Em 1988, o ecologista britânico Norman Myers, preocupado em resolver a sempre difícil questão de como priorizar a alocação de recursos escassos para a preservação ambiental ao redor do mundo, criou o conceito de “Hotspots”. A idéia era propiciar aos tomadores de decisão e aos órgãos financiadores uma ferramenta que permitisse hierarquizar as prioridades das políticas de conservação no que toca a investimentos, manejo, pesquisa, criação de áreas protegidas, fiscalização ou educação ambiental.
Inicialmente, Meyers selecionou dez ecossistemas onde havia grande biodiversidade associada a altas taxas de endemismo e cuja área remanescente fosse inferior a 25% da cobertura original. Uma década depois, em 1999, uma pesquisa coordenada pela ong Conservation International (CI), envolvendo mais de 100 cientistas ao redor do mundo, ampliou o número de “hotspots” para 25. Finalmente, em 2005, novas nove áreas foram oficialmente catalogadas como “hotspots”.
Os 34 “pontos quentes”, apesar de ocuparem apenas 2,3% da área total da Terra, abrigam ¾ dos mamíferos e aves mais ameaçados de extinção do planeta, bem como metade da flora e 2/5 das espécies vertebradas já inventariadas pelo homem. Cumulativamente, já perderam 88% de sua área original. Onze deles já perderam 90% de sua cobertura e três ocupam menos de 5% de sua superfície primária. Para ser reconhecido como “hotspot” um ecossistema precisa ter pelo menos 1500 espécies florísticas endêmicas, o que equivale a 0,5 % do total identificado no mundo.
Destes “hotspots”, dois localizam-se no Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado. Como participantes da categoria, estão sendo objeto de tratamento prioritário por parte dos agentes governamentais. Ou pelo menos esse é o discurso oficial. Contudo, ao comparar o esforço de preservação dos ecossistemas brasileiros com o que está sendo feito nos outros 32 ecossistemas enquadrados na mesma categoria, encontramos muitas discrepâncias e, percebemos que é possível fazer muito mais.
Nos últimos anos, o colunista tem procurado visitar os pontos ameaçados ao redor do mundo com o objetivo de verificar as estratégias de salvamento desses pacientes terminais e aprender políticas públicas que possam ser emuladas para melhorar as técnicas de manejo que temos aplicado aos dois ecossistemas mais doentes do Brasil.
Já tratamos destas viagens em colunas publicadas aqui em O Eco. Os de problemas e soluções observados na Nova Caledônia, por exemplo, são tratados em Tão Longe, tão Perto e o caso de Vanuatu, arquipélago integrante das Ilhas Melanésias Ocidentais em Manejo em tempo de guerra. Nas próximas colunas vamos nos debruçar sobre alguns desses outros pontos cálidos da biodiversidade.
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