Outro dia, ao fazer compras num supermercado, a repórter Andreia Fanzeres se deparou com um vaso de plantas que se dizia feito de um material chamado ecoxaxim. Consciente de que o xaxim natural normalmente utilizado nesses objetos vem de uma espécie da Mata Atlântica ameaçada de extinção, Andreia ficou cismada. Afinal, o que é esse ecoxaxim? Trouxe a pergunta para O Eco, que, então, saiu atrás das respostas.
O xaxim nada mais é do que um pedaço de tronco do samambaiaçu – uma planta da família das samambaias gigantes, arbóreas. É popularmente usado no cultivo de orquídeas, por conta da alta capilaridade, que permite a manutenção de umidade. A retirada indiscriminada por extrativismo acabou levando o vegetal à lista oficial de espécies em risco de extinção no início da década de 1990. A partir daí, o comércio do vaso se tornou proibido em todo o Brasil.
O samambaiaçu ocorre em todos os estados do Sul e do Sudeste do país, sendo mais comum nas florestas com araucárias de Santa Catarina e do Paraná – áreas ameaçadíssimas de desaparecer. É justamente dali que a planta é mais retirada, e onde o estrago causado pela extração já é maior. Segundo o pesquisador Jefferson Prado, do Instituto de Botânica de São Paulo, apesar da proibição, a extração e a venda continuam acontecendo ilegalmente, o que põem em perigo o futuro da espécie. Como o samambaiaçu demora cerca de 50 anos para chegar à época ideal de corte, a exploração sustentável do xaxim natural é considerada economicamente inviável. “Quanto mais se tira, mais tempo a natureza demora para repor”, diz o botânico.
Alternativas
Como alternativa ao uso do xaxim natural, algumas empresas apostam nas fibras da casca do coco para a produção dos vasos. Mas Prado desaconselha. “Essas fibras não substituem perfeitamente o xaxim. Nesses vasos, as plantas crescem menos do que o normal, além da durabilidade dos recipientes ser menor”, alerta. Outras maneiras de substituição do xaxim são feitas com casca de pinus. Mas os resultados mais promissores têm sido conquistados por uma pequena iniciativa do interior de São Paulo, num projeto que aponta para uma solução que protege o samambaiaçu, dá fim a um resíduo das usinas de cana e, de quebra, cumpre um papel social.
Adolescentes infratores em recuperação e ex-dependentes químicos de Araraquara produzem o ecoxaxim – o mesmo encontrado no supermercado, na região metropolitana do Rio. Eles participam de um projeto que nasceu no ano 2000 pelas mãos do técnico agrícola Mário Antônio Perriceli, que pensou em fazer os vasos com bagaço de cana-de-açúcar das usinas da região. Os seis artesãos produzem 12 mil peças por mês, que são vendidas por todo o país. “O objetivo do projeto NAVE (Núcleo de Apoio à Vida e à Ecologia) era ajudar o semelhante, quem não tem oportunidades. Não era ser ecológico”, conta ele. Mas hoje, os benefícios ambientais de sua idéia são inegáveis.
Nessa época, as fibras de coco já não eram novidade no mercado. Mas ele não apostou nelas, porque a maioria dos xaxins produzidos com esse material utiliza adesivos plásticos necessários para dar a liga ao material. Só que eles poluem o solo, uma vez que sua decomposição é lenta. Ao observar esse problema, Perriceli desenvolveu um adesivo atóxico, que se desintegra rapidamente na terra e dá durabilidade de dois a três anos ao vaso.
Além do ecoxaxim produzido em Araraquara, o consumidor que quer cultivar orquídeas sem agredir o meio ambiente pode experimentar os vasos de fibra de coco do projeto Coco Verde. Felipe Mayer, gerente de produtos trabalha com esse material, garante que o xaxim é perfeitamente substituído pelos seus vasos. Segundo ele, o Coco Verde é o único que, como Perriceli, os produz sem o aditivo de látex ou produtos tóxicos.
Esses vasos podem ser encontrados em supermercados no Brasil inteiro, com preços que variam de 50 centavos (o vasinho mais simples) a 100 reais. Também como o ecoxaxim, o Coco Verde reaproveita um resíduo que normalmente vai para o lixo: a casca da fruta. “Um copo de água de coco gera mais de um quilo de lixo”, diz Mayer. Agora, em vez de levar os cocos furados para o aterro sanitário, eles são aproveitados pela iniciativa de que participa Mayer.
A concorrência com o xaxim tem sido dura para o projeto. Mayer acredita que o comércio ilegal da planta ainda domine 80% do mercado. Ele diz que é fácil encontrá-lo em pet shops, hortos e centros de abastecimento, como a Cadeg (Central de Abastecimento do Estado da Guanabara), no Rio. Explica que a maior parte da mercadoria vendida aqui vem de Santa Catarina, mas que no Rio também atuam três distribuidores mineiros. “Não há fiscalização”, diz ele. Cabe à consciência do consumidor decidir o que levar.
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