O primeiro dia da COP19 da Convenção-quadro da ONU sobre Mudança do Clima foi como a temperatura em Varsóvia: fria e previsível. A exceção ficou por conta do pronunciamento do chefe da comitiva das Filipinas. Ao lembrar da crítica situação vivida por seu país, atingido por um tufão no último sábado (9), o diplomata Naderev “Yeb” Sano, chorando, anunciou nesta segunda-feira (11) o início de uma greve de fome que deverá durar toda a Conferência. As Filipinas representam bem a realidade crítica dos países insulares, cujos territórios formados por ilhas são mais suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar e a ocorrência de fenômenos climáticos extremos.
Embora não seja um país insular, o litoral brasileiro também pode sofrer com os impactos das mudanças climáticas em curso. Com mais de 8 mil km de extensão, ele foi indicado como área prioritária para receber ações de mitigação e adaptação contra essas mudanças, em um estudo divulgado em outubro por um grupo internacional de cientistas. Na costa do país encontram-se 70% de todas as espécies mundiais de aves e uma população estimada de 120 milhões de pessoas, conforme dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Para a mitigação das mudanças climáticas – no Brasil, nas Filipinas e no mundo – é essencial reduzir globalmente as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs). O embaixador José Marcondes de Carvalho, principal negociador brasileiro na COP19, pronunciou-se sobre essa necessidade durante a coletiva de imprensa da comitiva brasileira no evento. O representante brasileiro afirmou que o país “tem feito a sua parte”, citando a redução do desmatamento, principalmente na Amazônia.
A realidade comentada pelo negociador brasileiro foi apresentada nesta semana, com o lançamento Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Idealizada pelo Observatório do Clima (OC), rede de ONGs que atuam na agenda climática brasileira, essa plataforma independente apresentou quanto o país emitiu de GEEs, por setores econômicos, entre 1990 e 2012.
Os dados confirmaram que o país reduziu o desmatamento na Amazônia, o que contribuiu para a queda de emissões de GEEs, mas também alertaram para um novo perfil emissor, semelhante ao de países desenvolvidos, que o Brasil pode estar assumindo. É importante considerar que esse cenário indica que os setores de energia e processos industriais apresentaram altas acentuadas de emissões, embora o setor agropecuário ainda seja o que mais emite no país.
Ainda em relação ao desmatamento, é notório que os biomas brasileiros continuam sofrendo grande perda de cobertura vegetal nativa, em decorrência da constante pressão antrópica a que são submetidos – fato que se repete em outras nações megadiversas do planeta. No entanto, a julgar pelo primeiro dia de discussões da COP19, percebe-se que, provavelmente, a conservação da natureza ficará cada vez mais distante das discussões relacionadas à redução de GEEs.
Nações insulares, como as Filipinas; emergentes como o Brasil; ou desenvolvidas como a Polônia precisam caminhar juntas no estabelecimento de um acordo global sobre o clima. Precisamos começar agora a delinear os caminhos que nos levarão ao melhor instrumento para atingirmos esse objetivo, definindo, até 2015, o acordo que entrará em vigor após 2020. É preciso agir e evoluir agora.
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