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Áreas de risco geológico crescem em Manaus e expõem 112 mil moradores a desastres naturais

Atualização do mapeamento identifica crescimento populacional em setores vulneráveis e aponta bairros prioritários para ações de prevenção e planejamento urbano

Karina Pinheiro ·
27 de agosto de 2025

O Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgou nesta quarta-feira (27) os resultados da atualização do mapeamento de áreas de risco geológico em Manaus, indicando que cerca de 112 mil pessoas vivem em 438 setores classificados como de risco alto (R3) e muito alto (R4) para deslizamentos, inundações, alagamentos, enxurradas e erosões. A apresentação oficial ocorreu na sede da Superintendência Regional de Manaus, pelo pesquisador em geociências Elton Andretta, e reuniu autoridades municipais, estaduais e federais ligadas à defesa civil e ao planejamento urbano.

A comparação com o levantamento de 2019 evidencia um aumento significativo da população e de domicílios expostos. Naquele ano, 73 mil pessoas estavam em setores de risco, distribuídas em 634 áreas. Em 2025, o número de pessoas saltou para aproximadamente 112 mil, com mais de 28 mil domicílios, mesmo havendo redução no número total de setores mapeados. Mudanças metodológicas, como o uso de drones, imagens de satélite de alta resolução e dados do Censo 2022, além do agrupamento de setores contíguos, explicam parte dessa diferença e ampliam a percepção da extensão territorial das áreas de risco.

O mapeamento detalha que todas as seis zonas administrativas de Manaus apresentam áreas de risco, com destaque para as zonas Leste e Norte, que concentram o maior número de setores e domicílios vulneráveis. Na Zona Leste estão 130 setores e 11.798 domicílios em risco, enquanto a Zona Norte possui 198 setores e 9.025 domicílios. Bairros como Jorge Teixeira, Cidade Nova, Gilberto Mestrinho, Alvorada, Mauazinho e Nova Cidade somam mais de 13 mil domicílios e aproximadamente 52 mil pessoas em situação de vulnerabilidade.

Entre os tipos de processos de risco identificados, o estudo aponta movimentos de massa, como deslizamentos e erosões em encostas íngremes; processos hidrológicos, como alagamentos e inundações próximos a igarapés; e processos erosivos acelerados pela ocupação irregular, escoamento de águas pluviais e falta de infraestrutura de drenagem. O período chuvoso, principalmente entre janeiro e abril, é fator agravante, com dados da Defesa Civil registrando mais de 1.200 ocorrências nos últimos quatro anos, concentradas nos meses de maior precipitação.

O relatório apresenta recomendações para reduzir impactos e prevenir desastres, incluindo a criação de um plano municipal de redução de riscos integrado ao planejamento urbano, reassentamento temporário de famílias em áreas críticas, obras de drenagem e contenção, implantação de sistemas de alerta e educação ambiental em comunidades e escolas. Também destaca a necessidade de fiscalização rigorosa de loteamentos e construções em áreas impróprias.

Segundo o Censo 2022, Manaus possui mais de 2 milhões de habitantes, sendo 54% moradores de favelas e comunidades urbanas precárias, e apenas 38% com acesso à rede de esgoto. O relatório ressalta que, sem políticas habitacionais efetivas e medidas estruturais, a vulnerabilidade tende a se manter ou aumentar, reforçando a importância de atualizações periódicas do mapeamento devido à dinâmica de crescimento urbano e às mudanças climáticas.

O documento entregue ao município deve subsidiar a formulação de políticas públicas de prevenção, mitigação e resposta a desastres, com estudos técnicos complementares recomendados especialmente para as áreas de risco muito alto (R4). O estudo foi entregue à Prefeitura de Manaus e à Defesa Civil Municipal e será apresentado oficialmente em evento na Superintendência Regional da cidade.

  • Karina Pinheiro

    Jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), possui interesse na área científica e ambiental, com experiência na área há mais de 2 anos.

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