Notícias

Presidente do Equador anuncia que explorará petróleo em reserva

Correa usou a TV estatal para chamar o mundo de hipócrita, por não doar dinheiro para que país mantivesse a área de preservação intocada.

Giovanny Vera ·
17 de agosto de 2013 · 11 anos atrás
O Presidente equatoriano Rafael Correa anunciou a exploração de petróleo em Yasuní e ITT. Crédito: Ministério de Recursos Naturais Não Renováveis.
O Presidente equatoriano Rafael Correa anunciou a exploração de petróleo em Yasuní e ITT. Crédito: Ministério de Recursos Naturais Não Renováveis.

O presidente do Equador, Rafael Correa, anunciou na última quinta-feira (15) a desistência da Iniciativa Yasuní ITT, o esforço proposto há 6 anos para evitar a exploração de petróleo no Parque Yasuní. O bloco petrolífero armazenado no local corresponde a 20% da reserva de todo Equador; para não explorá-los, foi firmado um acordo em que a comunidade internacional doaria parte do dinheiro que seria conseguido com a exploração da atividade em troca de manter a área intocada. A iniciativa foi um fracasso.

Foi o que anunciou o presidente em cadeia nacional. Correa lamentou o fim da iniciativa e justificou a decisão de explorar petróleo na reserva, explicando que desde que foi lançado, em 2008, o acordo conseguiu arrecadar apenas 13,3 milhões de dólares, ou 0,37% dos 3,6 bilhões de dólares planejados.

A proposta era para manter indefinidamente as reservas do bloco petrolífero Ishpingo-Tambococha e Tiputini (ITT) sem explorar, estimadas em 920 milhões de barris. No início de 2008, as reservas de ITT estavam avaliadas em 7,2 bilhões de dólares. A comunidade internacional deveria contribuir com pelo menos 3,6 bilhões de dólares, 50% do que receberia o país se explorasse o ITT, como uma forma de compensação pela geração e manutenção de serviços ambientais na região amazônica, onde estão os blocos petrolíferos. Como indicou Correa, “não era caridade o que pedíamos, era corresponsabilidade na luta contra as mudanças climáticas”.

Com o esperado sucesso da Iniciativa Yasuní ITT, seria evitada a emissão de mais de 400 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, ajudando na luta contra as mudanças climáticas e o aquecimento global.

O presidente equatoriano identificou os três maiores fatores para o fracasso: a proposta era inovadora, adiantada aos tempos e que não pode ou não quis ser entendida pelos países responsáveis das mudanças climáticas; o lançamento da iniciativa coincidiu com a pior crise econômica global nos últimos 80 anos; e o fator fundamental, de acordo ao presidente, é que o mundo é uma grande hipocrisia, onde os que mais contaminam não querem contribuir.

Devido ao fracasso da iniciativa, o presidente solicitou à Assembleia Nacional equatoriana, através de um decreto, a declaração de interesse nacional do aproveitamento do petróleo em Yasuní, o que de acordo com o próprio decreto afetaria menos de 1% do parque. Horas mais tarde, o presidente Correa, usando seu Twitter, disse que na verdade a parte afetada do Yasuní será menor que 0,1%.

Segundo ele, o aproveitamento das reservas de petróleo do ITT dará uma renda de 18.292 milhões de dólares, mais de 11 mil milhões adicionais ao total originalmente estimado.

Os trabalhos no campo Tiputini começarão em poucas semanas, logo após a consulta prévia e o processamento das licenças ambientais necessárias, já que 80% deste campo estão fora do Parque Yasuní. A responsável pelas futuras explorações será a empresa petroleira estatal equatoriana Petroamazonas.

 

 

Saiba Mais
Decreto N° 74 – Iniciativa Yasuní ITT

 

Leia Também
Essa Amazônia é deles, os equatorianos

 

 

 

  • Giovanny Vera

    Giovanny Vera é apaixonado pela área socioambiental. Especializado em geojornalismo e jornalismo de dados, relata sobre a Pan-Amazônia.

Leia também

Reportagens
14 de outubro de 2024

Os 45 anos da pedra fundamental da primatologia no Brasil

Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ) completa 45 anos, uma história que se mistura com o desenvolvimento das pesquisas e esforços de conservação de primatas no país

Reportagens
14 de outubro de 2024

BR-319, a estrada da discórdia na Amazônia

Pavimentação da rodovia expõe queda de braço dentro do próprio governo, que avança aos poucos com obras entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM), a despeito do caos ambiental na região

Notícias
14 de outubro de 2024

Fogo acaba com 71% da biomassa da floresta amazônica em apenas duas passagens

Incêndios recorrentes alteram a estrutura física, a diversidade e a composição das espécies, podendo levar a floresta ao colapso, mostra estudo

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.