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Pesquisadores investigarão o atual estado de conservação da Bacia do Alto Paraná para planejar a implantação de um corredor de biodiversidade. Expedição terá blog em O Eco.

Felipe Lobo ·
29 de agosto de 2007 · 17 anos atrás

O veleiro Pasárgada se prepara para zarpar do cais do município de Presidente Epitácio, em São Paulo, rumo às águas da Bacia do Alto Paraná. A bordo estarão os pesquisadores Laury Cullen e Fernando Lima, da ong Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com a missão de investigar o atual estado de conservação e as ameaças e oportunidades para a efetivação de um corredor de biodiversidade na região. A expedição começa no dia três de setembro e só terá fim na borda da barragem da hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, depois de percorridos quinhentos quilômetros. Um blog em O Eco será atualizado diariamente com fotografias e textos enviados do barco para narrar detalhes da expedição.

A história da jornada começou há apenas cerca de seis meses, quando o Ministério de Meio Ambiente emitiu um parecer favorável à criação do Corredor Brasileiro de Biodiversidade do rio Paraná. A notícia veio em boa hora, já que ele visa conectar os remanescentes de Mata Atlântica e possibilitar o trânsito de indivíduos de fauna e flora em cinco estados: São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O problema é que não se sabe como está a área com a pressão sofrida pelas suas unidades de conservação e tampouco o número de espécies que lá habitam.

Com recursos institucionais e apoio de alguns projetos do IPÊ, o engenheiro florestal Laury Cullen decidiu embarcar – literalmente – na idéia de visitar os pontos críticos da região acompanhado pelo biólogo Fernando Lima. As paradas devem acontecer em grande número, já que a extensão da bacia abrange os rios Paranaíba, Tietê, Paranapanema, Rio Grande e um trecho do Paraná. Algumas inspeções já foram definidas, como as bordas do lago de Itaipu, o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema no Mato Grosso do Sul e o Parque Nacional de Ilha Grande no Paraná. Ao final do expediente, os pesquisadores vão montar um relatório técnico e fotográfico com os riscos e conveniências da implementação do corredor de biodiversidade, que será enviado ao Ministério comandado por Marina Silva.

Outra finalidade da viagem é investigar a real influência da expansão da cana-de-açúcar e da pecuária e avaliar novas fontes de perigo para a perpetuação da conectividade entre os fragmentos de floresta. “A nossa idéia final é responder sobre o quanto viável é a proposta, ou seja, quais as reais chances que ela tem de possibilitar a ligação e o trânsito de espécies ali”, explica Cullen.

O pesquisador cita um documento escrito pela WWF-Brasil, “Visão de Biodiversidade da Ecorregião Florestas do Alto Paraná (Bioma Mata Atlântica)”, para explicar a sua preocupação. De acordo com o texto, a região que será visitada contava, à época de sua colonização, com 471 mil km2 de matas contínuas. Hoje, o mesmo número foi reduzido para cerca de 2,7% de sua extensão primária, dado mais do que suficiente para fazer qualquer ambientalista coçar a cabeça.

O clique

A idéia surgiu de um outro projeto capitaneado pelo IPÊ. Os profissionais do Instituto realizam há algum tempo um trabalho com as onças-pintadas que serviu de inspiração para Cullen e Lima pensarem na nova investida no mato. Com um aparelho de GPS adaptado à coleiras, os animais desta espécie são monitorados por onde passam. O processo, carinhosamente chamado de “detetive ecológico”, ajuda a entender um pouco melhor sobre o fluxo das onças pelos fragmentos de mata. O que falta, justamente, é observar se os caminhos percorridos são seguros para os bichos.

Além das onças pintadas, antas, veados, suçuaranas (onças pardas), queixadas, lobos-guarás, tamanduás e muitos primatas são alguns exemplos do que os pesquisadores deverão encontrar ao longo de suas andanças. Além, é claro, da vegetação que ainda resta. “São áreas de várzea, não muito propícias para a agricultura e pecuária”, avalia Cullen. Quando questionado sobre exemplos de propostas úteis para o corredor, o engenheiro é enfático. “Envolve criação de novas unidades de conservação, perpetuação daquelas que já existem e diálogos com os proprietários de terras. Fora, é claro, a presença de pesquisas, universidades, ong’s e políticas públicas”.

A embarcação modelo O’Day 23 vai percorrer as águas no entorno dos parques nacionais de Ilha Grande e Iguaçú, os estaduais do Morro do Diabo, Ivinhema e Turvo, as estações ecológicas do Mico-Leão-Preto e Caiuá e a Área de Proteção Ambiental das ilhas e várzeas do rio Paraná. Foi por conta de tanta terra e informação disponível que Cullen e Lima decidiram manter o blog aqui em O Eco, com estréia prevista para a próxima semana.

  • Felipe Lobo

    Sócio da Na Boca do Lobo, especialista em comunicação, sustentabilidade e mudanças climáticas, e criador da exposição O Dia Seguinte

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