Colunas

Uma breve história dos equipamentos III

Os inventores de pára-quedas foram homens muito corajosos, pois desenvolveram equipamentos de difícil testagem. Hoje estes equipamentos primam pela segurança.

1 de julho de 2005 · 19 anos atrás

Pára-quedas. Essa pesquisa está ficando realmente divertida, afinal, os inventores desse esporte eram homens sonhadores, criativos e muito, mas muito corajosos. É curioso analisar os projetos idealizados por eles. Estamos falando agora em criar mecanismos que suportem o peso de um homem e estabilize-o no ar em caso de uma queda livre. Isso, é claro, permitindo uma aterrissagem tranqüila, pois ninguém quer ser esmagado por uma estrutura gigantesca ao chegar ao chão.

Agora é oficial. Virei tiete de Leonardo da Vinci (1452-1519). Não bastasse ser um exímio escalador e desenvolver o primeiro desenho de uma bicicleta, ele foi pioneiro em projetar um modelo de pára-quedas. Infelizmente, ele não foi um homem muito prático e a grande maioria de seus inventos não saiu do papel com ele ainda vivo. Era difícil de imaginar um bom resultado, pois a estrutura proposta por ele era de madeira, e o destemido atleta que resolvesse testá-lo provavelmente não teria uma aterrissagem suave. Mas como diz o ditado: “mente ociosa, oficina do diabo”. O britânico Adrian Nicholas recentemente resolveu testar o modelo do inventor e – pasmem – ele funcionou. Com um detalhe: ao se aproximar do chão, ele se desconectou da primitiva estrutura e desceu com um modelo mais moderno e arrojado, para evitar a, provavelmente mortal, aterrissagem com o equipamento de Da Vinci.

Outros inventores arriscaram um aperfeiçoamento do desenho projetado por Da Vinci, como o croata Faust Vrancic, que saltou da torre Venice em 1617 com o seu “Homo Volans”. Mesmo com alguns arranhões, ele seguiu em frente e registrou em um relatório detalhado, 55 diferentes construções avançadas de pára-quedas (inclusive o seu próprio), propostas por vários autores. Mesmo com a recente experiência com o projeto de Da Vinci, os créditos para a criação do primeiro pára-quedas prático ainda é dado a Sebastien Lenormand, em 1783.

Os protetores dos animais vão adorar essa. O francês Jean Pierre Blanchard arremessou um cão dentro de uma cesta com um pára-quedas amarrado, do alto de um balão, em 1785. O que eu não entendi foi o por que do cão e não de um saco com pedras? Mas o teste não foi em vão. O mesmo equipamento (sem a cesta) salvou sua vida oito anos depois, após uma explosão do balão em que ele viajava. Foi o primeiro registro de utilização de um pára-quedas em uma situação de emergência. O francês foi responsável, posteriormente, por um importante avanço nos materiais e nos modelos de estruturas utilizados. Seu projeto não contava mais com as pesadas e perigosas estruturas rígidas, mas com uma modelagem feita toda em seda. O final do século XVIII foi movimentado por experiências com pára-quedas. Além de Jean Pierre, Andrew Garnerin também entrou para a lista dos primeiros nesse sentido. Foi o autor do primeiro salto efetivamente registrado com um equipamento todo desenvolvido sem estruturas rígidas, além de superar seus predecessores saltando de balões a alturas de 8.000 pés (2.400 metros). Mas nada comparado à contribuição tecnológica que trouxe ao desenhar o primeiro sistema “air lock”, uma costura feita dispondo o pára-quedas em células, que evitam que o ar saia tão facilmente, melhorando a estabilidade do equipamento. O ar entra nessas “células” e infla rapidamente o tecido.

O século XIX trouxe novidades nos sistemas de armazenamento e acionamento do pára-quedas. Em 1887, foi criado o primeiro “cinto de segurança” que atava o atleta ao equipamento, pelo capitão Thomas Baldwin, e logo depois, em 1890, Paul Letteman e Kathchen Paulus inventaram uma forma de carregar o pára-quedas dobrado, embalado e levado nas costas antes de ser liberado. É o container, chamado assim até os dias de hoje. Criaram também o “breakaway”, que é um mini pára-quedas lançado antes do principal, permitindo um acondicionamento correto dentro do container e aliviando o “tranco” da abertura do principal.

Três curiosidades para distrair, que não têm a ver com os equipamentos: os primeiros a saltar de pára-quedas a partir de um avião foram Grant Morton e Albert Berry, em 1911; o primeiro a saltar em queda livre (vide, cair bastante antes de acionar o equipamento) foi Georgia “Tiny” Broadwick, em 1914, e o primeiro acidente fatal ocorreu em 1837, com Robert Cocking (razoável para algo que foi concebido três séculos antes).

E como estão as coisas atualmente? Bem, o pára-quedas é chamado tecnicamente de velame. O skydiver conta com um velame principal e um reserva. O sistema das células desenvolvido no passado ainda é utilizado, mas o corte dos velames ganhou um novo estilo. O antigo corte redondo não possuía o sistema de células, e tinha como único objetivo conter uma massa de ar suficiente para reduzir a razão de queda, segurando o ar sob o tecido do velame. A sua trajetória de queda é só para baixo, sem movimentação horizontal. Os atuais cortes quadrados são mais arrojados, com design de aerofólio, para que o velame seja inflado e sustentado pelo ar que passa nas partes inferior e superior. Esse modelo não retém o ar sob o tecido e por isso precisa de velocidade horizontal para que possa voar.

O container manteve esse nome, mas hoje consiste em um sistema completo de segurança acoplado ao corpo do atleta e à mochila com o velame.

As novidades em segurança são compostas principalmente pelo DAA (Dispositivo de Acionamento Automático) e pelo STEVEN. O primeiro é um sistema que aciona o velame reserva, caso haja uma pane ou inércia por parte do skydiver. Ou seja, mesmo que ele não “puxe a cordinha”, ela é acionada sozinha. Esse dispositivo calcula a altura e razão de queda e, se o atleta não comandar o pára-quedas, ele é automaticamente acionado. O STEVEN é um pouco diferente. Ele comanda automaticamente o pára-quedas reserva, caso o atleta desconecte o principal, mas não toma nenhuma atitude para comandar o reserva, independentemente da altura ou velocidade. Não realiza nenhum cálculo. Simplesmente avalia que não houve o procedimento de comandar o reserva após a eliminação do principal.

Esses dispositivos de segurança deixam o esporte bem mais caro. Ainda sem contar com o altímetro visual, altímetro sonoro, rádios de contato com a base, os mais variados modelos de pára-quedas (para performances mais arrojadas, como os modelos do tamanho de uma toalha de banho ou mais tranqüilas, como “jamantas”) diversos pequenos apetrechos tecnológicos e capacete. Capacete? Sim, parece não servir para nada, mas o tipo mais raro de acidente que pode acontecer é o pára-quedas não abrir. As aterrissagens que podem ser problemáticas.

Com tudo isso, é só se projetar a 16.000 pés (4.800 metros) e se preparar para comandar seu velame a até 2.500 pés (750 metros). Pouco menos que o dobro da altura do Pão de Açúcar. E tem gente que encara… Cá entre nós, mesmo com toda essa tecnologia, acho que ainda preferia encarar o Pão de Açúcar com meia de lã e corda de sisal.

Leia também

Colunas
17 de abril de 2024

Declaração de Barcelona define novos rumos para a Década do Oceano

O encerramento do evento oficializou a primeira conferência da Década do Oceano de Cidades Costeiras que ocorrerá em 2025 na cidade de Qingdao, na China.

Salada Verde
17 de abril de 2024

Marina Silva é uma das 100 pessoas mais influentes de 2024, segundo a Time

Selecionada na categoria “líderes”, perfil de Marina destaca a missão da ministra em prol do combate ao desmatamento ilegal na Amazônia. Ela é a única brasileira citada na lista de 2024

Reportagens
17 de abril de 2024

Em audiência pública na ALMG, representantes da UFMG alertam para impactos da Stock Car

Reunião contou com reitora e diretores da universidade, mas prefeitura e organizadores da corrida faltaram; deputada promete enviar informações a patrocinadores da Stock Car

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.