A coluna desta semana atrasou, mas não foi em função do cansaço após ter participado e completado a Maratona do Rio no último dia 26 de junho. Realmente, passei uma semana tão atarefada que não pude fazer uma das coisas que mais me motivam ultimamente, que é escrever para este O Eco. Enfim, peço desculpas àqueles poucos que me honram com a leitura. O “síndico” Tim Maia estava coberto de razão quando afirmava que “do Leme ao Pontal, não há nada igual”. E não há mesmo. Pude comprovar isto mais uma vez ao participar da “minha” segunda Maratona do Rio. A largada foi no Pontal do Recreio dos Bandeirantes que, apropriadamente, foi rebatizado para “Pontal Tim Maia”. De lá, a corrida segue por 42.193 metros de puro litoral e de um “visual” inacreditável.
Logo no início da corrida, passamos pela Reserva, APA do Parque Municipal Ecológico de Marapendi, que é uma área que abriga uma importante parcela remanescente de restinga que foi preservada pela Prefeitura. Isto foi conseqüência de uma medida cautelar de produção antecipada de prova, que tive a oportunidade de propor como Procurador da República no longínquo 1991. Como todos sabem, logo em seguida iria ocorrer a Rio 92 e a cidade vestia roupa de missa. A Prefeitura deu início ao Projeto Rio Orla, que tinha como objetivo praticar uma importante intervenção urbanística no litoral. O projeto era bem concebido, mas como toda atividade humana, tinha os seus senões. Um deles era na área onde hoje se localiza a Reserva. A Prefeitura compreendeu as razões apresentadas pelo Ministério Público, criando a área protegida. A Reserva, com toda a sua beleza, não impediu que uma velha contusão na panturrilha direita reaparecesse. Ali era apenas o 2º Km, ainda tinha muito chão pela frente. A corrida pela praia da Barra foi tranqüila, pois é um retão com quase 18 km.Vendo as construções que lá estão, nós entendemos o valor da reserva. Entretanto, a Barra, em comparação com a orla de Copacabana, é um paraíso. Dobramos para pegar o túnel Zuzu Angel, que tem uma subidinha danada, porém disfarçada. O elevado é uma bela obra de engenharia que serpenteia o morro e nos oferece uma vista deslumbrante do mar batendo nas Pedras. O nome Zuzu Angel foi dado ao túnel pois foi ali que um imbecil assassinou a figurinista, simulando um acidente de carro.
Saindo do Túnel do Joá, ou Zuzu Angel, entrei na contradição de São Conrado, Prefeito Mendes de Morais e Rocinha, duas faces de uma mesma moeda que está pronta a se transformar de metal em nitroglicerina. É um percurso pequeno, com não mais do que dois ou três quilômetros que começam com o sensacional “aeroporto de Asa Delta” que, do alto da Pedra Bonita, vem beijar o mar. Bem, aqui já estamos falando de cerca de 23 km, uma meia maratona já ficou para trás. Muita gente que veio “tirar onda” na corrida, foi discretamente abandonando. Lentamente, começamos a subir a Avenida Niemeyer, local no qual se realizava o antigo Circuito da Gávea. Uma sensacional corrida de “baratinhas” da primeira metade do século XX. São cerca de 4 km de uma subida “braba”. Se em São Conrado passamos pela Rocinha, agora é o Vidigal que está à frente. Felizmente, a rapaziada deu uma trégua e a corrida passou numa boa. Muitas crianças estavam dando apoio aos corredores. É uma força que só quem já correu uma maratona sabe o que significa.
Depois de subir durante um tempão, começamos a descer e aí é que os joelhos começam realmente a doer. Logo, logo vem a praia do Leblon. A primeira referência amiga é a barraca do Jorge, tradicional reduto rubro-negro. Lá estava o Flavio Brito para dar uma força – valeu. Passamos o Jardim de Alah, que fica às margens do canal que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar e que, volta e meia, é motivo de polêmicas ambientais, as mais renhidas. Em Ipanema, chegamos ao km 30 e agora é acreditar. Arpoador, Posto 6. Ali vários trios elétricos aguardavam para o início da Parada Gay. O km 35 ficava na esquina da Atlântica com a Princesa Isabel. Mais dois túneis e o Aterro do Flamengo. Faltava pouco. Na entrada do Túnel do Pasmado, havia um anônimo tocando Carruagens de fogo em um clarinete. Foi uma força enorme, pois ali já estávamos no Km 37. O aterro é o maior suplício. Parece que não acaba nunca. Mas acabou, nos metros finais é uma questão de acreditar. Quando cruzei a linha de chegada, lá estavam Gabriela e Carina. Foi demais. Realmente, do Pontal ao Aterro, não há nada igual.
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