Meu primeiro contato com uma bicicleta de montanha, ou mountain bike como preferem os que não nutrem muito apreço pela língua portuguesa, foi tardio. Já contava mais de 25 anos e muitos milhares de quilômetros sobre duas rodas. Comecei a pedalar muito cedo, indo para a escola em minha monareta. Adolescente, adotei a bicicleta como meio de transporte para a praia, o curso de inglês, a universidade, as casas dos amigos. Com 16 anos, junto a dois companheiros, fui do Rio a Santos cavalgando uma Calói 10. Com vinte e poucos zanzei pela Holanda e Alemanha em viagens curtas sobre bicicletas alugadas. Apesar de montanhista convicto, sempre resisti a trocar a minha magrela estradeira por uma bicicleta de todo-terreno.
Quando o fiz, foi movimento sem volta. Certa tarde, Flamínio, amigo de longa data, chegou em minha casa pedalando. Ficou, tomamos um pifão e ele voltou para seu apartamento de táxi. Na manhã seguinte, resolvi experimentar sua bicicleta de montanha. Galguei seus pedais e dei uma volta no quarteirão. Pequeno percurso, coisa de três minutos e meio. Voltei em casa, guardei a bicicleta do amigo, peguei a carteira e sai para comprar uma para mim. Nunca mais deixei de pedalar as maravilhosas bicicletas de todo- terreno.
Desde então, percorri trilhas argentinas, chilenas, peruanas, norte americanas, australianas, neo-zelandezas (vide minha coluna Nova Zelândia de bicicleta, Brasil de velocípede, publicada aqui em O Eco), sul-africanas e de diversos estados do Brasil: montado em uma bicicleta, cruzei as picadas da Bocaina, do Cipó, da Chapada Diamantina, do Planalto Central e da Ilha de Marajó, apenas para mencionar algumas. Em Nairóbi, onde vivo hoje, duas a três vezes por semana pedalo pelos caminhos das Florestas de Karura e Sigiria, ambas próximas de casa e repletas de fauna e vegetação multi-colorida.
Mais que tudo, entretanto, competir na 10to4 trouxe a satisfação de saber estar contribuindo para a preservação do Monte Quênia. Dos US$ 30 mil arrecadados na edição 2007 da corrida, US$ 3.600 serão aplicados em cinco escolas da região, outros US$ 3.600 vão ser investidos em ações de fiscalização contra a caça. O resto será gasto com a construção de cercas e a aquisição de um carro 4×4 para ser utilizado em atividades de manejo da região. Além disso, a corrida resultou em uma maior consciência dos quase duzentos ciclistas e cerca de 300 familiares e amigos para os problemas ambientais da região. Não é pouco.
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