Casal de Bontebok no segundo dia da trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes Chegada ao Cabo da Boa Esperrança.
Foto: Pedro Cunha e Menezes Entre os restios na trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes Início da trilha de dois dias até o Cabo da Boa Esperança.
Foto: Pedro Cunha e Menezes Lago Silkersvlei no primeiro dia da trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes O abrigo Erica, ao fim do primeiro dia da trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes O nascer da lua dia da trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes O pico Paulsberg.
Foto: Pedro Cunha e Menezes Segundo dia da trilha de Cape Point (ao fundo vê-se o Cape Point).
Foto: Pedro Cunha e Menezes Vênus Pool, excelente para um mergulho no segundo dia da trilha de Cape Point.
Foto: Pedro Cunha e Menezes
O segundo dia de caminhada começa com uma ida e volta até o farol que adorna Cape Point e faz o Cabo pender mais para Boa Esperança do que para Tormentas. É escapada para cerca de duas horas que vão pesar depois, tanto em termos de tempo de luz, quanto de cansaço, mas vale a pena. O espetáculo das ondas do Índico chocando-se com as vagas do Atlântico é único (único e contestado, já que a maioria dos geógrafos defende que o encontro real dos Oceanos não é ali, mas no Cabo Agulhas, cerca de cento e cinquenta quilômetros mais a leste).
Os 7.750 hectares que hospedam a trilha circular e formam a parte sul do Parque Nacional da Montanha da Mesa têm uma longa história. Em 1780, mais de cem anos depois do estabelecimento da Colônia do Cabo pela Companhia holandesa das Índias Orientais, foram doadas sesmarias na região. Os contemplados tentaram ganhar a vida com a lavoura, mas a baixa fertililidade do solo logo os desestimulou. Foram criados então dois núcleos de pesca e uma pequena estação baleeira.
Somente cerca de um século e meio mais tarde, em 1915, foi aberta a primeira estrada à região, construída para dar acesso ao farol, edificado naquele mesmo ano em Cape Point. No final da década de 1930, um empreendedor imobiliário apresentou um projeto para transformar a região em centro de lazer de fim de semana. Para felicidade dos amantes da natureza, deparou com um formidável inimigo, o naturalista Stacey Scafie, que liderou uma campanha para que aquelas terras fossem compradas pelo Estado e transformadas em Unidade de Conservação. A campanha acabou sensibilizando os próprios proprietários da terra, que, em 1939, recusaram uma oferta privada de vinte mil libras e venderam o terreno à Municipalidade por dezesseis mil libras, com a condição de que fosse transformado em área protegida: a Reserva Natural do Cabo da Boa Esperança, o que aconteceu em seguida à aquisição. A UC foi manejada autonomamente até 1998 quando foi amalgamada com mais de 25 outras pequenas reservas para formar um dos mais bem manejados parques nacionais urbanos de todo o mundo. Essa consolidação de UCs urbanas em uma só área protegida, aliás é certamente um exemplo para situações similares no Brasil como a que temos nas cidades do Rio de Janeiro e Florianópolis, mas isso será objeto de outro post, em futuro próximo.
De volta à caminhada, o segundo dia progride sempre pelo litoral, até chegarmos novamente ao portão de entrada. No trajeto encontramos diversas praias e piscinas naturais. Também passamos pelo Centro de Visitantes do Parque, onde é possível comprar água e comer alguma coisa. O aspecto mais marcante dessa etapa da trilha, contudo, é seu constante sobe e desce, sobe e desce, sobe e desce, que parece alongar cada quilômetro, transformando-os em milhas, e vai exaurindo o excursionista. Para a exaustão, entretanto há remédio: é um colírio e chama-se as vistas do Cabo da Boa Esperança. Posso afiançar, cura na hora.