Baú, para os antigos, é canastra-caixa feita à mão para guardar o que há de mais importante. O formato nomeou uma serra originada quando Américas e África ainda eram unidas – a Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais e que há muito tempo guarda tesouros: um dos maiores arcabouços da biodiversidade brasileira, mundialmente conhecida pela riqueza de espécies da fauna e flora. Plantas e anfíbios endêmicos escondidos nos campos rupestres; o pato mergulhão que atrai a atenção de pesquisadores e sinaliza a qualidade das águas; a perseverança do lobo-guará em continuar a existir e o vôo em corte de Galitos, Gaviões-de-coleira e Águias Cinzentas. Excêntrica também em valores culturais e tradições, estas terras escondem histórias de um povo enraizado dignas de Jorge Amado; um jovem que cresceu nas matas e compreende a “linguagem” dos animais; a cidade do “já teve”; a saga dos retireiros, gente que se abriga no topo das montanhas durante o inverno; o santo que fugia da igreja; o segredo do queijo-canastra e do doce joão-deitado; uma cidade onde casamentos foram extintos – todos os habitantes são descendentes de um padre; o casal separado pelo rio. Tudo isso junto, testemunhando o nascimento do Rio São Francisco.
Eu também me tornei testemunha deste universo. Há seis anos, quando percorria os campos da Serra da Canastra para documentar o Lobo-guará com o biólogo Rogerio Cunha de Paula, do Instituto Pró-Carnívoros e CENAP/IBAMA, surgiu a idéia de se fazer um livro sobre a região. O pesquisador detinha todo o conhecimento ambiental de anos de pesquisa; eu, a atração por uma luz natural fantástica e a curiosidade em descobrir meandros deste cenário misterioso. Mas nossa proposta não era abordar apenas o meio ambiente – a Serra da Canastra é bem mais que isso. Foi no vácuo da história humana local que surgiu a jornalista Lais Duarte Mota, que já tinha percorrido a região e documentado justamente o povo, suas histórias e tradições. Formamos um trio que apesar dos olhares, sensações e buscas distintas, fundíamos num mesmo ideal: traduzir em palavras e imagens uma região abençoada por características únicas no quesito ambiental, decorada por pessoas e modos de vida contagiantes. Este esforço a seis mãos acaba de lançar o livro bilíngüe “Serra da Canastra”, com 200 paginas e mais de 140 fotografias, retratando todo este fantástico mundo paralelo que existe nos campos e moradias da Canastra.
Leia também
Novas espécies de sapos dão pistas sobre a história geológica da Amazônia
Exames de DNA feitos em duas espécies novas de sapos apontam para um ancestral comum, que viveu nas montanhas do norte do estado do Amazonas há 55 milhões de anos, revelando que a serra daquela região sofreu alterações significativas →
Documentário aborda as diversas facetas do fogo no Pantanal
“Fogo Pantanal Fogo” retrata o impacto devastador dos incêndios de 2024 sobre o cotidiano de ribeirinhos e pantaneiros e as consequências das queimadas para a biodiversidade →
R$ 100 milhões serão destinados à recuperação de vegetação nativa na Amazônia
Com dois primeiros editais lançados, programa Restaura Amazônia conta com recursos do Fundo Amazônia e da Petrobras →