Um encontro no Hotel Meliá, em Brasília, no qual o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), está hospedado, pode ter selado o futuro do Ministério do Meio Ambiente. A senadora Simone Tebet foi vista nesta sexta-feira (23), em uma reunião com Lula no local.
O tema do encontro seria qual pasta no primeiro escalão ela poderá ocupar em 2023. O posto seria uma forma de garantir a continuidade de Tebet, e do MDB, como base para a gestão petista.
Costurando apoios para o seu mandato, Lula tem anunciado os seus ministérios aos poucos. Até quinta-feira (22), Tebet era cotada para o Ministério de Desenvolvimento Social, mas por pressão interna do PT, a pasta que comanda o Bolsa-Família e tende a ser a estrela das atenções da nova gestão, ficou com Wellington Dias.
Logo em seguida, o Ministério da Agricultura e Pecuária teria sido oferecido a Tebet, que o recusou. A pasta foi ocupada na gestão de Jair Bolsonaro (PL) por Tereza Cristina (PP), outra senadora sul-mato-grossense, e grande antagonista de Simone Tebet na cena política.
O anúncio final sobre os ministérios tende a ficar para terça-feira (27), como já foi dito à imprensa por Lula. Mas, até lá, a grande questão é: por que tirar o Ministério do Meio Ambiente de Marina Silva, a grande cotada para voltar à pasta até o momento, e entregá-lo a Tebet?
A impopularidade de Marina Silva (Rede-SP) com o setor produtivo pode estar na raiz do problema. Grande parte das manifestações que questionam a eleição de Lula são financiadas por empresários do agronegócio, como já indicou o próprio Tribunal Superior Eleitoral. Por outro lado, grande parte dos financiadores do presidente não eleito, Jair Bolsonaro, são do agronegócio.
Ter Simone Tebet, um nome ligado ao setor ruralista, na pasta pode acalmar grande parte dos ânimos. Não à toa, Tebet já confirmou ter interesse no Meio Ambiente, como noticiou O Globo, apesar da pasta estar quase sem verbas.
Caso isso se concretize, seria um caminho para a conciliação defendida por Lula em seu discurso de diplomação.
Outro ponto é que o apoio de Tebet ao petista no segundo turno teve o valor simbólico de também costurar uma reaproximação definitiva do MDB com PT, estremecida desde o Impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Tebet também é um nome que pode ajudar Lula a lidar com o bolsonarismo, que também se reflete na agenda ambiental, nos estados da Amazônia, onde desmatamento e queimadas se impõem como desafios importantes para o Ministério do Meio Ambiente.
Ao agradar a bancada ruralista, Lula também pode ganhar pontos em um futuro confronto no Congresso Nacional para retirar Arthur Lira da presidência da Câmara dos Deputados.
Como fica Marina Silva?
Após reunião com Tebet, Lula afirmou à imprensa que só irá se pronunciar sobre a decisão após falar com Marina Silva, a deputada federal pela REDE, e o nome mais cotado para o Ministério do Meio Ambiente desde o resultado das eleições, em outubro.
A assessoria de Marina Silva não confirmou se essa reunião irá ocorrer de fato.
Caso seja preterida ao cargo, Marina Silva pode ganhar mais do que perder. Primeiro porque ela volta ao Congresso Nacional, uma posição onde tem mais habilidade de atuação e pode garantir holofotes para voltar ao Senado Federal nas próximas eleições.
Segundo, porque assumir o Ministério do Meio Ambiente após anos de sucateamento, com desmatamento crescente e uma forte oposição de setores que se beneficiam da ilegalidade pode desgastar mais ainda a imagem política de Marina Silva.
E terceiro, caso recue do cargo, mas não rompa com Lula, Marina terá esse trunfo na manga para com o petista. O que poderá fortalecê-la na votação de projetos de Lei de sua autoria.
Apesar da pressão da imprensa, nada indica que Lula irá se pronunciar sobre a decisão até segunda-feira. Durante a última coletiva, na quinta-feira (22), o presidente afirmou que embarcaria nesta sexta-feira (23) para São Paulo, onde iria se reunir com a família para o Natal.
Até lá, se depender da militância digital, Simone Tebet deve ficar no cargo. Caso isso se confirme, Lula ganha pontos com o setor produtivo, apesar do Brasil perder (novamente) por deixar de alçar ao poder uma mulher negra de origem amazônica e com ampla experiência em combater o desmatamento e a ilegalidade.
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