Reportagens

MPF critica tabela de preços do Terra Legal

Para Ministério Público, programa de regularização fundiária do governo federal não diferencia pequenas de médias propriedades.

Karina Miotto ·
30 de julho de 2010 · 15 anos atrás
Agricultor do Mato Grosso durante evento de concessão de títulos de regularização de terra (foto: Empaer/MT)

O preço da terra pública definido pelo programa Terra Legal, do governo federal, precisa ser reavaliado, de acordo com um parecer técnico da quinta câmara de coordenação e revisão do patrimônio público e social do Ministério Público Federal. O programa, em vigor desde o ano passado, visa regularizar cerca de 67,4 milhões de hectares (ha) de terras públicas na Amazônia Legal nos próximos anos.

Até maio de 2010, de acordo com o MPF, aproximadamente 68 mil posseiros entraram com pedido de regularização de suas posses que, juntas, chegam a pouco mais de 7 milhões de ha. A grande maioria destas pessoas (60,4%) ganhará a terra do governo, por possuir propriedade de até 1 modulo fiscal, ou seja, aproximadamente 100 hectares. O restante dos posseiros (até 4 módulos, 26,7%, e de 4 a 15, 7,2%), adquirem terras públicas com descontos que podem chegar a 80%. No entanto, a minoria entre os pedidos de regularização representa as maiores propriedades que, juntas, chegam a 5 milhões e 661 mil hectares.

Um dos problemas apresentados no parecer do Ministério Público Federal é o fato de posseiros com áreas de 4 a 15 módulos fiscais (perfil de propriedades médias) se beneficiarem de descontos da mesma forma que aqueles que ocuparam áreas de até 4 módulos fiscais (menores, próprias do pequeno agricultor familiar).

De acordo com o regulamento do Terra Legal, posseiros de propriedades médias podem adquiri-las a preços acessíveis e, após três anos, vendê-las a terceiros. No entanto, ao vender, a terra estará mais valorizada, o que pode ser visto como um ótimo negócio àquele que grilou áreas da união – e ao que pretende grilar. “A baixa valoração da terra e a possibilidade de lucro após três anos podem ocasionar novas ocupações onde o monitoramento e a fiscalização não sejam tão efetivos”, afirma Marco Antônio Delfino de Almeida, procurador da república do MPF/MS.

De acordo com ele, uma coisa é baratear o preço da terra para o pequeno proprietário, outra é baratear para o médio. “Há de se haver um privilégio ao agricultor familiar. Aqueles que possuem de 4 a 15 módulos fiscais podem exercer suas atividades produtivas com menos subsídios governamentais. Fornecer subsídios a estes proprietários causa prejuízo aos cofres públicos e é economicamente insustentável. É preciso tratar os desiguais de forma desigual”, diz.

O parecer técnico foi recentemente enviado ao Terra Legal e, atualmente, o Ministério Público Federal aguarda uma resposta. “O programa é bom, avançou muito em transparência, mas precisa avançar mais, até que promova a Amazônia sustentável que queremos – com a devida proteção às populações tradicionais e com a valoração justa de áreas públicas ocupadas. Esperamos que o programa tenha as correções devidas e que compreendam que as irregularidades na questão do preço da terra devem ser sanadas”, afirma o promotor. (Karina Miotto)

Leia também

Salada Verde
29 de abril de 2025

Presidência da Conferência do Clima anuncia datas da “pré-COP”

Evento, de caráter técnico e que reúne delegados para avançar nos tópicos da agenda da Conferência, será realizado nos dia 13 e 14 de outubro, em Brasília

Colunas
29 de abril de 2025

Uma reflexão pessoal sobre a missão cristã em territórios indígenas

A fé pode ser um lugar de cura, de comunidade, de força. Mas também pode ser usada como ferramenta de opressão, quando imposta sem escuta, sem respeito, sem reciprocidade

Reportagens
29 de abril de 2025

Jovens Yanomami recorrem a drones para vigiar seu território amazônico

A terra indígena enfrentou uma grave crise humanitária e ambiental com a invasão de cerca de 20 mil garimpeiros ilegais em busca de ouro e cassiterita

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.