
Ao G1, Gabriel Haddad lembrou também que a força da onça também é símbolo de lutas atuais da sociedade em geral,como a preservação das florestas brasileiras e contra o preconceito. “A onça ganhou uma força muito grande como símbolo de luta, como símbolo de resistência, como símbolo na luta da demarcação de terra indígena, a onça como símbolo da população LGBTQIA+. Então você fazer a diferença, ou fazer a ‘diferonça’, é a gente unir esse grupo todo e lutar contra o fim do mundo”, disse o carnavalesco.
Confira a letra do enredo:
Trovejou! Escureceu!
O velho onça! Senhor da criação
É homem fera! É brilho celeste, devora e se veste de constelação
Tudo acaba em fogaréu e depois transborda em mar
A terceira humanidade
Cuaraci vem clarear
Ê Sumé nas garras da sua ira
Enfrentou Maira
Tanto perseguiu
Seus herdeiros vivem esta guerra
Povoando a terra
O bicho mais feroz rugiu
É preta, parda, é pintada feita a mão
Sussuarana no sertão que vem e vai
Maracajá, jaguatirica ou jaguar
É jaguarana, onça grande mãe e pai
Yawalapiti, Pankaruru, Apinajé
Na voz do povo Wareté
Na flecha de tupinambá
Do tempo que pinta pedra
A fé de ser encantada
Onça loba, onça alada
Na memória popular
Kiô… kiô kiô kiô kiera
É cabocla e mão torta
Pé de boi que o chão recorta
Travestido de pantera
Kiô… kiô kiô kiô kiera
A folia em reverência
Onde a arte é resistência
Sou Caxias bicho fera
Werá werá aue naurú wera que
A aldeia Grande Rio ganha a rua
No meu destino a eternidade
Traz no manto a liberdade
Enquanto a onça não comer a lua
Leia também
Unidos de Padre Miguel levará a Amazônia para a avenida
Com o samba-enredo “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”, escola pretende falar do bioma, das suas lendas, dos povos indígenas e população ribeirinha →
Tristeza não tem fim, biodiversidade sim
O carnaval é um momento único da cultura brasileira. Tanta gente feliz, fantasiada, vivendo uma vida que não tem ou não pode ter. Será a metáfora para nossos intentos em salvar a natureza? →
18 Sambas-enredo do Meio Ambiente
Carnaval e meio ambiente têm uma longa história que, há anos, é contada nas letras de sambas-enredos. Veja aqui trechos que encantaram e encantam carnavais passados e presentes. →