Notícias

Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica

A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica

Duda Menegassi ·
24 de abril de 2024

A jiboia é talvez uma das cobras mais conhecidas do Brasil. Relativamente comum e fácil de avistar em alguns lugares, seu corpanzil forte, feito para dar um abraço “mortal” em suas presas, torna ela um animal emblemático da fauna brasileira. A ciência acaba de descobrir, entretanto, que há muito mais sobre as jiboias do que se imaginava. Através de análises moleculares e anatômicas com mais de mil exemplares de jiboias, uma equipe de pesquisadores revelou uma nova espécie de jiboia na Mata Atlântica.

A jiboia-atlântica (Boa atlantica) concentra sua distribuição ao longo da Mata Atlântica, entre os estados do Rio de Janeiro, no limite sul, e Rio Grande do Norte, ao norte. Até então, o animal era considerado como parte de outra espécie, a jiboia-comum, sob nome científico de Boa constrictor, com ampla distribuição no Brasil. 

“É um animal bastante comum e bem conhecido pela população e pelos cientistas desde o século XVII. No entanto, até agora ela tinha passado despercebida e a ciência ignorava que ela era diferente das outras jiboias”, pontua o pesquisador Rodrigo Castellari, curador da coleção de herpetologia do História Natural do Ceará Prof. Dias da Rocha, da Universidade Estadual do Ceará.

Rodrigo é um dos quatro autores do artigo, publicado na última quarta-feira (17), com acesso aberto, na revista científica Plos One. Junto com ele estão pesquisadores do Instituto Butantan e do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para chegar a esta conclusão, os cientistas analisaram e compararam mais de mil exemplares de jiboias armazenados em coleções de mais de 50 museus. “Foram dois anos vendo exemplares em coleções de museus. Revisamos todas as subespécies e espécies do gênero e fomos comparando”, descreve Rodrigo, que alternou visitas aos museus com exemplares recebidos pelo correio – o que foi um desafio à parte, já que as jiboias são animais enormes que pesam mais de 2 quilos.

O trabalho, porém, foi recompensado. Tanto do ponto de vista molecular, que comprovou que havia diferenças genéticas o suficiente que justificariam a classificação de uma nova espécie; quanto do ponto de vista morfológico, que diz respeito às diferenças físicas entre os animais. A maior diferença visual, explica o pesquisador, está na coloração. Enquanto a jiboia-comum possui manchas vermelho sangue na cauda, na jiboia-atlântica essas manchas são de tonalidade marrom escuro ou até vermelho escuro. “É uma tonalidade bem diferente”, destaca.

O reconhecimento da jiboia-atlântica como uma espécie própria é uma peça importante não apenas no quebra-cabeça científico, mas também para desenvolver políticas de conservação adequadas. “Um aspecto é o científico, pois ajuda a resolver a taxonomia do grupo e as relações e linhagens dentro dele. Outro aspecto é a conservação. Ainda mais quando se trata de uma espécie da Mata Atlântica, que é um bioma ameaçado”, explica Rodrigo.

Por sua ampla distribuição, a jiboia-comum é considerada Pouco Preocupante em relação ao risco de extinção. O próximo passo é fazer uma avaliação específica da jiboia-atlântica, dentro dos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) para entender a situação de risco de extinção da nova espécie. 

Por ter a maior parte da sua distribuição na Mata Atlântica – com exceção de alguns poucos registros na Caatinga – a jiboia-atlântica engrossa a lista de espécies que dependem do bioma, historicamente o mais desmatado do Brasil, para sua sobrevivência no longo prazo.

“A Mata Atlântica é um bioma importante e ameaçado que abriga inúmeras espécies, entre elas agora a Boa atlantica”, resume Rodrigo, que escolheu o nome “jiboia-atlântica” justamente para valorizar o lar da cobra recém-descrita.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Notícias
10 de maio de 2023

Jiboia de 2,3 metros é resgatada em zona urbana de Ubatuba, litoral paulista

Suspeita é que animal era mantido ilegalmente como pet e tenha escapado, já que sua população não ocorre na área em que foi encontrada

Notícias
20 de janeiro de 2022

Espécie de jararaca descoberta na Caatinga revela história evolutiva até então desconhecida

A descoberta da espécie B. jabrensis trouxe também uma revelação surpreendente: uma nova linhagem evolutiva, até então desconhecida pela ciência, dentro do gênero jararacas

Notícias
30 de agosto de 2020

Pesquisadores fazem registro raro e descobrem nova espécie de cobra da Mata Atlântica

Batizada pelos biólogos de Dipsas bothropoides pela sua semelhança com uma jararaca, a serpente recém-descoberta já é considerada criticamente ameaçada

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 3

  1. Orlando Lisboa de Almeida diz:

    Saiu na matéria que elas pesam mais de 2 kg. Não seria 20 kg?


  2. Grazy diz:

    Sou de Rondônia e vi uma jibóia da mesma na RO 133 na beira da estrada. Paramos o carro, filmamos e retiramos ela da estrada. Até então não sabia que, igual nos filmes, as jibóias faziam barulho. Fiquei encantada, ela é linda.


  3. Simone Lúcia Puntel diz:

    Sp
    ´espero que não tenha, matado com desculpa de ser para ciências!!! Affff