A Hora e a Vez das Trilhas (com letra de Lamartine Babo)
Recebi recentemente uma mensagem eletrônica de Ernesto Viveiros de Castro despedindo-se do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Ernesto está de mudança para Brasília, onde já foi nomeado para o cargo de coordenador de uso público do ICMBio. A tarefa é dura.
Recebi recentemente uma mensagem eletrônica de Ernesto Viveiros de Castro despedindo-se do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Conheci Ernesto há muitos anos nas mesas de alguns bares do Rio de Janeiro onde havia jogos de trívia (culturinha para os íntimos). Impressionei-me com ele. Não bastasse ser um convicto torcedor do América (pois é, não é lenda, eles existem), o garoto sempre demonstrou erudição e memória invejáveis.
Tempos depois, quando vi que tinha sido aprovado em concurso do Instituto Chico Mendes, me surpreendi. Já tinha formado a imagem esteriotipada de que ele seguiria as carreiras de engenheiro, advogado ou cientista político. Nunca me passara pela cabeça vê-lo como ambientalista.
O que não me espantou foi sua capacidade administrativa. Nos seis anos em que geriu a Serra dos Órgãos, o americano fez o diabo. À frente de uma equipe reduzida, mas motivada e competente, elaborou o Plano de Manejo da Unidade, que na minha opinião, embora ainda seja maior que o desejável, é muito mais enxuto e ligado à realidade operacional do Parque que qualquer congênere das áreas protegidas federais. Mais do que isso, logrou acompanhamento anual e análise da execução das atividades previstas para o período.
Durante sua gestão, a área do Parque foi ampliada em 84%, foi mantida parceria profícua com a Academia, visando a aplicabilidade técnica das pesquisas científicas nas atividades de manejo; foi estruturado um Conselho Consultivo que virou referência para os municípios do entorno e foi implantado um programa de educação ambiental em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Teresópolis, que atendeu cerca de 10 mil escolares.
No que toca a visitação, sua gestão construiu novos centros de visitantes; criou trilhas (inclusive uma passarela suspensa) e ergueu um abrigo de montanha no Açu , além de refomar o deletério Abrigo 4. Tive o prazer de dormir nesse último em recente cabritada à Pedra do Sino.
Ernesto está de mudança para Brasília, onde já foi nomeado para o cargo de coordenador de uso público do ICMBio. A tarefa é dura. Duríssima. Em termos de uso público o SNUC – e as UCs Federais como um todo- está entre os piores sistemas de áreas protegidas em todo o mundo. Falta-nos tudo. Salvo as gloriosas excessões que confirmam a regra, não temos bons hotéis ecológicos nem abrigos de montanha, não temos trilhas de longo curso, nem trilhas de curta duração. As picadas que alguns chamam de trilhas carecem do mais básico dos manejos, pois não contam com sinalização, drenagem, manutenção, controle de atalhos e outras intervenções básicas. Alguns grupos de usuários como os corredores de aventuras e os mountain bikers são demonizados como se fossem grandes inimigos da conservação. Nos faltam mapas e folhetaria. Nos faltam guias especializados. Nos falta sobretudo uma mentalidade aberta que entenda o usuário como um potencial aliado do ICMBio e do SNUC – uma pessoa que, detentora do voto e da cidadania, caso bem recebida em nossos parques, será uma peça a mais na tão necessária alavanca de pressão da opinião pública junto ao Governo por mais orçamento e prestígio no seio da administração pública.
É pedreira, mas não é impossível (afinal até o América já foi campeão). No que depender de mim:
“Hei de torcer, torcer, torcer… Hei de torcer até morrer, morrer, morrer…”
E, meu caro Ernesto, saiba que estarei sempre cobrando. SEMPRE. Daqui há um ano, tenho certeza que já terá trabalho para mostrar, mas não venha me dizer que:
(trilhas, abrigos e centros de visitantes) “Fabricamos aos montes, aos dez”
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