Reportagens

“Salve nosso planeta”

Hotel que sedia Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação promete livrar a Terra de suas mazelas lavando menos toalhas. Mas ainda é preciso convencer as camareiras.

Carla di Cologna · Eric Macedo ·
21 de junho de 2007 · 17 anos atrás

“Salve nosso planeta. Estimado hóspede: A cada dia, toneladas de detergente e milhões de litros de água são consumidos para lavar toalhas que foram usadas uma só vez. A decisão é sua… Toalha no toalheiro significa: vou usá-la outra vez. Toalha no piso significa: favor deixar nova toalha”.

Esta frase foi lida por boa parte dos quase dois mil cidadãos preocupados com o meio ambiente que compareceram ao V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação e estiveram hospedados ao longo desta semana no hotel Rafain Palace, em Foz do Iguaçu, onde se realizou o evento. A sentença decora discretamente os banheiros do hotel. Como bons ambientalistas e tratando-se do futuro do planeta em jogo a cada lavada desnecessária, a maioria avaliou bem a hora de ter a sua toalha trocada. Mas qual não foi a surpresa de muitos ao descobrir, no dia seguinte, que o código inventado pelo hotel nem sempre era respeitado.

Maria de Lourdes Nunes, diretora-executiva da Fundação O Boticário de Proteção da Natureza e anfitriã do congresso, é uma das que penduraram a toalha usada no toalheiro e, depois do quarto arrumado, encontraram uma outra novinha e cheirosa. “O que é realmente absurdo, porque ninguém usa uma toalha por dia em casa”, diz ela.

Malu (como é conhecida) diz que esse tipo de coisa é comum nos hotéis que freqüenta. Esteve há pouco tempo num em São Paulo que tinha um “andar ecológico”, convenientemente chamado de green floor. Encontrou pouca coisa ligada ao meio ambiente: uma cascata que exalava “cheiro de natureza” (artificial, supõe-se) e lixeiras separadas para reciclagem. “Mas mesmo as camareiras jogavam tudo no mesmo lugar”, conta ela, que quis saber o porquê do pouco caso. Responderam-lhe que, no fim das contas, ia tudo para o mesmo lugar. “Só as latinhas de alumínio eram separadas”, diz.

Facções

Pode-se dizer que há duas correntes entre as camareiras que trabalham no Rafain Palace. De um lado, há as que trocam as toalhas pois sempre julgam estarem sujas ou molhadas demais. Aí, não importa a vontade do hóspede. Tudo depende da subjetividade da camareira. Por outro lado, há as que realmente respeitam o código da toalha no chão ou no toalheiro. “Já levei bronca de alguns hóspedes e agora não troco mais as do toalheiro”, conta uma delas, que não quis se identificar.

O jornalista Marcos Sá Correa teve que impedir uma camareira rebelde de levar sua toalha embora, depois de dias de trocas inúteis. Por outro lado, o quarto do casal de conservacionistas Marc Dourojeanni e Maria Tereza Jorge Pádua foi atendido ao longo de toda a semana por uma das que cedem à decisão do hóspede. “Funcionou. Joguei a toalha ostensivamente no chão, e ela foi trocada de imediato”, conta Marc. “Mas na maioria dos hotéis, há essa mesma plaquinha e eles trocam de qualquer forma”, compara.

O gerente de marketing do Rafain, Cândido Ferreira Neto, diz que o aviso é uma recomendação da ABIH, Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, adotada há cinco anos pelos grandes hotéis afiliados a ela. Ferreira se orgulha de contribuir para a proteção da natureza ao poupar água, “um dos nossos bens mais preciosos”. E tira da cartola um número espantoso de clientes que aderem à repetição do uso da toalha: 68%. Reclamações, até agora, não chegaram aos ouvidos dele.

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