Faleceu nesta segunda-feira (dia 9), um dos maiores especialistas em áreas protegidas em todo mundo. O americano Kenton Miller, que dirigiu nos anos 80 a União Mundial pela Conservação da Natureza (IUCN), foi o mentor de toda uma geração de profissionais dedicados à criação de parques nacionais e outras categorias de áreas protegidas. Miller aconselhou governos de diversos países da América Latina. Ele assessorou pessoalmente a preparação do primeiro plano de manejo feito no Brasil , no Parque Nacional de Brasília.
O planejamento das unidades de conservação foi sempre foco principal das ideias de Miller. Ele foi um dos principais responsáveis por conceber sistemas de áreas protegidas, cujos desenhos foram adotados em estratégias nacionais de proteção da natureza, em especial no Chile e na Costa Rica. O conservacionista foi também um dos pais do conceito de eco-região, uma forma de priorizar áreas que receberiam esforços de preservação. Hoje, o modelo está difundido em diversas propostas das maiores ONGs ambientalistas do mundo, como a WWF e Conservation International.
“Kenton Miller foi único, o verdadeiro papa do planejamento. Nós ficamos orfãos hoje”, comenta a ex-presidente do Intituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e colunista de ((o))eco, Maria Tereza Jorge Pádua, que trabalhou diretamente com Miller nos anos 70. Segundo ela, Miller sabia escutar e trabalhar em parceria com os profissionais dos países que visitava. “Ele conhecia tudo sobre os países, ele era escutado por governos, era uma voz muito importante nos fóruns de conservação”, diz a ambientalista.
Miller nasceu em Chigago, em 1939. Se formou engenheiro florestal pela Universidade de Washington e foi pesquisador na Universidade de Nova York, onde completou seu doutorado. Anos depois, tornou-se professor na Universidade de Michigan, onde criou o primeiro curso voltado ao planejamento de unidades de conservação em todo mundo. Ele também teve forte atuação na Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) e por diversas vezes foi o presidente da Comissão Mundial de Áreas Protegidas (WCPA).
O ex-vice-presidente de Meio Ambiente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e colunista de ((o))eco, Marc Dourojeanni, , ocupou a vice-presidência da WCPA quando Miller era seu principal dirigente. “Além de um conservacionista, ele era um latino-americano a mais: falava nossa língua e escrevia obras que foram lidas por profissionais do continente”, lembra Dourojeanni. O primeiro livro do americano “Planeamiento de Parques Nacionales para o Ecodesarrollo en America Latina” foi publicado em espanhol e é até hoje a bíblia dos profissionais em unidades de conservação .
Miller esteve uma última vez no Brasil em 2008 para um encontro com ambientalistas. Hospedado em Florianópolis, ele visitou a Reserva Biológica do Arvoredo e desfrutou das belas praias da ilha de Santa Catarina. Maria Tereza e Dourojeanni, que o acompanharam durante aqueles dias, contam que ele continuava um otimista mesmo após anos lutando contra o câncer. “Ele acreditava que os jovens iriam resolver os problemas da conservação que enfrentamos hoje”, revela Maria Tereza.
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