No 9º dia da COP26, a abertura do dia temático de ‘Indústria Brasileira’ no pavilhão oficial do governo federal contou com um painel de início da programação que recebia Joaquim Leite (ministro do Meio Ambiente), Robson Braga (presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria), deputado Marcelo Ramos (vice-presidente da Câmara de deputados) e senador Rodrigo Pacheco (presidente do Congresso Nacional).
A plateia do pavilhão estava marcada pelo mesmo padrão que se tem visto durante todos os dias da conferência: predominantemente homens brancos e mais velhos. Neste dia, contou também com a presença da senadora Kátia Abreu, que participava e assistia entusiasmada e contemplada pelas falas do painel. Em uma janela entre um evento e outro, a senadora recebeu em mãos, da delegação do Engajamundo, uma “Caixa Preta” com a missão (Im)possível de barrar o Projeto de Lei 2.159/2021 – também conhecido “PL do fim do Licenciamento ambiental” e “Pai de todas as boiadas” – do qual a mesma é relatora.
O PL foi construído sem qualquer diálogo com a sociedade civil ou com a ciência, que consideram o Projeto um extremo retrocesso tanto para o cenário ambiental brasileiro quanto para o social. A Caixa Preta foi entregue por uma das jovens indígenas da delegação, inspirada nos filmes de espiões, onde os agentes recebem suas missões em cartas e/ou envelopes. Durante a entrega, falamos brevemente sobre a importância que a senadora cumpra sua missão e quais as implicações do projeto nas vidas dos povos indígenas do Brasil.
A reação da senadora, na verdade, chegou a ser cômica: ela não demonstrou constrangimento nenhum em deixar a boiada passar. Recebeu a caixa de maneira extremamente irônica e com ar de desentendida, ainda questionou “qual PL é esse mesmo?” e acenou com a cabeça sorrindo enquanto recebia a caixa. Depois, a senadora brincou que achou “fofa” a ação e beijou a testa da integrante que estava realizando a entrega, enquanto dizia: “fique tranquila que nada faremos com a nossa Amazônia”.
O posicionamento das promessas brasileiras na COP26 parece que têm tomado o mesmo tom: de deboche, pois parece realmente muito irônico fazer planos que não correspondem com o andamento das políticas ambientais dentro do país, que seguem sofrendo ataques e desmontes constantes. A senadora tem um papel crucial nisso, dado que ela tem o poder de barrar a flexibilização do Código Florestal, legislação de extrema importância para o país.
A reação da senadora é uma ilustração clara de tudo isso. Na COP26, o espaço do Brasil Climate Action Hub, espaço da sociedade civil, e do Pavilhão Oficial do Brasil, dos negociadores oficiais, são separados e realizam diálogos extremamente diferentes, e é isso que o governo brasileiro têm oferecido à juventude: falta de participação, de espaços de fala, de ações eficazes e de seriedade, pois não entendemos o que tem de “fofo” ou “engraçadinho” na destruição ambiental do país e na falta de respeito com os territórios e povos indígenas.
Mesmo que não tenhamos grandes expectativas de que a senadora vá cumprir com a missão que demos à ela, ainda temos esperança que a mesma escolha estar no lado certo da história e barrar essa boiada. Seguiremos acompanhando e cobrando de quem se fizer necessário. Enquanto isso, as juventudes brasileiras estão de olho e entregam o recado da necessidade de ação para além das promessas vazias e irreais.
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