Análises

Tim Maia ou Cagarras?

Trocar um nome original, que existe há mais de 400 anos, para homenagear um músico que nunca se aproximou das ilhas na costa do Rio de Janeiro parece uma imposição comercial.

Carlos Secchin ·
25 de janeiro de 2010 · 15 anos atrás

 

height=”500
Navio Escola Brasil e as Cagarras ao fundo. Foto: Carlos Secchin

A motivação para a troca de nome do recém-criado Monumento Natural das Ilhas Cagarras para Monumento Natural Tim Maia deveu-se, em parte, ao seguinte:

1) primeiramente, cabe relembrar que o nome original existe há mais de 400 anos porque diz respeito à quantidade de excremento branco escorrido pelas íngremes faces de pedras lisas das ilhas. A avifauna marinha local é a de maior concentração de toda a orla da cidade, passando pelo fundo da Baía de Guanabara e incluindo da Pedra do Leme à Pedra do Pontal;

2) quando o Ministro do Meio Ambiente adotou o novo nome para o arquipélago, deve tê-lo baseado no comportamento e na obra do genial Tim Maia; Tim, que jamais se aproximou das ilhas, tampouco botou os pés dentro d’água ou, sequer, fez menção a qualquer ave, de qualquer tipo, em suas lindas canções. A única aproximação de Tim com a natureza era com pés de gererê e, através do hábito de fumá-lo, fazia-o com grande ardor;

3) uma outra associação, provavelmente inconsciente, é a manta branca de guano que escorre como seda de cigarro sobre algumas ilhas. E, naturalmente, o formato da ilha Comprida, que lembra aos apreciadores o formato de grande charro;

4) Tim era doidão e criativo, como foi também nosso último Prefeito, que nos deixou, sem fumar, um belo exemplo de sua excentricidade – a ‘Cidade da Música’;

5) de doidões para doidão – desculpem, mas aqui tenho que fazer justiça e incluir o Senhor Ministro –, ficaria a cidade bem homenageada se trocássemos o nome da Cidade da Música para Centro Municipal de Música Universal Tim Maia. Convenhamos, Cidade da Música não nos diz coisa alguma! Até porque – mais uma vez – a vontade do carioca nunca foi consultada.

Sabe o que fica parecendo? Que é imposição da empresa que está em vias de assinar o contrato de patrocínio da manutenção do Parque e que não quer, de jeito nenhum, associar o seu nome ao das Cagarras. Só que ela não se deu conta – ou o Ministro conhecedor do meio ambiente não quis contar – de que as aves que habitam as Cagarras o fazem há séculos e séculos, cobrem os céus de nossa cidade com a maior propriedade, e podem ser avistadas, diariamente, de todos os quadrantes. Muito mais do que ‘do Leme ao Pontal’.

  • Carlos Secchin

    Carlos Secchin é engenheiro e fotógrafo, Carioca, vive no Cerrado onde se dedica a conservar uma pequena porção deste rico bi...

Leia também

Análises
18 de novembro de 2024

Uma alga desafia o Brasil: Estamos preparados para uma nova arribada massiva de Sargaços?

Enquanto o Caribe vive um embate anual contra estas algas, o Brasil está como que aguardando uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer momento

Podcast
16 de novembro de 2024

Entrando no Clima#36 – Primeira semana de negociações chega ao fim

Podcast de ((o))eco escuta representantes de povos tradicionais sobre o que esperam da COP29 e a repercussão das falas polêmicas do governador Helder Barbalho.

Notícias
16 de novembro de 2024

COP29 caminha para ser a 2ª maior na história das Conferências

Cerca de 66 mil pessoas estão credenciadas para Cúpula do Clima de Baku, sendo 1.773 lobistas do petróleo. Especialistas pedem mudança nas regras

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.