Trabalhos encerrados no Criosfera 1. A partir do meio-dia, iniciou-se a correria para desmontar barracas e fechar o módulo para o inverno antártico. Como temos que trabalhar contra o vento, muitos dos nossos dedos e rostos ficaram dormentes. As 16h30m nosso avião DC-3 Bassler aterrissou na pista de pouso improvisada na neve. Nosso desafio imediato: colocar 2 toneladas de carga (incluindo 600 kg de amostra de gelo), uma moto de neve, bagagem pessoal e 10 passageiros para dentro. Apertados, entre caixas e trenós, decolamos as 17h30min para nossa viagem de 470 km.
Agora o módulo Criosfera 1 funcionará totalmente automatizado, até o final do ano. Será que os diferentes sensores sobreviverão ao longo inverno polar, sem luz a partir de meados de abril? Estima-se que as temperatura do ar caia a -60°C no meio do inverno.
17 de janeiro – Geleira Union (79°46’S, 82°50’W; -6°C)
19h – Após 27 dias acampados e sob muito frio (a temperatura oscilou entre -9°C e -20°C; e a sensação térmica caiu a -42°C) chegar no acampamento base na geleira Union nos traz uma sensação de calor, pois estava -6°C e sem vento.
Somos recebidos com espumante para comemorar o sucesso da missão. Mas também comemoramos o centenário da chegada da expedição britânica liderada pelo Capitão Robert F. Scott ao Polo Sul Geográfico. Após atravessarem toda plataforma de gelo Ross, subirem as montanhas Transantárticas e caminharem até o Polo Sul, Scott, Dr. Wilson (seu chefe científico), Capitão Oates, Tenente Bowers e o Sargento Evans, tiveram o dissabor de encontrar as bandeirolas e uma barraca de Amundsen (que tinha chegado lá no mês anterior, 14 de dezembro). A viagem de retorno resultaria na tragédia polar clássica, numa luta contra a situação meteorológica adversa, fome e exaustão, e finalmente a morte de todos os cinco companheiros.
Se a tentativa de Scott em chegar ao Polo acabou em tragédia, o mesmo não pode ser dito da parte científica da expedição. Alguns dos pioneiros da ciência polar, inclusive o primeiro professor titular de Geografia da Universidade de Cambridge, ficaram na costa da Antártica realizando uma série de investigações sobre o clima, geologia e biologia.
Teremos 24 horas para preparar nossa carga e, se as condições meteorológicas permitirem, partir para Punta Arenas amanhã.
Um pouco de ciência – Pesquisas no acampamento base da geleira Union 1
18 de dezembro – Geleira Union (79°46’S, 82°50’W; -6°C)
Nossa chegada ao Brasil está prevista para segunda-feira (23 de janeiro). Voltamos todos no mesmo voo, com exceção de dois colegas (Saulo Martins e Guilherme Fernandez) que ficaram na geleira Union completando um levantamento de fendas no gelo perto da pista de pouso (para melhorar a segurança dos pesquisadores e montanhistas que vão à região). Eles chegam a Punta Arenas nos próximos três dias.
Exaustos, só tivemos condições de tomar um banho (o primeiro depois de 30 dias) e jantar. Amanhã devo enviar um breve relato das principais realizações da Expedição Criosfera.
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