Mesmo nos dias atuais, poucas instituições no Brasil, públicas ou privadas, têm como missão o enfoque específico na conservação da natureza. No início da década de 1980, então, o tema era visto como algo irrelevante, uma preocupação de quem “não tem o que fazer”. Essa percepção, por vezes literal, foi enfrentada repetidamente nos primeiros anos da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), fundada em Curitiba no final de 1984, ao tentarmos nos aproximar de outras instituições, e até mesmo de conhecidos, que não davam importância à causa.
É impossível comparar como éramos percebidos no início das atividades da SPVS com os dias de hoje. Embora ainda longe do cenário ideal, uma parcela da população já consegue reconhecer a importância de incluir a conservação de áreas naturais e de sua biodiversidade como prioridade.
Para alguns, isso se deve à valorização crescente do “valor intrínseco da natureza”, alimentada por esforços contínuos de educação e sensibilização. Para a maioria, no entanto, a mudança de perspectiva surge das consequências concretas: a sucessão de eventos climáticos extremos, com enorme potencial de gerar prejuízos sociais e econômicos, que já bateu à porta de muitos.

Dito isso, o cenário evoluiu. Ainda que o processo de degradação continue avançando em todas as regiões do país, instituições como a SPVS, junto a muitas outras, têm desempenhado um papel crucial. Essas organizações do terceiro setor dedicam esforços significativos ao desenvolvimento de práticas inovadoras de conservação, sempre atuando de forma colaborativa com outras frentes.
Um ponto crucial é reconhecer a necessidade de maior diálogo com “o outro”. Historicamente, o termo “conservação” foi estigmatizado como sinônimo de oposição ao desenvolvimento. Essa visão distorcida levou à adoção de linguagens e abordagens mais acessíveis, como o conceito de “produção de natureza”, que sustenta iniciativas como a Grande Reserva Mata Atlântica, uma das ações de maior relevância da SPVS e de seus parceiros.
No documentário lançado no dia 22 de janeiro sobre os 40 anos da SPVS, destacam-se as principais realizações da instituição. O material reúne depoimentos de parceiros públicos e privados, fundamentais para a implementação de ações conjuntas. Além disso, o vídeo alerta para o sentido de urgência em que nos encontramos. Apesar dos avanços, as mudanças não foram suficientes para conter a perda de biodiversidade e o desequilíbrio climático.
Não há mais tempo para progressos lentos. O presente e o futuro demandam uma aceleração significativa na agenda de conservação da natureza. A ideia de esperar que a sociedade, gradativamente, compreenda, assimile e aplique as práticas necessárias para garantir áreas naturais em quantidade suficiente deixou de ser viável. Os prazos agora são curtos e as mudanças precisam ser implementadas com urgência.
Instituições como a SPVS devem adaptar suas estratégias às pressões atuais. Todo trabalho bem-sucedido precisa ser expandido em escala inédita e em um ritmo acelerado. Além disso, é fundamental respeitar as prioridades específicas de cada território, sob o risco de desperdiçar os poucos recursos disponíveis em ações ineficazes.
Nos últimos anos, houve um aumento significativo na percepção sobre a viabilidade de métodos inovadores para atrair investimentos e promover mudanças no comportamento de governos, corporações e da sociedade em geral. Um exemplo disso é o Programa Desmatamento Evitado, criado pela SPVS em 2003, que busca a preservação de ecossistemas criticamente ameaçados, como a Floresta com Araucária e os Campos Naturais, no bioma Mata Atlântica, por meio de arranjos econômicos com proprietários dessas áreas.
Iniciativas similares também têm surgido a partir de vários atores, mas o maior desafio é a implantação de políticas públicas abrangentes, para garantir intervenções em escala suficiente e sustentáveis a longo prazo.
Com o objetivo de envolver o setor privado na agenda de conservação, reconhecendo o valor da natureza para a evolução e manutenção dos negócios, a SPVS colaborou na criação do Instituto LIFE. Essa entidade desenvolveu uma metodologia inovadora para mensurar impactos ambientais não mitigáveis de atividades empresariais, orientando ações adicionais e voluntárias de conservação. Como resultado, foi criada uma certificação de biodiversidade, que apresenta uma solução robusta e eficaz para fortalecer os negócios e ao mesmo tempo contribuir com a conservação.
Para a SPVS e instituições irmãs, não há outra alternativa além de perseverar com qualidade e determinação. No entanto, é essencial reconhecer que os desafios foram amplificados de maneira significativa, devido à magnitude do avanço da degradação e ao pouco tempo restante para mudar os rumos de uma sociedade que ainda não percebeu o custo de sua inação.
Conservar a natureza deixou de ser uma questão opcional; tornou-se uma necessidade imperativa para a sobrevivência econômica e social. Persistir nesse caminho, ampliando esforços, escalas e parcerias, é a única forma de garantir um futuro viável para as próximas gerações.
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Parabéns SPVS pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo!