Com o título “A Morte do Ambientalismo”, a revista Backpacker, dedicada a montanhismo e caminhada nos EUA, traz uma pequena matéria, no seu último número, fazendo um balanço do retrocesso ambiental naquele país. Segundo a revista, nos últimos cinco anos, verificou-se a menor quantidade de acres de terra adicionados a parques e outras áreas de conservação na história recente; foi abandonada a restrição à construção de estradas em áreas preservadas; foi a menor, também, a quantidade de poluidores processados judicialmente; as verbas para despoluição foram cortadas; o governo se recusa, teimosamente, a adotar medidas relativas ao aquecimento global; aumentou a prospecção de petróleo e gás em terras públicas – na sua maioria áreas de conservação. Como diz o Ancelmo Góes, deve ser horrível viver num país que não cuida de seu meio ambiente.
Quem dera. Aqui, não se trata de queda na adição de áreas para preservação, mas de invasão, grilagem e destruição de unidades de conservação. Não é que caiu o número de poluidores processados. É que aumenta o número de desmatadores, grileiros, incendiários, sem que se possa esperar qualquer punição. Não se trata de defender as verbas para o meio ambiente de cortes. Trata-se de testemunhar o colapso financeiro, gerencial e político do aparato estatal voltado para o meio ambiente. Não estamos discutindo a morte do ambientalismo no Brasil, onde ele sequer se enraizou ainda. Estamos vendo a morte da floresta amazônica, a um ritmo muito mais alucinante do que aquele que destruiu a Mata Atlântica.
Para piorar, as poucas tentativas de dar algum encaminhamento à questão, de forma relativamente independente do setor público – incapaz de cuidar do que já tem, quanto mais de novas fronteiras – como o PL das florestas, podem ser queimadas na fogueira de radicalismo polarizado que esquenta a guerra política entre governo e oposição. O governo não teve o menor pudor em prejudicar o PL das Florestas, para viabilizar uma manobra medíocre na tentativa de intimidar a oposição e abafar a investigação das denúncias sobre o “mensalão”. Denúncias que resultaram da própria inépcia e arrogância do governo, incapaz de estabelecer um relacionamento político compatível com o presidencialismo de coalizão. E perdeu. Sacrificou o projeto ambiental relevante e urgente para nada. A rivalidade que nutre em relação ao PSDB – numa briga de morte, literalmente, pela Presidência da República – reduz sua margem de manobra para compor alianças e o torna refém dos robertos jeffersons. Pior, denunciado, resolve contra-atacar, acusando a esmo, apenas para ser nocauteado por cada oponente. Na CPI dos Correios, durante o depoimento de Roberto Jefferson, era patético ver como ele levava à lona cada um dos governistas que tentava com ele duelar. Estamos em tempos de cólera. E esse misto de arrogância, incompetência e teimosia está alimentando uma das maiores crises de governança, desde os tempos de Collor.
Os erros do governo estão tendo o mesmo efeito da pesca de arrasto – que varre os mares, destruindo muito mais do que pesca – nos tópicos prioritários da agenda nacional, que estão na Ordem do Dia do Congresso e também na credibilidade do governo e no patrimônio moral do presidente Lula e do PT. O PL das Florestas já foi pego pelo cabo de aço desse arrastão político. Perdeu a urgência. Perdeu o lugar na fila. Está em 13º numa lista de projetos para a semana que vem que, com mudança de ministério podendo ocorrer entre o fim de semana e o início da próxima, a crise se agravando dia-a-dia, as denúncias se acumulando – e junto com elas as evidências de irregularidades – não tem chance alguma de ser votada. Com muita sorte, serão votados um pequeno número de projetos e sem garantia de aprovação, porque o governo está cada vez mais perdido, o PT cada vez mais dividido e o Congresso cada vez mais incendiado.
Quem conversa com parlamentares supostamente responsáveis, seja no reduto tucano, seja no petista, só vê disposição para uma guerra que tem tudo para causar danos irreparáveis a ambos os lados, criando espaço para aventureiros e demagogos se arvorarem em “terceira força” prometendo salvar o país do caos. Fora a vontade de matar e morrer, o que se vê é um desprezo acachapante pelos projetos do Meio Ambiente e total insensibilidade ou ignorância para as evidências de que, infelizmente, o que previ aqui já está acontecendo: destruiremos mais da Amazônia este ano, do que no ano passado.
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