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Bat gate: Pesquisadores iniciam testes de portão para conservação de morcegos

A estrutura inédita no país foi instalada na Gruta das Fadas, em Bodoquena (MS). Iniciativa é inspirada em modelos já presentes em parques na Europa e América do Norte

Vinicius Nunes ·
14 de novembro de 2025

Pesquisadores deram início aos testes do primeiro “bat gate” do Brasil. O portão, instalado na Gruta das Fadas, no município de Bodoquena, sudoeste do Mato Grosso do Sul, tem como objetivo  regular ou impedir a entrada de humanos em cavernas, ao mesmo tempo em que é capaz de garantir a livre circulação de morcegos. A estrutura já é comum em parques na Europa e na América do Norte. 

A iniciativa integra o Plano de Ação Nacional (PAN) Cavernas do Brasil, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (CECAV/ICMBio).

Ainda em fase de testes, os pesquisadores buscam entender se e como a instalação do portão pode afetar o comportamento de diferentes espécies de morcegos, e avaliar se ela pode ser uma estratégia de conservação replicável em outras cavernas brasileiras.

Para testar a eficácia da estrutura, pesquisadores instalaram uma versão preliminar em madeira, ainda não fixada completamente na rocha, mas que simula como seria o portão real, em metal, mas que pode ser facilmente retirada se necessário.

Estrutura provisória de madeira para fase piloto do bat gate. Foto: Jennifer Barros

Palco do projeto piloto, a Gruta das Fadas abriga uma importante colônia de morcegos da espécie Natalus macrourus, endêmica da América do Sul e classificada nacionalmente como Vulnerável à extinção (Salve/ICMBio). As principais ameaças para a espécie incluem a mineração, turismo predatório e vandalismo em cavernas. Estes morcegos requerem cavidades com características bastante específicas, o que limita sua distribuição e aumenta sua vulnerabilidade. 

A Gruta das Fadas possui mais de um quilômetro de extensão e possui um rio subterrâneo ativo. Aléxia Murgi, pesquisadora colaboradora do projeto, explica que o portão garante não somente a segurança dos morcegos, como também dos humanos. Isso porque os níveis de gás carbônico (CO2) no interior da caverna são elevados, e apresentam riscos à saúde humana.

“Era grande a expectativa em visualizar como os morcegos reagiriam ao portão na primeira noite. No início, observamos que ficaram confusos com a presença das barras, mas depois que os primeiros indivíduos saíram, a colônia acompanhou o ritmo, e hoje já podemos notar que Natalus macrourus está apresentando uma facilidade de adaptação ao portão, algo que nos deixou muito empolgados”, completa a pesquisadora.

O bat gate é monitorado com filmagens bimensais para contagem da colônia de morcegos e avaliação do comportamento dos animais para entrada e saída da caverna, para identificar possíveis dificuldades e adaptações em decorrência do portão.

  • Vinicius Nunes

    Cientista Social pela FGV/CPDOC e estudante de Jornalismo na ESPM-Rio. Entusiasta da pauta ambiental, política e esportes.

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