O aquecimento global tem provocado mudanças em diversos ecossistemas ao redor do planeta. Debaixo d’água as conseqüências podem ser graves já no final deste século. Tudo porque as emissões de dióxido de carbono na atmosfera provocam mudança no pH das águas e consequentemente um aumento na acidez dos oceanos. Mas um estudo da Universidade de Southampton, no Reino Unido, lança mão da tecnologia para ajudar na preservação dos mares do planeta.
“As nossas simulações computacionais permitem prever o impacto que a rapidez da redução das emissões terá no futuro na acidificação dos oceanos e ajuda a informar que decisões políticas podem ser adotadas para combatê-la”, explica Dr. Toby Tyrrell, um dos pesquisadores responsáveis.
A preocupação é coerente. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera é a maior dos últimos 800 mil anos. Há fortes evidências que foram as mãos humanas as responsáveis por esse recorde. Queima de combustíveis fósseis, desmatamentos, queimadas, poluição… E apesar de tanta fumaça que prejudica nossa atmosfera, esse cenário poderia ser pior.
“Os oceanos absorvem cerca de um terço das emissões de dióxido de carbono, que ajudam a limitar o aquecimento global. Mas a absorção de dióxido de carbono pelos oceanos também aumenta a sua acidez, com efeitos potencialmente nocivos para a calcificação de organismos como os corais e os ecossistemas que eles apóiam”, acrescente o Dr. Tyrrell.
O esquema abaixo explica o cliclo do carbono nos oceanos
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A média do pH da superfície global dos oceanos já diminuiu de cerca de 8,2, em 1750, para 8,1, hoje. Uma diminuição do pH corresponde a um aumento da acidez dos mares. Segundo simulações da pesquisa, a média do pH poderia cair para entre 7,7 e 7,8, em 2100, se as emissões do dióxido de carbono não forem controladas. Caso haja um controle agressivo das emissões, os que moram no mar poderão comemorar. Estima-se que haja um pico de liberação do dióxido de carbono, em 2016, seguido de uma redução drástica de 5% nos anos seguintes. O nível do pH dificilmente atingiria números abaixo de 8,0, no último ano do século XXI.
“Quanto antes soubermos é bom porque essa taxa de mudança seria sem precedentes por milhões de anos. Deve ser uma preocupação a rapidez com que os organismos poderiam se adaptar a essa transformação depois de um longo período de relativa estabilidade no pH do oceano”, aponta o Dr. Tyrrell.
As mudanças no nível do pH dos séculos subseqüentes dependerão de quanto a taxa de emissões de dióxido de carbono podem ser reduzidas a longo prazo. E para isso não há máquina que possa agir no lugar das mentes e mãos humanas. (Thiago Camara)
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