![Equipe resgata botos em Tocantins. Foto: AMPA.](https://i0.wp.com/www.oeco.org.br/wp-content/uploads/2016/08/BotoAraguaia1-1024x683.jpg?resize=640%2C427)
Manaus, AM — Entre os doze botos resgatados, nove encalharam no Rio Formoso, região da Lagoa da Confusão (TO), em uma fazenda de soja e milho. Eram dois machos bem jovens, que haviam sido separados das mães ou da mãe, uma fêmea com filhote e cinco machos adultos. Todos ainda em boas condições físicas. Foram surpreendidos pela velocidade com que a água foi drenada do rio, de acordo com a líder da equipe de resgate, a bióloga Vera Silva, coordenadora do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Inpa (LBA-Inpa).
Os animais eram monitorados há cerca de um mês pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturantins), que pediu apoio para o resgate. “Botos não costumam ficar encalhados”, afirma a bióloga Vera Silva. “Nesse caso, o encalhe ocorreu por conta da drenagem do rio. As bombas funcionam 24 horas e, como está muito seco e não está chovendo, então os rios estão secando muito rápido”, completa. Foram necessários dois dias e o trabalho de 25 pessoas para o resgate, transporte e soltura de todos os animais no Rio Javaés com sucesso. A ação contou com participação também do Batalhão Ambiental e da fazenda onde os animais foram encontrados.
Os botos do Araguaia (Inia araguaiaensis) são de uma espécie distinta de outros botos-cor-de-rosa encontrados na Amazônia e descrita há pouco tempo pelos cientistas, conforme destaca a bióloga Renata Emim, do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia do Museu Paraense Emílio-Goeldi. E por ser uma espécie nova, os estudos ainda são insuficientes para avaliar o status de conservação. “No entanto, de acordo com o que estamos vendo, as populações no Pará e no Tocantins sofrem uma série de ameaças. Entre elas a relacionada com a seca no rio Formoso”, alerta Renata. “E que neste caso foi agravada pelo uso de água para projetos de irrigação”, completa.
O Rio Formoso foi a segunda parada de uma missão de salvamento montada pelo Inpa e pela Associação Amigos do Peixe-Boi da Amazônia (Ampa) e que só foi possível graças as passagens bancadas pelo Aquário de São Paulo e ao apoio de instituições locais. As ações haviam começado uma semana antes, com a chegada de uma veterinária a região de Floresta do Araguaia (PA), a cerca de 300 quilômetros de Marapá (PA). O restante da equipe chegou na quarta-feira. Na bagagem, cerca de 400 quilos em redes e outros equipamentos usados para retirar os bichos da água.
Por lá, três botos estavam encalhados em um rio com nível tão reduzido que a parte mais funda chegava a apenas um metro. Eram dois jovens com menos de 1,60 de comprimento e uma fêmea bastante debilitada. “Ela estava muito magra, dava para ver as costelas e as nadadeiras estavam bem destacadas”, conta Vera Silva. “Tinha também perfurações no corpo e, de uma dessas perfurações, retiramos chumbo de espingarda. Tinha um ferimento na cabeça, atrás do respiráculo”, completa.
![Foto: AMPA.](https://i0.wp.com/www.oeco.org.br/wp-content/uploads/2016/08/BotoAraguaia2-1024x768.jpg?resize=640%2C480)
Os animais viajaram em um caminhão por 1h36min, num trajeto com muita poeira e solavancos, até chegar a um local seguro, onde puderam ser soltos. A viagem foi tensa, devido a preocupação com a fêmea, que poderia não resistir. Felizmente, depois de soltos, os três animais foram vistos nadando juntos, o que dá a esperança dessa fêmea resistir.
Segundo Vera Silva, ainda faltam informações sobre a frequência com que botos encalham na região do Araguaia-Tocantins, mas quando isso acontece eles correm riscos sérios. Ficam sujeitos ao calor, falta de alimentos, abate feito por homens e também predadores incomuns. “No Araguaia, botos já se tornaram presas para jacarés e onças, quando sabemos que quando eles estão saudáveis nos rios não enfrentam esses predadores”, lamenta a coordenadora da missão.
As populações de boto do Araguaia e do Tocantins já estão isoladas devido à barragem de Usina de Tucuruí e enfrentam outras ameaças provocadas por atividades humanas, como ação de pescadores que tentam afugentá-los ou até mesmo contaminação dos rios por agrotóxicos. No Rio Tocantins, a construção de barragens isola ainda mais a população dos animais, enquanto no Araguaia a situação de agrava com a ocupação das margens e assoreamento dos rios. “Tivemos sucesso em salvar esses animais, mas essa questão de bombeamento de rios para irrigação de fazendas é preocupante, principalmente porque essa espécie é uma espécie nova, que está sendo ameaçada por ações antrópicas”, alerta Vera Silva.
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É esse o futuro que o agronegócio propõe para o Brasil? Drenar um rio a toda a sua vida até a última gota? É esse o amor à terra tão propalado pelos defensores do agronegócio?
Ministério Público Federal nestas captações de água!!!! E as barragens? Está tudo regular? Pra só sobrar isso de água no rio…
Ei, cadê os Homens PUBLICOs, para exigir a transposição no represamento de Tucuruí. Cadê os Engenheiros ………….
Um suspiro……………. frente a matança desgraçada do Homem Branco, dito "civilizado".