O México terá uma nova presidente, a primeira mulher a governar o país. Claudia Sheinbaum, do partido de situação Movimento Regeneração Nacional (MORENA), foi projetada como vencedora pelas autoridades eleitorais do país desde a noite de votação, realizada no domingo (2). Atualmente, com cerca de 90% dos votos contabilizados, ela tem 59% dos votos, contra 27,9% da principal opositora, a direitista Xóchitl Gálvez, do Partido da Ação Nacional. Sheinbaum é física, doutora em engenharia de energia e foi integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas.
A presidente eleita iniciou sua carreira política no fim de 2000, quando assumiu o cargo de secretária de Meio Ambiente da capital do país, a Cidade do México, no governo do então prefeito Andrés Manuel López Obrador – atual presidente e principal cabo eleitoral de Sheinbaum. Após sair do cargo, em 2006, ela se juntou ao IPCC, onde participou da elaboração dos relatórios de mudanças climáticas de 2007 – que rendeu um Prêmio Nobel da Paz à organização – e de 2014.
Em 2015 ela retornou à política, sendo eleita prefeita de Tlalpan – uma subdivisão administrativa da Cidade do México –, cargo ao qual renunciou para se eleger, em 2018, como prefeita da capital. O cargo de prefeita – oficialmente chamado de chefe de governo – da Cidade do México equivale ao de governadora de estado, tendo gerência sobre todas as subdivisões da capital, que na prática funcionam como um agrupamento de cidades. A principal concorrente nessas eleições, Xóchitl Gálvez, foi prefeita de Miguel Hidalgo, uma dessas subdivisões, enquanto Sheinbaum governava toda a capital.
Eleita com discurso de continuidade, a primeira ex-cientista do IPCC a governar um país terá que romper com algumas posições de Obrador caso queira avançar numa agenda ambiental. Isso porque o atual presidente mexicano agiu, durante seus 6 anos de mandato, como um promotor dos combustíveis fósseis, demonstrando pouca preocupação ambiental – ele chegou até mesmo a tentar rebaixar as metas climáticas do país, em 2021.
Durante a campanha, Sheinbaum prometeu fazer investimentos bilionários para que a petroleira estatal PEMEX faça sua transição energética, além de firmar compromisso com a promoção de energias renováveis em seu plano de governo. Apesar disso, a proximidade com Obrador desperta dúvidas em ambientalistas, até mesmo em cientistas que trabalharam com ela no IPCC. É o caso Xochitl Cruz Núñez, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), que avaliou como “mínima” a agenda climática da nova presidente enquanto prefeita da Cidade do México, em entrevista ao Climate Change News.
Já o analista político Carlos Ramírez afirmou, ao mesmo veículo, que “Sheinbaum fala bastante sobre trazer as energias renováveis de volta ao sistema, mas ao mesmo tempo – e é aí que os problemas começam – quer dar continuidade à política energética de López Obrador”.
Apesar disso, Sheinbaum também já teve suas discordâncias com o atual presidente. Durante a pandemia da covid-19, por exemplo, a então prefeita sempre incentivou o uso máscaras, promoveu a testagem e a vacinação. Obrador, por outro lado, não usava máscara, realizava eventos públicos com aglomerações, negava a gravidade da doença e chegou a dizer que não se vacinaria enquanto toda a população não o fizesse – mas mudou de ideia meses depois.
Embora importante para conquistar votos, o legado e a influência de Obrador podem representar desafios a um verdadeiro comprometimento com a questão ambiental e climática no México. Eleger uma cientista historicamente ligada ao combate às mudanças climáticas, porém, pode ser um caminho promissor. E a agenda ambiental, inclusive, representa uma oportunidade de aproximação com o Brasil, como analisou a professora de Relações Internacionais Denilde Holzahacker, à Exame. O presidente Lula, que tem o meio ambiente como bandeira na seara internacional, já se declarou “muito feliz” pela vitória de Sheinbaum.
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