Ainda inspirada na temporada de chuvas que assolou a cidade nos meses de outubro e novembro, resolvi dar continuidade à minha busca de esportes outdoor “molhados”. Só que dessa vez encontrei uma atividade pouco divulgada, pouco entendida e, justamente por isso, muito polêmica. Nessa época de ambientalismo em alta, a caça (ou pesca) submarina tem sido alvo de algumas confusões, tanto por parte dos ambientalistas como por supostos atletas, que por falta de informação acabam comprometendo o grupo inteiro.
Como leiga, a primeira informação que me chamou a atenção foi sobre os equipamentos utilizados para a prática desse esporte. O caçador utiliza arma (é óbvio), bóia de sinalização, cinto de chumbo, faca, lanterna, nadadeira, máscara, roupa de neoprene e snorkel, dentre outros brinquedos. E daí? Daí, que a pesca submarina não utiliza a garrafa de ar comprimido, sendo realizada somente em apnéia. Para quem não sabe, essa é uma técnica de mergulho livre sem oxigênio extra, ou seja, o mergulhador se mantém embaixo d’água apenas com a sua resistência de fôlego. Por isso, o esporte não deve ser confundido com mergulho autônomo, onde o mergulhador utiliza os cilindros de oxigênio com autonomia de até duas horas. Muito menos com a pesca profissional, que se utiliza também de cilindros de ar comprimido, além de redes e diversos outros equipamentos que visam facilitar a captura dos peixes.
O que quero dizer é que o caçador tem aproximadamente dois ou três minutos para se preparar, mergulhar, procurar o peixe, identificar sua presa, mirar, disparar, acertar, finalizar e buscar o bichinho e retornar à superfície. Tudo isso é claro, semi-imóvel para não assustar seu público. Esse cenário já reduz dramaticamente um possível preconceito sobre o potencial predatório desse esporte. Mesmo aqueles que estejam muito bem treinados e condicionados, conseguindo permanecer por mais um ou dois minutos, ainda são menos agressivos do que se imagina.
Isso não significa que a caça submarina seja totalmente legal e que não ameace o meio ambiente, nem colabore com a extinção de espécies. Nada disso. Mas como todas as atividades relacionadas com os esportes outdoor, precisa seguir algumas regras para preservar seu principal ginásio. Um exemplo desses controles é o acompanhamento científico da UNIPLI, instituição que analisa os peixes capturados, principalmente em competições, para regular espécie, quantidade, tamanho e peso, evitando que a atividade caia na malha de ações prejudiciais à natureza e à preservação de espécies ameaçadas. Já na pesca profissional e, principalmente, a industrial, não existe tal controle, ocasionando a redução de 90% da população de peixes oceânicos no mundo, incluindo 75% das espécies da costa brasileira, categorizadas em limites preocupantes. Esses são dados de uma pesquisa realizada em 2003.
Um peixe ideal
Voltando para peculiaridades do esporte que exigem atenção do caçador quanto ao tempo disponível para a prática, me deparei com o “apagamento”. Esse é um dos motivos que leva esta atividade a ser considerada como arriscada, pois ocorre quando o caçador se empolga no seu mergulho, fascinado com o visual e com os peixes, perdendo a noção de tempo e ficando sem fôlego para chegar à superfície. Outro motivo é a hiperventilação antes do mergulho, para melhorar o rendimento embaixo da água. Quando isso acontece o mergulhador desmaia por falta de oxigenação no cérebro e morre afogado. Por mais difícil que seja acreditar, o apagamento é responsável por 90% dos acidentes fatais no mergulho. Outras situações, como ficar preso em redes e cabos submersos, ser atacado por alguma espécie agressiva ou até ser atropelado por uma embarcação, são menos freqüentes, porém igualmente arriscadas.
Riscos à parte, o esporte exerce verdadeira fascinação nos seus praticantes. É a única modalidade de pesca que permite que o caçador fique frente a frente com a caça, escolhendo-a individualmente e preparando a melhor abordagem para capturá-la. Não é apenas uma questão de caçar, pois a pesca submarina é uma atividade seletiva. Uma das orientações do esporte é que o mergulhador nunca atire em algo desconhecido e que avalie com antecedência tamanho e espécie, para evitar uma perda desnecessária. Também “não vale” caçar vários peixinhos de meio quilo. Essa pode ser uma prática predatória, ao matar espécies ainda em desenvolvimento e essenciais para a manutenção do equilíbrio. Vale mais passar um dia inteiro buscando um peixe ideal, com alto grau de dificuldade na captura, medindo a habilidade do caçador e sua capacidade de adaptação ao meio marinho.
Apesar de tudo, existe ainda pouca conscientização ambiental sobre os riscos que a falta de ética pode ocasionar ao meio ambiente. Os próprios pescadores profissionais (que mergulham com cilindros de oxigênio) se auto categorizam como atletas, prejudicando aqueles que praticam o esporte atentos à todas as regras e cuidados com as espécies. A divulgação de informações sobre o esporte é o primeiro passo fundamental para evitar injustiças, preconceitos e falsos adeptos. Em paralelo, deve-se trabalhar os controles e critérios para regulamentação da atividade. Essas ações tornam mais conhecido o esporte, mais seguro o meio em que ele é praticado e mais satisfeitos ambientalistas e esportistas. O objetivo é melhorar a convivência do homem com o mar; o resto é história de pescador.
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