As três araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) que foram apreendidas em maio passado no Aeroporto Internacional Hazrat Shahjalal, em Daca, capital de Bangladesh, faleceram.
A informação é de Imran Ahmed, responsável por Conservação Florestal no Ministério do Meio Ambiente, Florestas e Mudanças Climáticas do país, situado no sul da Ásia.
“Lamento informá-lo de que as araras já estão mortas”, disse a ((o))eco. Ahmed também chefia o Bangabandhu Sheikh Mujib Safari Park, onde as aves estavam em quarentena.
Em fevereiro deste ano, funcionários da instituição foram afastados de suas funções após a morte de ao menos 11 zebras, uma leoa e um tigre, informou a mídia bengalesa.
As araras brasileiras passaram pela Bélgica antes da apreensão em Daca, que teria sido a primeira com espécies brasileiras naquele país, diz Ahmed. “Uma investigação mais aprofundada está em andamento”, assegura.
Na apreensão, as de-lear estavam num lote de 69 animais importados sem licença, incluindo aves australianas e espécies não brasileiras de tucanos e de periquitos. O importador foi multado e teve a licença suspensa por 1 ano.
O representante do governo bengalês não comentou a ((o))eco sobre a possível causa dos óbitos e nem quando as araras brasileiras morreram.
“Seria estratégico repatriar as carcaças para fins científicos, como análises forenses e identificação das causas dos óbitos”, destaca Juliana Ferreira, diretora-geral da ong Freeland Brasil. A tarefa pode ser complexa.
Ahmed conta que a representação da Cites (Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção) no país não recebeu “nenhum e-mail da autoridade brasileira sobre a repatriação após a apreensão”, em maio.
Documentos repassados pelo Ibama mostram que a autarquia tentou contato com autoridades de Bangladesh em 14 de junho e em 2 de agosto, nessa data por meio do Ministério das Relações Exteriores. Não houve retorno.
“É preciso melhorar a comunicação entre autoridades nacionais da Convenção para que os eventuais esforços do poder público brasileiro não sejam desperdiçados”, pondera Juliana Ferreira.
“Construir e implantar uma estratégia nacional de combate ao tráfico de vida selvagem ajudará a melhorar o manejo de casos no Brasil e no exterior”, agrega a doutora em Biologia pela Universidade de São Paulo (USP).
A Cites regula o comércio internacional de animais e plantas mesmo em risco de desaparecimento. Negócios com araras-de-lear são vetadas devido a seu alto risco de extinção. A espécie vive apenas na Caatinga do interior da Bahia.
O Ibama responde pela fiscalização federal de crimes ambientais e pelas licenças da Cites no Brasil para importações e exportações de espécies.
Já as 29 araras-de-lear e os 7 micos-leões-dourados apreendidos em julho, no Suriname, chegam amanhã (23) ao Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Todos passarão por testes sanitários e de saúde.
Conforme divulgado pelo governo federal, os micos e as araras permanecerão em quarentena respectivamente no zoológico municipal de Guarulhos e em Cananéia (SP). Sua readaptação à natureza é incerta.
*Colaborou o jornalista Mainul Islam Khan.
**A reportagem foi alterada às 16h de 23 de agosto de 2023 para acomodar informações repassadas pelo Ibama após sua publicação.
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