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Através do canto, pesquisadores descobrem nova espécie de perereca na Amazônia

A Dendropsophus bilobatus foi encontrada nas florestas alagáveis do rio Jací-Paraná, afluente do rio Madeira, em Rondônia e chamou atenção pela potência da sua cantoria

Duda Menegassi ·
24 de junho de 2020 · 4 anos atrás
O pequeno Dendropsophus bilobatus, do tamanho de uma unha humana. Foto: Albertina Lima

Uma diminuta perereca, mas com uma potente cantoria. E foi graças ao seu canto, tão diferente das demais espécies conhecidas na região das florestas alagáveis de Rondônia, que pesquisadores conseguiram encontrá-la e registrar uma nova espécie para a rica herpetofauna amazônica. A Dendropsophus bilobatus é pequenina, os indivíduos encontrados pelos pesquisadores, todos eles machos, têm em média 20 milímetros, ou seja, são um pouco maiores do que uma unha humana. Mas na hora de “soltar o gogó”, a perereca se agiganta e vocaliza numa frequência muito mais alta do que a maioria das espécies que se conhecesse desse grupo. E foi exatamente esse canto que chamou atenção dos pesquisadores.

“Nós encontramos a nova espécie pela primeira vez nas florestas alagáveis do rio Jací-Paraná, um afluente do rio Madeira, em 2011. Nós ouvimos os machos cantando e percebemos que aquele canto não era comum. O que chamou atenção foi a frequência – 8.979 a 9.606 Hertz –, com que o canto era emitido, muito mais alta do que a maioria das espécies que se conhece desse grupo em específico de pererecas. Depois disto, coletamos mais alguns indivíduos desta nova espécie ao longo de 2012 e 2013, e gravamos o canto emitido pelos machos. Ano passado, sequenciamos o DNA de alguns indivíduos dessa espécie e analisamos o canto da espécie, e confirmamos então que se tratava de uma espécie ainda desconhecida”, conta um dos pesquisadores que participou da descoberta, o brasileiro Miquéias Ferrão, do Museum of Comparative Zoology de Harvard.

A nova espécie foi descrita em um artigo publicado na última quinta-feira (18), no periódico ZooKeys, escrito por Miquéias junto com outros três herpetólogos: Albertina Pimentel Lima, Jiří Moravec e James Hanken.

A cantoria emitida por sapos, rãs e pererecas, como a Dendropsophus bilobatus, são uma característica importante para identificação das espécies, pois cada espécie tem seu próprio canto. “Esse canto quase sempre é emitido por machos e é utilizado para atrair as fêmeas da mesma espécie. Algumas vezes, as diferenças são sutis ao nosso ouvido e são preciso análises estatísticas para conseguirmos diferenciá-los, outras vezes, a diferença no canto entre espécies diferentes é perceptível mesmo aos nossos ouvidos”, explica Miquéias.

O saco vocal da Dendropsophus bilobatus é dividido em dois lobos, que se inflam durante a cantoria e ficam verde translúcido. Foto: Albertina Lima

No caso da Dendropsophus bilobatus não houve muita dúvida sobre a peculiaridade da vocalização. Outra característica bem particular desta nova espécie é seu saco vocal, que é a estrutura utilizada para emitir o canto. O saco vocal dos machos desta espécie é “bilobado”, como chamam os herpetólogos, o que significa que ele possui dois lobos, partes arredondadas que se assemelham a duas bolas de chiclete coladas uma na outra, que no caso da nova perereca ficam verde translúcido.

“Esta nova espécie de perereca é caracterizada principalmente pelo seu canto e pelo saco vocal dos machos. É uma espécie de hábito noturno e sabemos que ela se reproduz em áreas dentro da floresta que são periodicamente alagadas pelos rios no período das chuvas. Este é o período em que a espécie se reproduz, e o período onde é mais fácil encontrá-la”, informa o pesquisador. Sobre o habitat da perereca, Miquéias explica que até o momento ela foi encontrada apenas nas florestas do lado direito do rio Madeira, no Brasil, mas que os pesquisadores acreditam que ela também possa ocorrer do lado boliviano.

O gênero Dendropsophus corresponde a um grupo de espécies pequenas, com alta diversidade de espécies, na maioria das vezes morfologicamente semelhantes. Atualmente, são reconhecidas 108 espécies do gênero, das quais 66 ocorrem na Amazônia brasileira.

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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