O Brasil e o Caribe tão parecidos em algumas coisas em outras são o avesso um do outro. Enquanto nosso país é uma massa continental habitada por um povo unido pela língua portuguesa e pelo orgulho da nacionalidade brasileira, o mar caribenho é uma constelação de ilhotas que, embora próximas entre si, têm culturas e idomas diferentes, conformando um mosaico de nacionalidades que se entendem em diversos idiomas e dialetos.
No Caribe há de tudo, desde versões politicamente modernizadas de colônias holandesas, francesas e inglesas como Bonaire, Guadalupe e Montserrat até países independentes e não alinhados como Cuba, passando pelos casos sui generis de Porto Rico e das Ilhas Virgens que não são estados norte americanos, mas também não têm total independência. No arquipélago há quem fale espanhol, francês, holandês, inglês, créole, kriol e papiamento. Os povos têm traços dos colonizadores europeus e dos índios Caribe e Arawak, mas são sobretudo marcados pela genética dos escravos africanos e dos trabalhadores indianos que labutaram tantos anos em suas lavouras. A arquitetura reflete a diversidade e, nas Ilhas Virgens, inclui ainda o estilo dinamarquês, onde mimetiza as casas daquele país nórdico que foi o colonizador do arquipélago antes de vendê-lo para os Estados Unidos.
Do ponto de vista ambiental também há de tudo, desde as secas e inóspitas Bonaire e Aruba, até as luxuriantes Porto Rico e Trinidad e Tobago, isso para ficarmos apenas acima d´água. Todas elas, entretanto, vivem um drama comum: o da acelerada redução de biodiversidade, seja pela desenfreada multiplicação de espécies exóticas invasoras, seja pela perda de habitat para a expansão da indústria turística, principal fonte de emprego e renda das ilhas.
Uma dessas ilhas, Antigua, independente desde 1981, é um bom exemplo da situação que tende a atingir todas elas. A ilha forma com Barbuda um país de 85 mil habitantes e 442 km2 (280km2 para a ilha de Antigua). O nível de vida da população é alto se comparado com outros países em desenvolvimento; seu produto interno bruto per capita alcança US$ 18.100 (o do Brasil é de US$ 10.200 ). O problema é que a fonte de recursos é praticamente uma só: o turismo que responde por 60% da atividade econômica nacional.
Nesse sentido proporcionar infraestrutura e acesso às 365 praias da ilha significa, construir hotéis, restaurantes, estradas e fornecer água a uma população muitas vezes superior à residente. O impacto ambiental é gravíssimo.
Gravidade acrescida pela falta de percepção do problema. Explica-se: em toda sua história, até o recente boom turístico, a Ilha foi utilizada para o cultivo de espécies comerciais exóticas com o objetivo de abastecer mercados estrangeiros. Assim, desde a chegada do homem branco a vegetação nativa que inclui mogno e seringueiras além de algumas espécies diferentes de figueiras e orquídeas, foi cedendo o pouco espaço fértil às plantações de cana-de-açúcar e a espécies de frutas comestíveis como os coqueiros, mangueiras, bananeiras, mamoeiros, abacateiros e goiabeiras, bem como a espécies de valor paisagístico como as acácias, os flamboyants e as buganvílias, entre outras. O passado agrícola ainda se faz muito presente nas repetidas ruínas dos moinhos de vento que processavam as colheitas.
A fauna não sofreu menos. Em meados do século XIX , preocupados com o alto índice de morte entre os escravos, causadas por picadas de cobras peçonhentas, os colonizadores introduziram o mangusto na Ilha. Hoje, após devorarem até a extinção todas as serpentes venenosas do território antiguano, os mangustos se multiplicaram e, sem inimigos naturais, transformaram-se em uma praga. Outra espécie problemática são as cabras. Trazidas da Europa durante a colonização elas se multiplicaram e atualmente vagueam selvagens, comendo os brotos das árvores novas e dificultando os esforços de reflorestamento. O próprio animal nacional é alien. Trata-se de um cervo europeu introduzido pelos ingleses.
Mas nem tudo está perdido, auxiliado pelo Environment Awareness Group of Antigua & Barbuda, o Governo começa a se preocupar em preservar o pouco que restou da natureza insular. Recentemente foi compilada uma exaustiva lista da flora nativa e naturalizada do país e elaborado um livro vermelho das plantas ameaçadas de extinção. Em 2007, com financiamento norte-americano, foi criado um projeto para mapear a localização dos habitats que ainda estão intactos ou pouco alterados e estudá-los cientificamente. Paralelamente foi redigido um documento com fundamentação em pesquisas científicas para ser apresentado ao Parlamento com a recomendação da criação de 12 áreas protegidas, incluindo todos os remanescentes de mangue e de florestas. Por outro lado, em Barbuda, um programa de manejo da população de fragatas que incluiu a criação de um santuário exclusivamente para elas têm sido bem sucedidos.
O único Parque Nacional do País, Nelson´s Dockyard, inicialmente foi criado para proteger o patrimônio histórico de fortalezas e estaleiros navais ali construídos na era vitoriana. Hoje, contudo, também está sendo manejado de acordo com modernos princípios de boas práticas ambientais. Há programas para erradicação de espécies exóticas, reflorestamento, educação ambiental, manejo de cabras e, como não podia deixar de ser, implantação, sinalização e manutenção de lindíssimas trilhas ecológicas, afinal é do turismo que vive o país!
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