A obra é ousada e pretende ser um tipo de casa da árvore do saber. O projeto dos arquitetos Newton Yamoto e Tânia Regina Parma mantém a unidade da paisagem local e faz com que sua estrutura influencie o mínimo possível as espécies que vivem na região. “Nossos prédios estão fincados no solo com uma base de concreto a 26 metros de profundidade. Eles ficarão elevados para dar a sensação de uma grande casa na árvore. Além disso, já estamos promovendo o plantio de mudas no entorno da construção para que os bichos não percam seu habitat e possam livremente circular envolta das estruturas do campus”, conta o Controller do IPÊ e responsável pela obra Arnoldus Wigman.
Já foram investidos pela Natura mais de R$10 milhões de reais no projeto. Mas ainda faltam verbas para que o campus seja entregue concluído no final de 2011. A partir de então, toda a estrutura do IPÊ será transferida para o novo local. A demora se deu pela burocracia brasileira. Com o investimento liberado e o projeto arquitetônico prontos em 2005, o organizadores do IPÊ foram em busca das licenças ambientais para iniciarem as obras. Três anos de espera e, enfim, a estrutura que mistura ferro, madeira e concreto pode subir. Houve um desejo de manter a coerência do discurso feito pelo instituto e realizar o que Arnoldus chamou de ‘tipo de construção inédita no Brasil’. “Todas nossas madeiras são certificadas com documento de origem ambiental e nenhuma árvore foi derrubada para realizarmos a construção, não haverá asfalto nas ruas do campus, o escoamento da água foi feito para evitar erosão do solo. Nós estamos fazendo tudo conforme o que ensinamos, de forma totalmente sustentável”, defende Arnoldus.
Escola ativa no campus provisório
Enquanto a ESCAS não se muda para sua casa nova, suas atividades continuam a pleno vapor. Duas turmas já foram formadas e o entusiasmo de Claudio Pádua, reitor da escola e idealizador do projeto é o mesmo do começo. “A ESCAS está na posição de formar uma nova geração de profissionais em que o mercado carece. O profissional da sustentabilidade. As empresas me pedem essas pessoas, no mundo acadêmico, nos governos me pedem isso. O tema é atual. Está sendo discutido, trabalhado na imprensa. Mas o mundo acadêmico não está formando esse profissional. A ESCAS está querendo formar novos líderes para os três setores com essa visão e essa formação”, orgulha-se.
E o reconhecimento desse ineditismo é internacional. Robert Lacy, pesquisador do Departamento de Biologia da Conservação do Zoológico de Chicago, nos EUA, passou uma semana aplicando um curso para os alunos do mestrado e defende que o Brasil tem um papel importante no continente latino americano. “O Brasil não está no nível de países como Canadá e Austrália que já possuem pessoas se dedicando ao tema há pelo menos 10 ou 15 anos. Mas por outro lado, aqui há um número maior de pessoas sendo capacitadas sobre a Biologia da Conservação o que torna o país uma referência na América Latina. Não conheço nenhum curso deste tipo em toda a América do Sul. Isso faz com que pessoas desses países venham para o Brasil aprender”, elogia ele.
Claudio vê um tempo favorável para o país. E prevê que ele e a ESCAS estão vivendo um momento único no campo da educação. “O Brasil está num período extraordinário. Em vários campos nós estamos nos tornando referência. Esse momento é de um grande salto na ciência e educação. Se a gente não fizer um investimento nestes campos para darmos um passo à frente, poderemos perder essa liderança. Temos a possibilidade de tornar um Brasil como exemplo de uma economia que se desenvolve de maneira sustentável”, prevê.
Desafios da ESCAS
No futuro da ESCAS está a consolidação de seu mestrado, em Nazaré Paulista, e da turma que estuda no sul da Bahia. Os alunos são todos profissionais estabelecidos na região para que seus trabalhos finais sejam desenvolvidos depois que defenderem suas teses. Na Bahia, o curso é feito em parceria com o Instituto Arapyaú. O corpo docente está disposto a repetir a experiência com os baianos em outras áreas do Brasil. Outro desafio é a legitimação do mestrado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Hoje, o mestrado já tem o reconhecimento da coordenação. “Quando montamos a ESCAS a ideia era trazer a interdisciplinaridade para os nossos centros acadêmicos, como experimentamos (eu e o Claudio) nos estudos que fizemos nos EUA. Daqui há três anos vamos ser julgados pela CAPES. Como será esse julgamento? Nós não sabemos. Temos uma autonomia de atuação e qualidade nos trabalhos que já foram apresentados. Se quem vier nos avaliar não tiver uma aceitação da interdisciplinaridade vai ficar complicado termos um grau alto ou subirmos de nível. Isso é essencial para oferecermos o doutorado que queremos, mas vai depender do grau que obtivermos”, explica Suzana Pádua, presidente do IPÊ.
Entre os alunos, a diversidade de temas e disciplinas, agrada. Alexandra Alcântara é arquiteta, em Bauru, São Paulo, e faz parte da turma atual do mestrado. “O grande objetivo de estarmos aqui é mudar um comportamento em função de novas práticas. A multidisciplinaridade neste caso é fundamental. São pessoas de meios diferentes, com as habilidades diferentes que se juntam para um bem comum. Antigamente, os ambientalistas tinham um comportamento e o mercado outro, contrário. Estamos num momento de diálogo em que esses pensamentos se unem para um futuro de ações mais humanas”, empolga-se.
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