Em abril passado, sumiram do estado do Mato Grosso 65 quilômetros quadrados de floresta amazônica. Todo o desmatamento ocorreu em propriedades rurais, 57% das quais não estão cadastradas no sistema de licenciamento do estado – o corte é considerado ilegal. Oito dos dez municípios que mais desmataram estão no entorno do Parque Nacional do Xingu, inclusive o campeão, União do Sul, com 15 quilômetros quadrados derrubados. Esses números são apenas uma minúscula amostra do que está disponível a partir desta terça-feira na internet com a estréia do Imazongeo, um sistema desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia (Imazon). A ferramenta possibilita o acesso a taxas de desmatamento e queimadas na Amazônia, com a grande vantagem de que eles já chegam ao usuário final com uma certa dose de interpretação.
“A idéia era ir dos dados para a informação”, diz o coordenador do projeto, o pesquisador do Imazon Carlos Souza. Trata-se de um Sistema de Informações Geográficas (SIG), como o que está disponível pelo Inpe no site do Prodes (o projeto de monitoramento da floresta que gera a taxa de desmatamento anual da Amzônia), com a diferença de que aqui os dados são processados pelo próprio sistema.
A intenção do projeto é facilitar a vida de quem corre atrás de informações sobre a Amazônia, como os órgãos federais e estaduais que trabalham no controle do desmatamento, a imprensa, e quem mais estiver interessado. Houve preocupação em criar um site o mais amigável possível, oferecendo a diversos tipos de usuário informações geográficas da região. Os quatro técnicos do Imazon que participaram da sua arquitetura levaram em conta as perguntas mais freqüentes que são feitas por quem procura o instituto atrás da interpretação dos especialistas para os dados. “Chove telefonemas na época da divulgação da taxa de desmatamento anual [normalmente, no início do segundo semestre]”, diz o pesquisador. A idéia é deixar tudo disponível automaticamente.
O sistema demorou três anos para ficar pronto, desde a idéia inicial. Ele permite visualizar dados dos projetos de monitoramento do Inpe (Deter e Prodes), destrinchando rankings de desmatamento nos municípios, assentamentos, unidades de conservação e terras indígenas. Basta clicar no item “Desmatamentos” do site. Mas o filé está mesmo é nos boletins emitidos mensalmente sobre os estados. O Imazon desenvolveu um programa que gera eletronicamente boletins mensais para cada um deles, com indicações de quanto e onde houve desmate, a partir de números do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). “É um resumo do que aconteceu no mês”, diz Souza. Por enquanto, a ferramenta está disponível apenas para o estado de Mato Grosso (onde já são feitos desde o ano passado Boletins de Transparência Florestal mensais), mas a partir de agosto cubrirá toda a Amazônia – basta ter o mapa do desmatamento, e o sistema gera um boletim com as informações “mastigadas”.
Para ver esta parte do sistema, é preciso entrar no link “Sistema de Alerta de Desmatamento”, no centro da página. Um mapa aparecerá na tela e é possível se aproximar de determinadas regiões, escolhendo as informações que compõem a imagem marcando e desmarcando as opções que aparecem na direita (a cada configuração diferente é preciso clicar na setinha azul, “Atualizar mapa”). O boletim propriamente dito é acessado pela aba “Boletins”, também na caixa da direita. Seleciona-se estado, ano e mês e tem-se todas as principais informações organizadas em parágrafos, mapas e gráficos de entendimento razoavelmente fácil.
Há intenção de que o sistema seja dinâmico, incluindo novas ferramentas na medida em que elas sejam desenvolvidas. Um exemplo é o monitoramento de concessões para manejo florestal, que pode ajudar na coibição de fraudes ou exploração fora dos planos aprovados. Também é possível receber informações sobre as diferentes regiões por email. O usuário precisa fazer um cadastro rápido, com nome, email e instituição a que pertence. Depois monta uma tabela com as informações que lhe interessam. Souza admite que navegar pelo Imazongeo pode não ser tão fácil quanto o desejável para quem não tem nenhuma experiência com esse tipo de sistema. “Talvez seja necessário realizar um workshop especialmente para ensinar jornalistas a usá-la, por exemplo”, diz ele. Mas foi feito o máximo para que ela fosse auto-explicativa. Vale a pena dar uma conferida.
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