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Uma barreira no caminho das florestas no Peru

Florestas de altitude buscam regiões altas para suportar aumento da temperatura, mas não vão conseguir acompanhar o ritmo do aquecimento.

Vandré Fonseca ·
16 de setembro de 2013 · 11 anos atrás
 
Área de transição é um obstáculo para que as florestas do Peru se movam para altitudes maiores e consigam se adaptar às mudanças climáticas. Foto: Divulgação.
Área de transição é um obstáculo para que as florestas do Peru se movam para altitudes maiores e consigam se adaptar às mudanças climáticas. Foto: Divulgação.

Manaus, AM – As ricas florestas de altitude do Peru possuem um mecanismo natural que permite suportar períodos de aumento da temperatura. Em épocas mais quentes, as árvores começam a brotar em locais mais elevados, fazendo com que a floresta migre para ambientes de temperaturas mais amenas. Mas mesmo com essa capacidade, o aquecimento global deve ter efeitos desastrosos sobre a biodiversidade da região.

Para acompanhar o incremento de 5 graus na temperatura média da região previsto até o final do século, as florestas andinas teriam de apertar o passo e subir mais de novecentos metros até 2100. A má notícia é que elas não vão conseguir. Existe um obstáculo no caminho: o ecótono, uma paisagem de transição entre matas e pastagens, que não se move na mesma velocidade e, segundo especialistas da Forest Wake University, deve barrar a escalada das árvores.

Os pesquisadores ainda não têm certeza do que faz desta área de transição um obstáculo tão duro para a floresta, mas desconfiam que seja uma combinação de fatores como o fogo usado para a abertura de pastagens e a baixas taxas de crescimento das plantas na região. Mas estão certos de que a floresta não consegue transpor o ecótono. “Os trabalhos anteriores que fizemos mostram que as árvores da floresta estão migrando para cima, mas este mostra que o ecótono não”, afirma o professor de Biologia da Universidade, Miles Silman. “O ecótono representa uma parede para a migração das espécies”, completa.

De acordo com os cálculos dos estudiosos americanos, a floresta demoraria 3.750 anos para se mover os quase mil metros de altitude necessários para se adaptar às novas temperaturas. Isso no caso das áreas protegidas, porque em áreas que não têm proteção legal este tempo poderia ser de 18 mil anos. O resultado dos estudos realizados pela universidade americana, publicado na edição de 11 de setembro da revista científica PlosONE, indica ainda que a população de espécies de árvores possa ser reduzida entre 53% e 96% devido ao aumento da temperatura na região.

O estudo utilizou fotos obtidas pela Força Aérea Americana em 1963 do Parque Nacional Manu e áreas sem proteção legal, que foram digitalizadas pelo Serviço Geográfico Nacional do Peru. Foram usadas também imagens do satélite Quickbird e projeções para o clima da região feitas a partir de modelos matemáticos. A pesquisa é a primeira a abordar as taxas de migração das árvores dos Andes, com imagens de alta resolução.

As encostas orientais dos Andes formam uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta.  Por lá, é encontrado cerca de um terço das espécies de mamíferos, pássaros e anfíbios encontrados no país sul-americano. Mas cientistas acreditam que, devido à dificuldade de acesso, apenas uma fração das espécies de árvores e animais dessa rica região foram descobertos.

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