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Newsletter O Eco+ | Edição #135, Fevereiro/2023

Antas desaparecidas, água negra e reencontros

Newsletter O Eco+ | Edição #135, Fevereiro/2023

19 de fevereiro de 2023

A anta Tapirus terrestris é o maior mamífero terrestre do Brasil, com ocorrência em cinco dos seis biomas brasileiros: não existe mais na Caatinga. Há 30 anos, a espécie está extinta no bioma e ninguém sabe o porquê. Nem a principal referência sobre a espécie no mundo, a pesquisadora e cientista Patrícia Médice. Coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (INCAB-IPÊ), ela conversa com Cristiane Prizibisczki sobre a investigação que ela e uma equipe multidisciplinar formada por biológos, veterinários, comunicadores e especialistas na temática da coexistência humano-fauna farão no mês de março, quando percorrerão cinco estados na expedição “Caatinga – Em busca da anta perdida”.

Considerada como o melhor destino de ecoturismo do País, a cidade de Bonito, assim como a região que a circunda em Mato Grosso do Sul, tem no rio da Prata uma de suas principais atrações: as translúcidas e cristalinas águas, na qual mergulham milhares de turistas todos os anos. Entretanto, esse atrativo, que ajuda a movimentar a economia da região, sofre com o fenômeno de escurecimento das águas. A reportagem de Michel Esquer traz as conclusões de um estudo publicado na revista científica Tropical Conservation Science por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), da Embrapa Pantanal e da University College de Londres (UCL, da sigla em inglês) que se propôs a analisar a relação entre a transparência da água do rio da Prata e a expansão agrícola. “A chuva é o principal fator que afeta a transparência do rio em Bonito, só que quando você tem uma aceleração da expansão da soja o efeito da chuva é multiplicado”, explica o primeiro autor do estudo, o professor Rafael Morais Chiaravalloti.

O Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) foi extinto em abril de 2019 por um decreto do então presidente Jair Bolsonaro, que acabou com diversos colegiados no Brasil. Os principais doadores Fundo Amazônia, Noruega e Alemanha, não concordaram com a mudança e paralisaram os aportes, o que levou ao congelamento do mecanismo. Quatro anos e três meses após seu último encontro, Cristiane Prizibisczki escreve sobre a reunião do Comitê na quarta-feira (15), que contou com a presença de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, e Marina Silva, ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima. A reinstalação do colegiado foi o primeiro passo para o Fundo Amazônia voltar a funcionar. 

Boa leitura!

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Redação ((o))eco

· Destaques ·

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· Conservação no Mundo ·

Um último olhar de lince? Historicamente, os linces ocorriam por toda a Eurásia, mas esses grandes felinos sofreram intensa pressão em muitos países devido à perda de habitat, endogamia, caça furtiva e colisões de trânsito. No século 18, a espécie desapareceu da França e só foi parcialmente restabelecida graças a um projeto de reintrodução suíço nos anos 70. Agora, conservacionistas alertam que a pequena população de linces na Europa está destinada a entrar em colapso, a menos que esforços imediatos sejam feitos para proteger estes animais. Pesquisadores do Centre Athenas coletaram amostras de DNA de linces feridos, mortos ou órfãos entre 2008 e 2020, para formar uma imagem da saúde genética da população. Seus testes revelaram uma alarmante falta de diversidade. Em estudo publicado na revista Frontiers in Conservation Science, os pesquisadores descrevem um nível devastador de endogamia, com dois felinos em acasalamento agora extremamente propensos a serem parentes próximos. “Se nenhum novo material genético for reintroduzido, essa população será extinta, mais uma vez, em menos de 30 anos”, alerta Nathen Huvier, autor principal do artigo.  [The Guardian]

 


 

Elfos, anões e… rãs. Nas correntes de água pura dos Andes tropicais habita uma pequena criatura fantástica pintada com manchas coloridas. A pequena critura, a rã-arborícola do riacho do Rio Negro (Hyloscirtus tolkieni), é nova para a ciência e seu nome homenageia J.R.R. Tolkien, autor de obras famosas de literatura fantástica, incluindo O Hobbit e O Senhor dos Anéis. “A nova espécie de sapo tem cores incríveis e parece que habita um universo de fantasias, como as criadas por Tolkien”, disse Diego F. Cisneros-Heredia, diretor do Museu de Zoologia da Universidade de San Francisco de Quito e coautor do estudo que descreveu a espécie na revista científica ZooKeys. Apenas um indivíduo da espécie foi encontrado, dentro dos limites do Parque Nacional Río Negro-Sopladora. A área protegida criada em 2018 serve como um elo fundamental no Corredor Ecológico Sangay-Podocarpus, lar de muitas plantas e animais raros e endêmicos. Os autores do estudo dizem que pesquisas e monitoramento são urgentemente necessários para entender melhor essa espécie única e avaliar possíveis ameaças à sua sobrevivência, como espécies invasoras, doenças emergentes ou mudanças climáticas. [Mongabay]

 

· Animal da Semana ·

O animal da semana é o Mutum-do-nordeste!

Ave terrícola, originária da Mata Atlântica brasileira densa, mais especificamente da região nordeste. Por dispersar sementes, assume um papel fundamental na regeneração das florestas onde vive e age como um “guardião ambiental”. 🌿

O mutum-de-alagoas foi extinto na natureza desde a década de 70, sobrando apenas alguns indivíduos. Mas com ações de conservação da espécie, através da reprodução em cativeiro e a reintrodução na natureza, em áreas protegidas, no ano de 2019 ela pode voltar ao seu habitat natural. 🌳

Infelizmente em sua área de ocorrência (Mata Atlântica de Alagoas e Pernambuco) existem poucos remanescentes de mata e estes poucos trechos sofrem ainda grande pressão de caça pelos moradores da região. Outra grande ameaça a essa espécie é a consanguinidade, pois os exemplares restantes são parentes próximos. 📌

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra ler •

O Espírito da Floresta | Bruce Albert e Davi Kopenawa

Produzida entre 2000 e 2020 por ocasião de várias exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier, conjuntamente com os habitantes da casa coletiva yanomami de Watoriki, a presente coletânea reúne uma vasta trama de reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico dos Yanomami, evoca, sob diversas perspectivas, as imagens e os sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.

Companhia das Letras

• Pra navegar •

A Floresta Sensível | Museu Paraense Emílio Goeldi

O projeto surgiu como uma proposta de visita guiada a um conjunto de espécies do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. Com o advento da pandemia do novo coronavírus, as visitas presenciais tornaram-se inviáveis, o que nos estimulou a proporcioná-las virtualmente. O objetivo é o de dissolver supostas hierarquias existentes entre os conhecimentos científicos e tradicionais sobre as espécies botânicas aqui apresentadas.

A Floresta Sensível

• Pra ouvir •

Ilustríssima Conversa | Folha de S. Paulo

O podcast entrevista autores de livros de não ficção e intelectuais para discutir suas obras e seus temas de pesquisa.​ No episódio “Boi toma lugar da floresta na cultura da Amazônia, afirma João Moreira Salles”, o autor discute modelo predatório que gera ‘usos vagabundos’ e diz que destruição é marcador de identidade e gesto de poder.

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