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O esporte mais popular do mundo

Como estamos no Brasil, deveríamos buscar no futebol táticas para enfrentar os desafios no campo ambiental. Meio ambiente e futebol tem muita coisa em comum.

11 de março de 2005 · 19 anos atrás
  • Paulo Bessa

    Professor Adjunto de Direito Ambiental da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

O esporte mais popular do mundo, o futebol, tem muitas lições a nos ensinar, independentemente da qualidade das metáforas nele baseadas. É football association. Ou seja, é uma atividade coletiva e praticada em grupo. É verdade que, muitas vezes, o time está desentrosado, jogadores marcam contra suas próprias redes. Recentemente, Junior Baiano fez um golaço contra (River 1 X 1 Flamengo). O objetivo de todo bom treinador é ter uma equipe bem armada e na qual os jogadores guardem as orientações táticas, se dediquem e, sobretudo, façam prevalecer o espírito de solidariedade e grupo para chegar aos bons resultados. Já sabemos que nome não ganha jogo, pois o “futebol moderno não tem mais bobo.” Entretanto, não raras vezes, “a camisa pesa”, fazendo com que um bom jogador de um time pequeno não tenha o mesmo desempenho em equipes maiores e mais expostas à cobrança da torcida, tais jogadores, quando alçados às equipes maiores, simplesmente desaparecem, são “as eternas promessas”.

Em um país como o Brasil, no qual o futebol é “uma paixão nacional”, todo mundo dá palpite em futebol, pois a maioria está convicta que, devido ao fato de jogar uma pelada no fim de semana, sacudindo indecentemente a pança, isto é suficiente para “palpitar” em futebol. Uma outra particularidade curiosa é que, à semelhança do futebol, as principais questões da vida nacional se dividem em “torcidas”. A área ambiental, no particular, “dá de goleada”. Um time é a favor disso, enquanto o outro é a favor daquilo, em um maniqueísta dilema meirelesiano, refiro-me, obviamente à Cecília, não ao Henrique. “transgênicos X orgânicos”, “transposição X recuperação”, “proteção X desenvolvimento”, “Ibama X CTNbio”, e por aí vai…

Se uma equipe não está bem posicionada em campo, está sem a adequada organização tática, não está ocupando os espaços, é muito comum que os laterais tomem “bolas pelas costas” e, com isto, deixem aberto o caminho para o ponta adversário penetrar na grande área e marcar. Quando o desentrosamento é entre os zagueiros, dizemos que eles estão “batendo cabeça”, “marcando a bola”. Se o ataque é frágil, é porque formado por “armandinhos” e “pipoqueiros”.

Alguns zagueiros se notabilizaram pela técnica refinada como Domingos da Guia que, não obstante ter merecido a alcunha de “divino” era capaz de fazer as chamadas “domingadas” que eletrizavam a torcida e levavam-na a arrancar os cabelos. Jorge Benjor, enquanto ainda era Jorge Bem cantou com saudade de Manguito e imortalizou Fio Maravilha que, devido a “empresários” achou que devia processar o Babulina. Tremendo gol contra. Acabou virando “filho maravilha” e vendendo pizza em Los Angeles. Também, entre os zagueiros surgiu o “Deus da Raça”.

A torcida organizada, cujos inícios se devem ao saudoso Jaime de Carvalho com a pioneira “Charanga Rubro Negra”, acabou virando um caso de polícia – nem todas são verdades -, copiando os Hooligans e afugentando as pessoas de bem dos estádios. Tudo isto nos mostra que o futebol mudou. Na Europa, ele abandonou a fase romântica e hoje é uma atividade empresarial de alto nível, circulando milhões de Euros. No Brasil, diante de suas dificuldades culturais, políticas, econômicas e sociais se transformou em um exportador de jogadores e as suas principais equipes estão se tornando clubes de uma espécie de “segunda divisão mundial”, uma “série B” internacional. Há muitos atletas que saem diretamente do Aterro do Flamengo ou de Mesquita para a Europa, sem terem passado por qualquer clube brasileiro. Por incrível que pareça, o maior acusado da situação – ainda que injustamente – é Pelé, em razão da lei que leva o seu nome.

Políticos se elegem às custas do futebol. Já tivemos a CPI do futebol que não deu em nada, pois os cartolas chegam a formar uma “bancada da bola”. Prisões, evasões de renda, tudo isto, lamentavelmente, ocorre no “violento esporte bretão”. Os nossos estádios precisam do futebol a 1 Real para encher. As camisas de clubes que vendem mais são as de clubes europeus. O futebol, com suas virtudes e mazelas, é um retrato daquilo que somos como País. É um retrato duro, como o de Dorian Gray. As coisas do meio ambiente, suas virtudes e mazelas, não podem ser diferentes. Também aqui existe o desentrosamento, a “bola nas costas”, o “pipoqueiro”, o jogador que sentiu o peso da camisa, a torcida. Enquanto a partida se desenrola, os espectadores que se dividem em “arquibaldos” e “geraldinos” a tudo assistem perplexos. A maioria, entretanto, ingressa no estádio como “Murilo”.

Os futebolistas brasileiros são, sem nenhum favor, considerados os melhores do mundo. Malgré os dirigentes, “nós” conseguimos vencer 5 campeonatos mundiais e chegar às finais de outros dois. É uma marca espetacular. Será que as questões ambientais no Brasil tem algo a ver com o futebol? Estará o treinador “prestigiado”?

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