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Visita a um garimpo ilegal em terra indígena custou R$ 163 mil no cartão corporativo de Bolsonaro

Gastança ocorreu quando ex-presidente aproveitou para visitar garimpeiros na Raposa Serra do Sol, em Roraima. Indígenas denunciaram à época que gesto estimulou invasões

Fabio Pontes ·
13 de janeiro de 2023 · 1 anos atrás
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Em visita no dia 26 de outubro de 2021 a um garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 163 mil de verba pública do cartão corporativo. A informação foi dada pelo portal Metrópoles, e faz parte da série de revelações sobre os gastos de Bolsonaro com o cartão corporativo, que deixou de ser considerado sigiloso com o fim do mandato do então-presidente. 

De acordo com o Metrópoles, numa única despesa num restaurante de Boa Vista, o ex-presidente gastou R$ 109 mil.  O portal de notícias afirma que os valores médios das marmitas no referido restaurante variam entre R$ 17 e R$ 23. Ao todo, apenas com despesas de alimentação, o cartão corporativo presidencial desembolsou R$ 113 mil. 

Oficialmente, a ida de Bolsonaro a Roraima seria para visitar as instalações de acolhida aos imigrantes venezuelanos. Os abrigos são mantidos pelo governo brasileiro e administrados pelo Exército. Aproveitando que estava pelo estado, o então presidente deu uma passadinha por uma das estruturas de garimpo clandestino montadas dentro de território indígena, que deveria ser protegido pelo governo federal contra a invasão de garimpeiros. 

O garimpo está localizado no município de Uiramutã. Na visita, Bolsonaro reforçou sua defesa da legalização da atividade garimpeira dentro de terras indígenas. Seu governo é o autor do projeto de lei (PL 191) que regulamenta a extração minerária dentro destes territórios. Essa iniciativa, mais os discursos pró-garimpo constantemente feitos por Bolsonaro, foram o gatilho para a invasão das TIs em toda a Amazônia pelos garimpeiros. 

Reduto do bolsonarismo, Roraima é onde o garimpo mais tem avançado sobre as terras dos povos indígenas. Além da Raposa Serra do Sol, a Yanomami é outra bastante afetada. A estimativa é que ao menos 20 mil pessoas vivam direta ou indiretamente da garimpagem na TI Yanomami. 

À época, a visita presidencial ao acampamento garimpeiro foi criticada pelas lideranças e organizações indígenas de Roraima. A deputada federal Joênia Wapichana também criticou o fato de a ida de Bolsonaro ter ocorrido, como de costume, sem o respeito às regras sanitárias de enfrentamento à Covid-19, colocando em  risco a saúde dos moradores do território. 

Informações públicas

A informação da divulgação dos dados do cartão corporativo do ex-presidente foi publicada, inicialmente, pela “Fiquem Sabendo”, agência de dados públicos especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI). O acesso aos dados foi possível porque a Secretaria-Geral da Presidência da República fez uma revisão da classificação das informações de gastos no cartão corporativo e tornou públicos alguns gastos de Bolsonaro nesta quinta-feira (12). 

A reportagem de ((o))eco tentou entrar em contato com a assessoria do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas esta não retornou. O espaço segue em aberto. 

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

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Comentários 1

  1. MATHEUS RADDI diz:

    #BolsonaroGenocida
    O ex-presidente já era genocida ANTES MESMO da Pandemia… Sua política incentivava a violência contra os povos indígenas e todas as minorias brasileiras