Enfoques ambientais das pautas jornalísticas têm sido destaques nas revistas científicas de Comunicação. É o caso do recente dossiê publicado pela Revista Uninter de Comunicação chamado “Comunicação & Meio Ambiente” organizado pelas pesquisadoras Eloísa Loose e Eliege Fante, ambas do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O dossiê apresenta artigos que exploram diferentes aspectos da comunicação ambiental diante da emergência climática e da crescente desinformação, além de outros estudos de temáticas variadas.
As contribuições recebidas são de pesquisadores de variadas regiões do país. O desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024 e mobilizou a imprensa brasileira foi um dos objetos de estudo mais presentes nos trabalhos submetidos para o dossiê. Outro tema recorrente foi a Amazônia e os desafios para a sua conservação.
No artigo “O jornalismo como contraponto ao negacionismo: a cobertura das queimadas de 2019 no Jornal Nacional após o discurso presidencial”, Lucas Rodrigues Felix e Luciana Miranda Costa analisam como o principal telejornal da TV Globo cobriu os incêndios florestais de 2019 no Brasil após a repercussão de declarações presidenciais minimizando o problema. O estudo evidencia o papel do jornalismo na contestação do negacionismo ambiental e sua contribuição para a conscientização pública sobre a crise climática.
O contexto da desinformação também foi trabalhado por Michele de Souza Fanfa, Camilo Silva Costa e Luiz Caldeira Brant de Tolentino Neto, com o foco na recente crise climática enfrentada pelo estado gaúcho. Tendo a divulgação científica como aliada, os autores analisam no estudo “Os efeitos das mudanças climáticas e da desinformação: o caso das enchentes no Rio Grande do Sul” como a “desinformação e a negação climática se manifestam, se perpetuam e as suas consequências” e apontam a necessidade de uma comunicação eficiente e confiável para lidar com desastres ambientais.
Já Krystal Urbano trabalhou este contexto com a integridade da informação climática. Segundo a Organização das Nações Unidas, integridade da informação refere-se à precisão, consistência e confiabilidade da informação. Ela é ameaçada pela desinformação, pela informação falsa e discurso de ódio. Em “A integridade da informação sobre mudanças climáticas no G20 Brasil 2024: desafios e oportunidades”, a pesquisadora discute a complexidade da comunicação climática no cenário político e diplomático, avaliando a atuação do País ao sediar o G20 em 2024, especialmente no combate à desinformação climática e na promoção de um debate embasado na integridade informacional.
Por fim, o artigo “Confiabilidade e diversidade de fontes no jornalismo ambiental do Correio do Povo (2016-2023)”, de Vanessa Romansin e Cláudia Herte de Moraes, investiga a cobertura ambiental de um dos mais tradicionais jornais do Rio Grande do Sul. A pesquisa examina o grau de diversidade e credibilidade das fontes utilizadas, evidenciando a importância do jornalismo local na construção de uma narrativa ambiental plural e precisa.
Os artigos reunidos discorrem sobre o papel do jornalismo na contestação do negacionismo climático, na promoção da integridade informacional e na construção de narrativas plurais e embasadas cientificamente. O desastre climático no Rio Grande do Sul e os desafios da Amazônia, temas de destaque na publicação, demonstram como a imprensa e a pesquisa acadêmica podem atuar conjuntamente para ampliar a conscientização pública e fortalecer o debate sobre políticas ambientais. Nesse sentido, a produção científica voltada à comunicação ambiental é fundamental para qualificar a informação e contribuir para a formulação de estratégias mais eficazes de enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas.
A confirmação das predições científicas sobre o aumento da temperatura média global e a maior frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos estão obrigando a imprensa a reportar as causas das mudanças climáticas nos distintos meios de comunicação, bem como as organizações em geral a posicionarem-se. Contudo, ainda há bastante espaço para o jornalismo contribuir com o debate público problematizando o modelo de desenvolvimento.
Um exemplo é a cobertura sobre a transição energética. Embora finalmente os governos e os setores econômicos dominantes estejam reconhecendo uma alternativa aos combustíveis fósseis, as energias renováveis igualmente não são limpas, apesar do discurso corrente. É o que provam as denúncias de comunidades tradicionais, pesquisadores de universidades e de outras instituições, os quais merecem receber um espaço maior do que o atual nas notícias.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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