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Mostra de cinema apresenta a amazônia do passado e do presente

Obra do cineasta Adrian Cowell das décadas de 1980 e 90 estarão em debate junto a documentários contemporâneos. ((o))eco participa com a exibição de Sob a Pata do Boi (2018)

Redação ((o))eco · Marcio Isensee e Sá ·
10 de julho de 2023

A Mostra ‘Adrian Cowell de Cinema Socioambiental: memória e resistência na reversão de décadas de destruição da Amazônia‘ acontece em Porto Velho entre os dias 10 e 14 de Julho, no auditório da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Centro. Com sessões diárias, serão exibidos filmes emblemáticos do cineasta Adrian Cowell e produções fílmicas contemporâneas.

Cowell é um cineasta inglês que aportou pela primeira vez na Amazônia brasileira em 1957. A partir daí, dedicou mais de 50 anos na documentação da região, acompanhando a devastação promovida por grandes obras de infraestrutura e também registrando as belezas naturais, além da cultura dos povos originários. Sua obra é um importante legado documental de uma época e conhecê-la é fundamental para espelharmos o presente e futuro da região. Entre os filmes que serão exibidos na mostra estão: O Caminho do Fogo (1984), Chico Mendes – Eu Quero Viver (1989) e Nas cinzas da floresta (1984).

Para Luis Fernando Novoa, sociólogo e professor do departamento de Ciências Sociais da UNIR, o recorte escolhido para a mostra comprova os crimes cometidos pela política de integração da década de 1980. “A filmografia do Cowell apresenta um método de incorporação territorial em larga escala, que a ditadura militar e empresas estatais e estrangeiras patrocinam”, afirma Novoa. “Esses filmes são uma prova, mais do que detalhada, dos crimes socioambientais que foram cometidos pela ditadura militar e precisamos ativar nossa memória para que nada disso se repita”, conclui.

A programação propõe também um diálogo com produções contemporâneas com a exibição de filmes como: O Território (Alex Pritz, 2022), O Chamado do Madeira (Andrea Rossi, 2008), BR 319: Bem-vindos à Realidade (Gustavo Faleiros, 2018) e Sob a Pata do Boi (Marcio Isensee e Sá, 2018). Esse último filme é fruto de uma investigação jornalística de ((o))eco em parceria com o Imazon. Para Luis Fernando Novoa, juntar esses períodos de produção fílmica é importante para mostrar em perspectiva as ameaças contínuas e ainda presentes na Amazônia. “São evidentes as correlações e continuidades (…). Assim como teve [na década de 1980] o Programa de Integração Nacional na ditadura, tivemos o programa Muda Brasil com FHC [presidente Fernando Henrique Cardoso, na década de 90], depois o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], com Lula e Dilma [entre 2002 e 2016] e agora um novo PAC, e o que se percebe é uma metodologia similar”. Do ponto de vista fílmico, o pesquisador destaca que “olhar [os filmes do] Cowell e a filmografia contemporânea é pensar para onde vamos. Qual a agenda para a Amazônia e como os sujeitos que estão no território podem e devem participar desse processo”.

Frame do filme Sob a Pata do Boi. Foto: Marcio Isensee e Sá (Liberado para divulgação)

Para amazônida ver

A mostra ocorre na capital do estado de Rondônia, Porto Velho, município que sucessivamente aparece entre os recordistas de desmatamento nos monitoramentos de satélite. Embora o eixo Sul-Sudeste sedie a maior quantidade de festivais e mostras de cinema ambiental, é fundamental o acesso do público no território para a inclusão dos atores mais interessados no debate público. “Os festivais acontecerem na própria Amazônia está se tornando uma necessidade, pois não há como imaginar iniciativas de transições justas e populares sem que os atores locais, povos e comunidades tradicionais e suas lideranças possam estar ali discutindo. Junto com organizações, academia, a ideia é que seja um espaço de convergência de estratégias, num contexto de muita incertezas sobre as políticas ambientais”, afirma Novoa.

Essa ideia de inclusão dos atores locais se reflete nos debates propostos na Mostra, que terão a presença de nomes como: Adriano Karipuna; Amanda Michalski (CPT), Txai Suruí-Kanindé, João Marcos Dutra (MAB), Ivaneide Bandeira (Kanindé), além de pesquisadores e professores da Universidade Federal de Rondônia. “Não há como defender a Amazônia sem defender seus povos. Com certeza o Adrian Cowell tinha essa mesma premissa”, conclui o professor Luis Fernando Novoa.

Serviço

Mostra Adrian Cowell de Cinema Socioambiental: memória e resistência na 

reversão de décadas de destruição da Amazônia

Período: 10 a 14 de julho de 2023

Local: AUDITÓRIO DA UNIR CENTRO, Av. Presidente Dutra, 2965, Centro, Porto 

Velho-RO

Entidades Responsáveis: Departamento de Ciências Sociais-UNIR, Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé

Organizações parceiras: Programa de Pós-Graduação em História da Amazônia (PPGHAM) da UNIR

  • Marcio Isensee e Sá

    Marcio Isensee e Sá é fotógrafo e videomaker. Seu trabalho foca principalmente na cobertura de questões ambientais no Brasil.

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